Saúde

Vacinação precisa aumentar 11 vezes no Brasil para conter covid em 1 ano





Para o Brasil conter a pandemia em até um ano, a vacinação no país precisará chegar a 2 milhões de pessoas por dia, de acordo com os cálculos de um estudo publicado em fevereiro pelo Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei).

Com média de 185 mil imunizações por dia —considerando as 5.756.502 de doses aplicadas entre 18 de janeiro e 19 de fevereiro—, o Brasil precisaria aumentar 10,7 vezes a quantidade de pessoas vacinadas por dia para conter a pandemia em um ano.

Essa meta pode demorar a chegar já que algumas cidades estão parando de vacinar contra a covid-19 por falta de doses, e o Ministério da Saúde deverá ter apenas 5,6 milhões das 11,3 milhões de doses esperadas para o mês de fevereiro.

Quando a meta for atingida, porém, os casos ativos devem variar de 8 mil —com uma vacina 50% eficaz— a 201 com um imunizante 90% eficiente. "Nesse ritmo, a pandemia estaria controlada após um ano da vacinação, independentemente da eficácia da vacina", diz o estudo.

Para chegar ao resultado, os pesquisadores usaram um modelo computacional que utiliza entre seus parâmetros a velocidade com que as pessoas são imunizadas e a eficiência da vacina.

Com uma taxa de vacinação de 100 mil pessoas por dia —índice apenas recentemente ultrapassado no país—, o número de casos ativos ainda seria alto (85.135 casos) e a pandemia poderia perdurar por mais de dois anos, segundo as simulações.

200 mil vidas salvas

Mas caso a vacina chegue a 2 milhões de pessoas a cada dia, cerca de 191.110 vidas seriam salvas em um ano com uma vacina 50% eficaz. Com um imunizante 90% eficiente, a quantidade de vidas preservadas chegaria a 226.473.

"Para salvar essas vidas temos que conseguir vacinar cerca de 100 milhões de brasileiros até o final do mês de maio, início de junho", afirmou à UFJF Rodrigo Weber, um dos autores do documento. "Quanto mais postergarmos essa data, mais vidas serão perdidas e menor será o impacto da vacina no número de óbitos ao longo do ano."

"Brasil falhou"

Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, o infectologista Marco Aurélio Sáfadi diz que, de fato, a imunização no país "está muito lenta", embora "o PNI (Programa Nacional de Imunização) tenha estrutura e expertise".

"O que não tem é vacina", afirmou ao UOL. "Em 2008, a gente vacinou quase 70 milhões de brasileiros contra a rubéola em poucas semanas. Para a covid, esse target é de aproximadamente 80 milhões de pessoas. Isso nem é diferente do que a gente vacina todo ano contra a gripe comum."

Ele explica que uma cobertura rápida de vacinação "oferece um obstáculo ao vírus e ainda dificulta o surgimento de novas variantes" do coronavírus.

O Brasil falhou no ano passado ao não fazer acordos abrangentes para que tivéssemos mais vacinas ao nosso alcance. De qualquer forma, o distanciamento não perde importância nem mesmo com a vacinação em massa
Marco Aurélio Sáfadi, infectologista

Fonte: UOL