Cotidiano

Com risco baixo de contágio em superfícies, estudo contesta esforços em limpeza





Embora não seja impossível, contrair o novo coronavírus ao tocar em superfícies algo é raro. É o que aponta estudos liderados pelo professor de microbiologia da Rutgers University Emanuel Goldman e que alertam sobre a necessidade de focar esforços e recursos no combate à disseminação aérea do vírus.

A revista científica Nature destacou o trabalho do professor para contestar o trabalho que tem sido feito por agências sanitárias, ao dispersar esforços no combate à proliferação do vírus dizendo que a limpeza de superfícies deve ser frequente.

Em artigo publicado na edição da última quinta-feira (4), a revista aponta que a atitude de algumas agências de saúde de enfatizar que as superfícies representam risco estão no caminho oposto ao que aconselham os estudos. “O resultado é uma mensagem pública confusa”, afirma o texto. “É necessária uma orientação clara sobre como priorizar os esforços para prevenir a propagação do vírus.”

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou orientações em outubro do ano passado alertando sobre a necessidade de evitar tocar em superfícies em lugares públicos, os chamados fômites, que são objetos inanimados capazes de reter organismos vivos, como um vírus. A OMS reconheceu, em janeiro deste ano, que há evidências limitadas da transmissão do vírus via superfícies, mas ainda mantém em suas comunicações oficiais destaque para a afirmação de que o fômites são “considerados um possível modo de transmissão”.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, responsável por emitir os protocolos de combate ao coronavírus, também aconselha, em seu site, a “frequente desinfecção de superfícies e objetos tocados por várias pessoas”.

A publicação científica afirma que, apesar de não estarem incorretos, os alertas causam confusão nas pessoas e nas organizações quando essas precisam escolher onde concentrar esforços. “Essa falta de clareza tem implicações sérias. Pessoas e organizações continuam concentrando esforços na desinfecção dispendiosa (de objetos), quando poderiam colocar mais recursos para enfatizar a importância das máscaras e apostar em medidas para melhorar a ventilação”, detalha o texto.

Quando o assunto é orçamento público, a aplicação correta de medidas preventivas é ainda mais urgente. A Autoridade Metropolitana de Trânsito de Nova York estima gastar cerca de US$ 380 milhões até 2023 com medidas para combater a proliferação do vírus, e pediu ao governo americano conselhos sobre se deve focar esforços exclusivamente na contenção de aerossóis ou também incluir na conta a higienização de superfícies.

Baseada nos estudos de Goldman, a publicação científica indica que, como a proliferação do vírus se dá quase totalmente pelo ar, na disseminação de gotas grandes e pequenas de saliva e secreção nasal, “os esforços para prevenir a propagação (do vírus) devem se concentrar em melhorar a ventilação ou instalar purificadores de ar rigorosamente testados. As pessoas também devem ser lembradas de usar máscaras e manter uma distância segura”, diz a revista.

O texto destaca ainda a necessidade de as autoridades sanitárias, como OMS e CDC,  atualizarem suas recomendações, deixando claro que a contenção do vírus será obtida não pela limpeza de objetos, mas por medidas que evitam a inspiração de ar contaminado.

Fonte: CNN Brasil