Política

Causa 'morte e invalidez': os episódios em que Bolsonaro criticou e ironizou a Coronavac





Presidente passou os últimos meses atacando a vacina da Sinovac e do Butantan, referindo-se a ela como "vacina do Doria"

"O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem. Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina", disse o presidente Jair Bolsonaro em 21 de outubro, em suas redes sociais, depois de o ministro da Saúde Eduardo Pazuello ter afirmado que a pasta assinaria um acordo de compra da Coronavac. 

Naquela ocasião, Bolsonaro proibiu Pazuello de avançar no acordo. O governador de São Paulo, João Doria, havia pedido ao Ministério que efetuasse a compra de 46 milhões de doses, além das 6 milhões que já haviam sido adquiridas pelo estado. A Coronavac acaba de ter seu uso emergencial aprovado pela Anvisa, e a vacinação deve começar a ser feita ainda hoje, às 17 horas, no hospital das Clínicas de São Paulo.

Antes disso, em agosto, Bolsonaro já havia falado publicamente contra a vacina resultante da parceria entre o Instituto Butantan e a chinesa Sinovac. Em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente ressaltou que o acordo fechado pelo Ministério com a Astrazeneca e a Universidade de Oxford era mais vantajoso e criticou iniciativa do governo de São Paulo de negociar com o país asiático. "O mais importante, diferente daquela outra (vacina) que um governador resolveu acertar com outro país, vem a tecnologia para nós", disse.

Conforme a vacinação se aproximava em outros países, o presidente endureceu as críticas.

Em novembro, quando a Anvisa anunciou que os testes com a Coronavac deveriam ser suspensos em razão da morte de um dos voluntários, Jair Bolsonaro atacou a vacina: "Morte, invalidez, anomalia... Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la", escreveu em suas redes. "O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", completou. Depois, descobriu-se que a causa mortis do voluntário havia sido suicídio e os testes foram retomados.

Em dezembro, durante uma live, o presidente voltou a questionar a eficácia da vacina. Bolsonaro disse que não daria dados, mas que teve a informação sobre a Coronavac. "A eficácia daquela vacina de São Paulo está lá embaixo, está lá embaixo. Não vou divulgar percentual aqui porque se eu errar 0,001% vou apanhar da mídia, mas o percentual aprece que esta la embaixo levando-se em conta a outra", disse Bolsonaro. Na mesma live, Bolsonaro recomendou o "tratamento precoce"da doença, com o uso de hidroxicloroquina e invermectina, que não tem comprovação científica.

Na semana passada, quando foi divulgada a eficácia total da Coronavac, de 50,38%, Bolsonaro voltou a questionar o imunizante. “Essa de 50% é uma boa?”, perguntou o presidente aos simpatizantes sobre a CoronaVac.  “O que eu apanhei por causa disso, agora estão vendo a verdade. Quatro meses apanhando por causa da vacina”, disse. Desde então, apoiadores do presidente vêm questionando o percentual, ainda  que ele esteja dentro das normas de eficácia dos órgãos internacionais, que admitem eficácia total a partir de 40%.

A Coronavac não foi a única vacina criticada por Bolsonaro. Em dezembro, quando o Reino Unido iniciou a vacinação com o imunizante da Pfizer, o presidente se pronunciou questionando o produto. “Lá no contrato da Pfizer, está bem claro: nós (a Pfizer) não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu”, disse Bolsonaro. “Se você virar Super-Homem, se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles (Pfizer) não têm nada a ver isso. E, o que é pior, mexer no sistema imunológico das pessoas”, continuou Bolsonaro.

A vacina da Pfizer foi oferecida ao governo brasileiro em agosto, mas o Ministério da Saúde optou por não fechar o acordo de compra.

Bolsonaro também chegou a dizer, em dezembro, que a melhor vacina para a covid-19 era pegar o vírus. "Eu tive a melhor vacina, foi o vírus. Sem efeito colateral", afirmou.

Fonte: Época Globo