Não é de hoje. Generais da ativa e da reserva são praticamente unânimes em dizer que o atual ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, já deveria ter pedido para ir para a reserva.
Em meio à pandemia, oficiais toleraram a permanência de Pazuello como ministro ainda na ativa, justamente porque o general assumiu dizendo que seria uma missão temporária e queria continuar a sua carreira no Exército.
Agora, há oito meses no cargo, com o general no centro de uma crise sanitária e de atraso na vacinação, militares de alta patente afirmam que já "passou da hora" de ele tomar uma decisão. "Falta simancol", afirmou um general da reserva à coluna.
No Quartel-General do Exército o desconforto com a continuidade do general na ativa se explica por duas razões: a primeira é a utilização equivocada da imagem das Forças Armadas. A avaliação feita é que ao obedecer o presidente Jair Bolsonaro em posturas negacionistas, Pazuello mina a credibilidade dos militares, que buscam ser exemplo.
Outro ponto que gera incômodo é que Pazuello entrou de vez na briga política ao rebater o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP). Para generais ouvidos pela coluna, apesar do oportunismo de Doria, a postura de um militar e também de um ministro de estado deveria ser mais republicana.
Apesar da pressão, ainda não há no departamento responsável pelos pedidos de reserva nenhuma comunicação de Pazuello. O requerimento de solicitação é um documento padrão. Após assinado, o pedido leva de 15 a 30 dias para ser deferido ou não pelo setor responsável do Exército. Com a reserva aceita, o ato então é publicado no Diário Oficial da União.
Se militares são unânimes em dizer que Pazuello já deveria ter ido para a reserva, ao serem questionados como avaliam a atuação do ministro, a maior parte faz críticas. "Lamentavelmente a atuação do general é desastrosa", disse um colega de patente.
Há, porém, quem relativize a atuação do ministro. De acordo com um militar que despacha no Palácio do Planalto, Pazuello "está se virando como pode" e tentando solucionar a série de problemas que surgem em meio a uma pandemia.
Para o general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro do governo, a responsabilidade pelo atraso na vacinação nacional e também sobre a crescente crise em Manaus não é apenas responsabilidade de Pazuello. "Desde o início da pandemia do corona vírus estamos vivendo uma total irresponsabilidade e show de incompetência governamental", disse à coluna.
Questionado sobre essa insatisfação com o general ainda na ativa, Santos Cruz afirmou que se trata de um "erro da parte da legislação que permite isso".
Apesar da pressão crescente para que Pazuello deixe o cargo, fontes próximas ao presidente afirmam que ele não pretende ceder e quer manter o general - seja da ativa ou da reserva - ainda no governo.
A pressão pela saída de Pazuello começou a ganhar força na semana passada, com o agravamento da situação em Manaus e a recusa da Índia em entregar as 2 milhões de doses da vacina de Oxford contra o coronavírus encomendadas pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Na sexta-feira à noite (15), em uma reunião no Palácio da Alvorada, o presidente se mostrou incomodado por estar sendo culpado pela falta de oxigênio em Manaus e também das relações diplomáticas que estavam à beira do fracasso.
No Ministério da Defesa, segundo fontes, há um mal-estar por conta da atuação do ministro, principalmente por não ter feito de forma firma uma defesa em relação à atuação da FAB (Força Aérea Brasileira). Apesar de já atuarem em Manaus desde o dia 8 de janeiro, a avaliação feita é que o ministro não soube comunicar de forma correta o trabalho que estava sendo feito e passou a impressão de que havia falhas graves na condução da ajuda das Forças Armadas.
Questionada pela coluna sobre a demora em entregar oxigênio em Manaus, a FAB destacou que "tem atuado na Operação COVID-19, coordenada pelo Ministério da Defesa, realizando missões de transporte aéreo logístico em todo o território nacional, as quais foram intensificadas recentemente para a cidade de Manaus".
"O Comando da Aeronáutica reitera que está dedicando permanentemente o esforço do seu efetivo e de suas aeronaves 24 horas por dia e 7 dias por semana em atendimento às necessidades da sociedade brasileira no enfrentamento à pandemia da COVID-19", afirmou a FAB, via assessoria de imprensa.
Fonte: UOL