Política

Bolsonaro muda discurso e diz que comitiva vai a Israel tratar de vacina





O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mudou o discurso e anunciou a comitiva do governo a Israel como uma missão destinada a tratar de vacinas. Nos últimos dias, ele afirmou que a intenção era falar sobre um spray nasal ainda em estudos preliminares. Em um vídeo de 2 minutos publicado hoje, Bolsonaro e os membros da comitiva sequer mencionaram o produto, citando apenas "medicamentos", de forma genérica.

O grupo tem dez pessoas e embarcou hoje para Israel. Eles são liderados pelo chanceler Ernesto Araújo. Bolsonaro esteve no embarque.

Na quarta-feira (3), por exemplo, o presidente anunciou três medidas que defende para enfrentar a segunda onda de coronavírus que atinge o Brasil: vacinação, tratamento "precoce", que não tem comprovação de eficácia, e a viagem a Israel em busca do spray nasal.

Hoje, o presidente destacou que a meta é "mais do que um intercâmbio". "Estamos buscando protocolos, acordos, na área de ciência e tecnologia, que será muito proveitoso para o momento que vivemos, o vírus, como um legado para o futuro", afirmou Bolsonaro, no vídeo divulgado por ele em redes sociais. "Tem uma vacina brasileira em desenvolvimento", comentou o presidente, quando acrescentou que os estudos nacionais serão levados a Israel.

O secretário de Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência e Tecnologia, Marcelo Morales, disse que o objetivo é tratar de medicamentos e vacinas. "O objetivo é levar (...) para fazer esse acordo de cooperação em várias áreas de conhecimento, inclusive de medicamentos e vacinas, que estamos desenvolvendo", esclareceu.

Morales disse que três das 15 vacinas brasileiras em estudo estão em fase mais adiantada - tema que será discutido em Israel. "Se tivermos uma mutação no Brasil, podemos adaptar a vacina à nova mutação", afirmou. "Temos a possibilidade de fazer essa interação com as vacinas sendo desenvolvidas em Israel."

Morales disse que as três vacinas devem entrar em ensaios clínicos com pacientes no mês que vem. Ele afirmou que uma delas "já deu entrada na Anvisa". Consultada pelo UOL, a agência negou a informação.

O órgão afirmou que mantém contato com os centros de pesquisa das universidades UFMG, UFRJ e USP, esta última parceira de laboratório dos EUA. Todas as análises estão em fase pré-clínica, com teses em animais. Não houve pedidos para estudos em pessoas. "A Anvisa não recebeu nenhum pedido formal de autorização de estudos no Brasil para essas três vacinas", disse a assessoria à reportagem.

Filho e amigo do presidente participam de viagem

O grupo que vai a Israel tem dez pessoas: o embaixador Ernesto Araújo, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto, o secretário Marcelo Morales, o servidor Max Guilherme Machado, o assessor especial Filipe Martins, o secretário especial de Comunicação Social do Ministério das Comunicações, Fábio Wajngarten, o embaixador Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega e Pedro Paranhos, do Ministério das Relações Exteriores.

Completam o grupo um dos filhos e um dos amigos do presidente, respectivamente os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Hélio Lopes (PSL-RJ).

Depois do vídeo, o presidente voltou às redes sociais e tratou de vacinas novamente, sem mencionar o spray.

Horas depois do vídeo e da publicação do pai, pouco antes das 15h, o deputado Eduardo tratou do spray. "O spray nasal EXO-CD24 desenvolvido em Israel obteve quase 100% de sucesso nos primeiros testes", afirmou o filho do presidente.

TCU questionou gastos

Os custos da viagem não foram divulgados. O investimento na missão vem sendo criticado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) porque o spray ainda está em fase inicial de estudos. Ou seja, mesmo que o remédio funcione no futuro, neste momento, seria cedo para despender dinheiro com passagens áreas, hotéis e alimentação no exterior.

O EXO-CD24 é destinado a pacientes em estado grave com coronavírus. As análises estão apenas no início, pois faltam análises com placebos e dados de eficácia. O placebo é uma imitação do remédio testado mas sem o conteúdo do próprio remédio - ele serve para comparar os resultados em que tomou o spray com quem apenas imaginava estar usando o medicamento.

"Há esperanças", diz pesquisador

"Não se pode dizer que o tratamento é efetivo com base em apenas em 35 pacientes, mas há esperanças", afirmou Nadir Aber, responsável pela pesquisa, em entrevista ao UOL.

Quando chegasse a fase 3 dos estudos clínicos, o spray poderia ser testado no Brasil, tem dito Bolsonaro nos últimos dias.

O remédio ficou conhecido após estudiosos do Centro Hospitalar de Tel Aviv informarem que o fármaco foi aprovado nos primeiros testes executados.

Fonte: UOL