Política

Biden enfrenta dilema para reparar erro de Trump com famílias separadas na fronteira





Em seu desafio mais complexo para reverter política de “tolerância zero” de seu antecessor a imigrantes, presidente cria força-tarefa para reunir pais e filhos, mas precisa definir se deportados entrarão novamente nos EUA.

O presidente Joe Biden tenta desatar um emaranhado capítulo na conturbada política de imigração dos EUA -- a cruel separação de pais e filhos na fronteira Sul, que ele espera reunir por meio de uma força-tarefa monitorada pela primeira-dama Jill Biden. Trata-se de um esforço hercúleo, talvez inalcançável. 

Há mais de 600 crianças separadas, cujos pais não foram encontrados. Há numerosos casos de deportados, que foram localizados em seus países de origem, mas há três anos não conseguem se juntar aos filhos. E ainda crianças que estão sendo deportadas enquanto os pais tentam obter residência legal nos EUA.

Desde 2017, autoridades americanas não conseguiram contato com os pais de 545 crianças imigrantes separadas da família pela política anti-imigração de Trump, nos Estados Unidos. 

Para entender essa bagunça, é preciso voltar à política de “tolerância zero”, do governo Trump, que em 2018 separou 3 mil filhos de seus pais na fronteira com México. Um ano antes, um programa piloto já havia feito o mesmo com mil famílias em El Paso, no Texas. As organizações de defesa de imigrantes calculam que mais de 5.500 menores de idade foram afastados dos pais. 

Num dos primeiros atos de seu mandato, Biden rescindiu formalmente a política restritiva contra a imigração ilegal praticada pelo antecessor. Suspendeu a construção do muro na fronteira com o México, derrubou o veto a cidadãos de cinco países muçulmanos e propôs ao Congresso um projeto que abre caminho para a cidadania de 11 milhões de imigrantes sem documentos que vivem nos EUA. 

Milhares de requerentes à imigração ainda são obrigados a permanecer no México, em condições críticas, enquanto aguardam a decisão judicial para entrar nos EUA. Trata-se de outra distorção difundida no governo Trump e que será revista pelo atual governo. 

A reunificação das famílias separadas, no entanto, é o desafio mais sensível e controverso do desmantelamento dessa estratégia-- promessa martelada por Biden durante a campanha eleitoral. “Seus filhos foram arrancados de seus braços e separados. Isso é crime”, repetiu o então candidato num dos debates presidenciais com Trump. 

O fim da política de separação de famílias esbarra nos que defendem a linha-dura para quem cruza ilegalmente a fronteira. O governo pode permitir que as famílias, depois de reunidas, vivam nos EUA, como pregam as entidades que lutam pelos direitos dos imigrantes. Mas isso terá um custo político para Biden num momento em que ele se empenha para restabelecer soluções bipartidárias no Congresso dividido. 

Neste dilema, pesará o quanto o atual presidente está realmente disposto a reescrever um dos capítulos mais desumanos da era Trump.

Fonte: G1