Cotidiano

EUA voltam ao Conselho de Direitos Humanos com agenda "anti-Damares"





Dando fim a uma ausência de três anos, o governo americano anunciou nesta segunda-feira em Genebra que irá retornar ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. A decisão reverte uma postura do governo de Donald Trump, que acusava o órgão de ser um palco de acusações contra Israel e de promover países como Venezuela ou China.

Entre os diplomatas brasileiros em Brasília, a pauta de Joe Biden promete ser radicalmente diferente da postura do governo de Jair Bolsonaro, principalmente em temas de costumes. "É uma agenda anti-Damares", ironiza um experiente negociador no Itamaraty, numa referência à ministra da Família, Mulheres e Direitos Humanos, Damares Alves.

A diplomacia de Joe Biden deixou claro, em seu discurso, que o órgão precisa passar por reformas e que o funcionamento é questionável. Mas a avaliação da Casa Branca é de que abandonar o debate e deixar o espaço para outros países não traz resultados.

Num primeiro momento, Biden retornará na condição de observador. No final do ano, porém, Washington apresentará sua candidatura ao Conselho, formado por 47 países.

O gesto não ocorre no vácuo. Em apenas poucas semanas no governo, Biden já anunciou o retorno dos EUA à Organização Mundial da Saúde, ao Acordo do Clima de Paris, indicou que poderá reconsiderar a situação na Unesco e um restabelecimento do acordo nuclear com o Irã.

A volta dos americanos ao Conselho de Direitos Humanos, porém, poderá significar um desafio extra ao Itamaraty e para Damares Alves. O governo brasileiro havia adotado uma postura ultraconservadora, propondo linguagens em resoluções que visavam limitar direitos, principalmente de mulheres e restrições sobre acesso à educação sexual.

Avançar na direção oposta do Brasil nesses temas estarão no centro das preocupações dos EUA no Conselho. A pauta LGBT também era vista com hesitação pelo governo brasileiro. Já Biden desembarca com uma agenda progressista em todos esses temas.

No que se refere à situação de Israel, pode haver ainda uma coincidência de posições entre americanos e brasileiro. O mesmo pode ocorrer no que se refere às denúncias contra a China.

Fonte: UOL