Cotidiano

Internautas inflam preços de ações e levam fundos a perdas bilionárias nos EUA





A GameStop (GME), uma das varejistas mais tradicionais do universo gamer, está envolvida em um jogo do qual provavelmente não queria participar. Com suas ações se valorizando mais de 5.000% nos últimos dias e cerca de 70% apenas nesta quarta-feira (27), tudo parece ótimo à primeira vista, certo? 

O problema é que os papéis, listados na Bolsa de Nova York (NYSE), estão sendo inflados artificialmente e de forma organizada por pequenos investidores para causar perdas, ou até a falência, de fundos que apostaram contra a valorização da empresa no mercado financeiro. Mas vamos por partes. 

Existe um mecanismo na bolsa de valores que permite que investidores operem comprados (long, em inglês) ou vendidos em certa ação (short). Isso quer dizer, na prática, que se pode ter certo investimento na carteira e ganhar com a sua valorização (comprado) ou apostar que aquela empresa vai se desvalorizar e lucrar com sua queda (vendido).

Neste caso específico, alguns fundos americanos como o Melvin Capital estavam operando vendidos em GameStop, ou seja, esperavam que as ações da companhia perdessem força. Não é uma medida surpreendente, já que o mercado de mídias físicas no mundo dos jogos está cada vez mais restrito e o core business da empresa é esse.

Mas os usuários da rede social Reddit, mais precisamente os utilizadores do subfórum Wall Street Bets, decidiram interferir na atuação "predatória" do mercado financeiro e fazer "justiça", ou qualquer outro termo que se aplique, com as próprias mãos.

Os internautas --parte deles day traders recém-forjados na crise de 2020-- passaram, então, a comprar os papéis da GameStop para elevar os seus preços e garantir que todas as apostas contrárias fossem fracassadas. E conseguiram. Após perder US$ 3,75 bilhões e pedir dinheiro emprestado para rivais, o fundo Melvin retirou sua posição em GME.

"Estes gestores de fundos vivem no passado", diz uma postagem. "Eles acham que nós, investidores de varejo, não sabemos o que estamos fazendo com o nosso dinheiro. Mas o futuro chegou e ninguém mais paga taxas para operar na bolsa. Nós podemos tomar nossas próprias decisões e isso os assusta. Estamos num ponto de virada para o futuro."

Agora, os cerca de 2,9 milhões de usuários da página tentam dissuadir os fundos remanescentes de continuar apostando na queda da GameStop, mas uma grande parcela da treta ainda está para ocorrer: o que acontece quando, eventualmente, esses investidores tirarem seus recursos dali.

Primeiramente, alguns vão vender suas ações antes dos outros e, consequentemente, faturar uma grana artificialmente construída. Naturalmente, quem ficar para trás vai ter um prejuízo dos grandes no processo (não por acaso, boa parte dos sites de corretoras dos EUA estão enfrentando instabilidades nesta quarta). Por fim, mas não menos importante, a empresa pode ser deixada com uma desvalorização brutal quando tudo acabar.

Para tentar evitar este (outro) movimento de manada, alguns usuários mais experientes estão criando postagens orientando os novatos sobre o que fazer com os papéis. Parte deles confia no diagnóstico de Ryan Cohen, um dos cabeças do movimento, de que a GameStop pode se reinventar.

Outros estão apenas buscando o próximo papel para fazer dinheiro "enganando os trouxas dos fundos". Nessa linha, as ações da rede de cinemas AMC, outra cheia de apostas contra, vai se valorizando 180% no pregão desta quarta-feira (27) e quase 600% desde o início do ano.

Evento parecido já havia ocorrido quando a locadora de carros Hertz, após declarar falência, viu suas ações subirem mais de 800%. À época, a maioria das compras foi realizada na plataforma RobinHood, que acumula polêmicas desde que começou a operar como corretora nos EUA. Os usuários da página também gostam de falar sobre (e comprar) ações de montadoras de carros elétricos.

Fonte: CNN Brasil