Política

Macron promete "soja europeia" para evitar desmatamento da Amazônia





O presidente da França, Emmanuel Macron, prometeu reduzir a importação de soja brasileira, como forma de ajudar a reduzir o desmatamento no país. Em suas redes sociais, ele publicou um vídeo no qual ele explica os planos de desenvolver uma espécie de "soja europeia" ou equivalente.

"Continuar a depender da soja brasileira seria o mesmo que apoiar o desmatamento da Amazônia. Somos coerentes com nossas ambições ecológicas, estamos lutando para produzir soja na Europa", escreveu. O argumento francês é questionado pelo governo brasileiro, que insiste que a soja não é produzida na Amazônia. Brasília ainda vê no gesto uma "prova" do comportamento protecionista do país francês.

Nos últimos dois anos, Macron e o presidente Jair Bolsonaro têm trocado farpas e ofensas, contribuindo para aprofundar um mal-estar entre a UE e o Brasil.

No vídeo, feito durante uma visita nesta terça-feira a produtores agrícolas franceses, o presidente insistiu que os europeus "não são coerentes" se tomam medidas de proteção ambiental e, ao mesmo tempo, continuam a importar produtos que desmataram a floresta brasileira. "Você é contra os incêndios na Amazônia. Mas vivemos as consequências disso", afirmou.

"A maneira concreta de fazer não é apenas dizer, mas agir. E agir é dizer: nós precisamos hoje da soja brasileira para viver. Portanto, vamos produzir a soja europeia ou o equivalente", insistiu.

Macron deixou claro que tal proposta é ainda uma questão de "soberania", terminando 50 anos de uma política deliberadamente usada para importar proteínas da América do Sul. Além disso, ele prevê projetos na África para incentivar a produção agrícola, sempre que se revelem sustentável.

A fala do francês não agradou o setor da soja no Brasil. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) indicou que "lamenta que o presidente da França, Emmanuel Macron, busque justificar sua decisão de subsidiar os agricultores franceses atacando a soja brasileira".

"Como bem sabe Macron, a soja produzida no bioma Amazônia no Brasil é livre de desmatamento desde 2008, graças a Moratória da Soja, iniciativa internacionalmente reconhecida, que monitora, identifica e bloqueia a aquisição de soja produzida em área desmatada no bioma, garantindo risco zero do envio de soja de área desmatada (legal ou ilegal) deste bioma para mercados internacionais", completaram.

Nesta semana, Macron liderou a organização de uma cúpula de chefes de estado para tratar do meio ambiente. Sem a presença do Brasil, um dos principais temas foi a defesa de medidas que possam impedir o acesso ao mercado europeu para empresas que não consigam provar que são sustentáveis ou que não desmatem.

Em 2020, o governo francês anunciou a intenção de iniciar um programa de desenvolvimento agrário que permita que o país europeu possa reduzir sua dependência da soja importada, principalmente do Brasil.

Hoje, a França importa 3,3 milhões de toneladas de soja por ano, principalmente do Brasil e dos EUA. Ao apresentar o projeto, o Ministro da Agricultura, Julien Denormandie, insistiu que havia chegado o momento de o país criar seu próprio plano de abastecimento de proteínas e de acabar com a "importação de desmatamento".

Ao longo dos últimos dois anos, Paris e Brasília trocaram provocações e ofensas, em parte por conta dos temas climáticos. Se Emmanuel Macron foi um dos principais motores do processo que freou o acordo entre Mercosul-UE, o argumento do Itamaraty é de que os temas ambientais são apenas manipulados pelos franceses para minar um tratado que abriria maiores possibilidades de exportações agrícolas do bloco sul-americano.

Além disso, o governo sustenta que a produção e exportação de soja não é a responsável pelo desmatamento.

Ainda assim, além de rejeitar o tratado comercial, os franceses agora deixaram claro que, com fontes alternativas de proteína, a meta é a de duplicar a área agrícola dedicada a tais atividades até 2030. Isso permitiria reduzir a importação de soja.

Nos próximos três anos, a meta é a de aumentar a área plantada com leguminosas em 40%. Na prática, isso significaria 400 mil hectares extras. "Este plano é a base que falta para restaurar nossa soberania alimentar", disse o ministro da Agricultura, Julien Denormandie, numa coletiva de imprensa.

O projeto, porém, envolverá 100 milhões de euros para recuperar áreas para o cultivo, além de recursos para pesquisa de sementes.

Fonte: UOL