Cotidiano

Robô da Nasa já está em Marte: como foram os "minutos de terror" do pouso





Os cientistas da Nasa agora podem respirar aliviados. O rover (robô sobre rodas) Perseverance, da missão Mars 2020, acaba de pousar com sucesso na superfície de Marte. O processo todo foi finalizado às 17h56 (horário de Brasília), quase sete meses após a nave deixar a Terra, em julho do ano passado.

O momento mais tenso foram os "sete minutos de terror", tempo entre a entrada na atmosfera do planeta em altíssima velocidade e o pouso em si. Agora, Marte conta com três missões espaciais acontecendo ao mesmo tempo. China e Emirados Árabes Unidos chegaram antes "na região".

Como foi o pouso

Primeiro, cerca de dez minutos antes da chegada, o conjunto se livrou da nave em si — a parte que o guiou até lá —, virando uma espécie de disco voador. Então, atingiu o topo da atmosfera de Marte a uma velocidade absurda de mais de 20.000 km/h.

Um escudo térmico protegeu tudo das altíssimas temperaturas causadas pelo atrito, que libera muita energia. Ao chegar às camadas mais baixas, o veículo foi se guiando e estabilizando, com ajuda de propulsores. Quando estava lento o suficiente, foi lançado um enorme paraquedas supersônico, para frear a descida.

O escudo, não mais necessário, foi solto, para liberar a visão do solo. Isso expôs o rover, preso embaixo de um foguete circular. Os propulsores funcionaram com mais força, para reduzir a velocidade até míseros 2 km/h.

Então, o rover foi colocado delicadamente em solo, pendurado por três cabos, em uma espécie de guindaste aéreo. Ele pousou na cratera Jezero, de 40km de diâmetro e 500m de profundidade, que há mais de três bilhões de anos foi um lago marciano. Se já existiu vida no planeta, mesmo que apenas atividade microbiana, este é o local com mais chances de guardar evidências.

Temos apenas uma imagens do procedimento, pois a transmissão de dados é muito prejudicada durante a descida. Nos próximos dias, a Nasa deve divulgar mais fotos e vídeos em alta resolução.

Este é o quinto rover da Nasa a pousar no planeta vermelho, após: Sojourner (1997), Spirit (2004), Opportunity (2004) e Curiosity (2012). Todos ainda estão por lá, mas apenas o último ainda "vivo" — os outros pararam de operar ou perderam comunicações após algum incidente, como falta de bateria ou atolamento.

Perseverança

O Perseverance, um moderno rover de US$ 2,4 bilhões, é diferente de qualquer outra missão que já foi a Marte. Do tamanho de um carro SUV e pesando cerca de uma tonelada, sua aparência lembra muito o Curiosity, com pernas com seis grandes rodas, longo braço robótico para coletar amostras, e uma "cabeça" com câmeras e sensores.

Mas o novo rover abriga sete tecnologias muito mais avançadas, ou totalmente inovadoras. Além de realizar experimentos in loco, o Perseverance vai coletar e embalar amostras do solo marciano, que serão trazidas para a Terra. Na "mão" dele há uma broca especialmente desenvolvida para a missão, capaz de extrair núcleos de rochas intactos — e não pulverizados, como seria o normal.

Pelo menos 40 rochas intactas, de diferentes locais da cratera Jezero, serão colocadas dentro de tubos, em um complexo sistema de armazenamento. Esses tubos serão deixados na superfície de Marte, para serem coletados por missões futuras. Este deve ser o maior desafio da Nasa nos próximos anos — as amostras devem chegar aqui só depois de 2030.

Diferentemente dos rovers anteriores, que buscaram água ou exploraram a química da atmosfera e do solo, o Perseverance é equipado para detectar vida diretamente — seja atual ou fossilizada. E suas 23 câmeras e microfones de alta definição prometem capturar detalhes nunca antes vistos do planeta vermelho.

Mesmo assim, trazer as amostras para a Terra é essencial para avançarmos nas pesquisas de vida interplanetária e formação do Sistema Solar. Nos laboratórios daqui, será possível fazer análises mais detalhadas. Também é algo que pode expandir os limites da exploração espacial das próximas décadas.

O Perseverance deve realizar seus experimentos em Marte por, pelo menos, 687 dias terrestres (um ano marciano). Ele é movido por um reator com núcleo de plutônio, capaz de produzir energia elétrica por até 14 anos. Energia solar foi descartada após o incidente com o Oportunity, que ficou inoperante após 16 anos em Marte — uma tempestade de areia cobriu seus painéis solares.

Outra novidade é um mini helicóptero, chamado Ingenuity (Engenhosidade). A aeronave de 1,8 kg vai ser liberada da "barriga" do rover, assim que um local ideal para isso for encontrado. É uma demonstração de tecnologia, para ver se um helicóptero consegue voar fora da Terra, no ar rarefeito de Marte. Se bem-sucedido, abrirá portas para a exploração aérea dos planetas em futuras missões.

Corrida espacial

Outras duas sondas chegaram recentemente à órbita de Marte. Mas Perseverance é, de longe, o mais complexo e ambicioso projeto entre os três.

A Tianwen-1, da China, é uma nave de cinco toneladas, composta por um orbitador (que está girando em torno do planeta, captando imagens de alta definição), um rover de 250kg (que deve aterrissar na superfície de Marte em maio) e um módulo para pouso.

O robô vai explorar uma região chamada Utopia Planitia, a maior cratera de impacto do Sistema Solar, com diâmetro aproximado de 3300 km, causada por algum enorme asteroide. É o mesmo local onde a sonda Viking 2, da Nasa, pousou em 1976.

Ele não é preparado para coletar amostras ou detectar vida, mas vai obter novas informações sobre o planeta, como camadas geológicas, depósitos de sal, evidências de gelo e de um suposto lago subterrâneo, além de possíveis indicadores de atividade biológica microbiana.

Já missão Hope, dos Emirados Árabes Unidos, é mais simples. Uma sonda no estilo de um satélite para, principalmente, estudar a atmosfera e captar imagens de alta resolução do disco inteiro do planeta. Três instrumentos estão observando, entre outros, como os átomos neutros de hidrogênio e oxigênio - reminiscentes da água que um dia teria sido abundante no planeta - escapam para o espaço.

Fonte: UOL