Política

Ao mentir sobre Maia, Bolsonaro atrapalha articulação de Lira na Câmara





A disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em torno do 13º do Bolsa Família, só atrapalhou a candidatura do líder do PP, Arthur Lira (AL), ao comando da Casa.

Essa é a avaliação de parlamentares consultados pelo UOL depois da queda de braço iniciada a noite de quinta-feira e que terminou, na sexta-feira, com a ameaça de votação do 13º, a formação de um bloco de Maia que incluiu a esquerda e um discurso duro de Lira na sequência.

Lira tem o apoio do presidente da República, mas também a simpatia de vários parlamentares, inclusive da oposição. No entanto, a oposição decidiu entrar formalmente no bloco de Maia —com 11 partidos e 281 deputados— para fazer frente a Bolsonaro.

Com o presidente desmentido em público ao acusar Maia de barrar o 13º, foi jogado mais um ingrediente na disputa. Um aliado do líder do PP disse que a atitude só atrapalhou Lira, em um enfrentamento ao presidente que não interessava à articulação da candidatura. Segundo ele, todos os que defenderam o governo foram levados a erro. Interlocutores de Lira reforçaram a impressão.

O líder do PT, Ênio Verri, disse que, na votação do 13º e do auxílio-emergencial, Lira assumiu, na prática, um papel que era do líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR). "Nessa briga [entre Maia e Bolsonaro], ele perde porque a postura dele na sessão foi Bolsonaro até a morte", afirmou o petista. "Ele parecia líder do governo; o Ricardo Barros desapareceu. O líder do governo foi o Arthur Lira."

O líder do PSB, Alessandro Molon (RJ), disse que "a mentira de Bolsonaro, certamente é um fato negativo para a candidatura [de Lira]". "O governo tenta colocar as mãos no Parlamento e não conseguirá."

Bloco será vitorioso, diz Baleia

Possível candidato a presidente da Câmara no bloco de Maia, Baleia Rossi (MDB-SP) disse que o tamanho do bloco mostra força. "O grande fator de fortalecimento do nosso campo que defende a democracia, a independência da Câmara e a liberdade foi a formalização do bloco, com 281 deputados e podendo crescer ainda", afirmou. "Estamos conversando com outros partidos. Isso mostra que o campo vai ser vitorioso."

Na tribuna, Lira rebateu Molon e o restante da oposição. Destacou que, apesar de o bloco ter sido formado com 11 partidos, muitos deputados não concordaram com a adesão ao grupo de Rodrigo Maia. E recomendou um "comprimidinho" para a memória.

Sob anonimato, alguns aliados de Lira admitiram que a formação do bloco de Maia foi "muito forte". No entanto, eles creem na força dos acordos individuais. Hoje, há apoio de pelo menos dez partidos com eles: PP, PL, PSD, Republicanos, SD, Avante, PTB, Pros, Patriota e PSC. Haveria mais de 200 deputados, mas, nos cálculos dos liristas, eles podem ganhar o Podemos e obter "traições" de gente do DEM, do PSDB, do PT, do PDT e do PSB. Por isso, apostam suas fichas no segundo turno com voto secreto.

Lira rejeita a pecha de subserviência a Bolsonaro. Ontem, na tribuna ele destacou que a Câmara jamais será "puxadinho" de governos. Mas destacou que, na votação do 13º e do auxílio emergencial, as regras estavam sendo descumpridas enquanto as bolsas oscilavam e o dólar subia. O líder pediu responsabilidade e acusou Maia e a oposição de serem incoerentes quando falam em "democracia".

Reservadamente, Lira tem dito a colegas que o apoio de Bolsonaro não o atrapalha.

Fonte: UOL