Cultura

Marabaixo é cultura do Amapá de fato e de direito





 

Dia 16 de junho é instituído dia do Marabaixo, a data visa o reconhecimento oficial por parte do Poder Público, para a importância da mais autêntica manifestação cultural do Amapá.

 

O Marabaixo é, atualmente, a manifestação cultural de maior visibilidade no Estado do Amapá. Símbolo de fé e resistência da população negra local, ele reúne elementos como a dança, religiosidade e ancestralidade de origem africana em suas manifestações.Divide-se, basicamente, em dois momentos. O primeiro é marcado por rezas, ladainhas, promessas e oferendas. O segundo e mais conhecido, são as rodas de Marabaixo, com danças e cantigas acompanhados pelos sons das caixas, além da saborosa gengibirra e o caldo, que garantem fôlego e disposição aos praticantes e curiosos.

O significado da palavra advém da memória dos mais velhos sobre a travessia desumana de milhares de pessoas retiradas de suas terras, forçadas à condição de escravidão e transportadas para o Brasil pelos navios negreiros mar a baixo. Posteriormente, com a aglutinação das sílabas, deu-se origem a palavra Marabaixo. Durante anos, a prática desta manifestação foi combatida por membros do Estado e da Igreja Católica no antigo Território Federal do Amapá (TFA). Hoje, a manifestação cultural é símbolo de fé e resistência da população afroamapaense.

Segundo a pesquisadora negra Piedade Lino Videira, a maioria das festas praticadas nas comunidades negras do Amapá estão ligadas ao calendário religioso católico. A Festa do Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade são o destaque, pois marcam os festejos do Ciclo do Marabaixo, realizados anualmente, nos bairros do Laguinho e Santa Rita, área conhecida historicamente por Favela.

No Laguinho, festeja-se o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade, e na Favela, a Santíssima Trindade dos Inocentes e Festa de São Tiago com as cavalhadas tradicionais, que representam a guerra entre mouros e cristãos. Nas áreas de Quilombos locais, destaca-se a Festa de Nossa Senhora da Piedade no Igarapé do Lago, Festa de Nossa Senhora do Carmo no Maruanum e a festa de São Joaquim no Curiaú. Elas são acompanhadas por cantigas, folias para os santos e ladainhas em latim.

Este ano, o tradicional Ciclo do Marabaixo homenageou a matriarca Natalina Costa e iniciou no dia 31 de março, no sábado de aleluia. O evento ocorreu simultaneamente em dois tradicionais barracões da cidade, Barracão da Dica Congó e no Barracão da Tia Gestrude Saturnino, e levou muita alegria e tradição aos marabaixeiros e não marabaixeiros. O ciclo se estendeu por dois meses e encerrou no dia 03 de junho com a derrubada do mastro e o corte dos galhos de murta, que o enfeitam.

“Verificamos que os barracões estão ficando pequenos para o público numeroso que vem acompanhando as atividades. Mesmo sem apoio do poder público, a população atendeu ao nosso chamado. As pessoas dançavam, acompanhavam os ladrões. Por isso, avaliamos que o Ciclo do Marabaixo deste ano foi muito bom”, disse Elízia Congó, representante do movimento de Marabaixo, ao Jornal do Dia.

“Nós tivemos grandes avanços, com a participação de novas pessoas nas atividades e divulgação do Marabaixo em outros locais, por exemplo. Mas, ainda, há muito a ser feito. O Marabaixo, cultura do Amapá de fato e de direito, deve ser transformado em Patrimônio Imaterial do Brasil até o final do ano”, reforçou.

O Dia Estadual do Marabaixo é comemorado no dia 16 de junho.A data foi instituída pela Assembleia Legislativa, em 2015, e visa o reconhecimento oficial por parte do Poder Público, para a importância da mais autêntica manifestação cultural do Amapá.“A instituição do Dia do Marabaixo é importante para o respeito, mas é preciso dar visibilidade. As pessoas precisam saber o que é o Marabaixo, o porquê da data e a importância para a cultura do Estado do Amapá. O Marabaixo precisa estar nas escolas”, finalizou Elízia.

 Redação