Política

Maia nega omissão e diz que impeachment de Bolsonaro tiraria foco da covid





O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse em entrevista publicada hoje pelo jornal Valor Econômico que não considera ter sido omisso ao não abrir um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Estamos com uma pandemia que voltou a crescer e essa deve ser nossa prioridade", disse ele, argumentando que uma análise de pedido de afastamento seria um processo desgastante que tiraria o foco do combate à pandemia do novo coronavírus.

Entendo parte da sociedade que está ficando com muita aflição e raiva do governo pela péssima condução da pandemia, e principalmente agora pelo caso da vacina, mas o processo de impeachment é político e precisa ser tomado com muito cuidado para não tirar o foco da pandemia (...) Não há condições para se avaliar esse tema, o que não quer dizer que eu avaliaria nem positivamente nem negativamente. Não considero omissão da minha parteRodrigo Maia, presidente da Câmara

Bolsonaro foi ameaçado de impeachment pela oposição em diversos momentos de seu mandato. Na mais recente, no fim de outubro, a motivação foi a recusa do presidente de adquirir 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

Qualquer análise de pedido de impeachment de presidente da República precisa ser pautada pelo presidente da Câmara dos Deputados. Ao longo de seu mandato, Maia não levou para frente nenhum contra Bolsonaro.

Independência da Câmara

Falando sobre o futuro da presidência da Câmara, Maia disse que o bloco de partidos do qual o DEM faz parte precisa decidir quem será seu candidato hoje para ter "todas as condições de montar a melhor estratégia" para buscar a vitória. A reeleição dele, assim como a de Davi Alcolumbre (DEM) no Senado, foi vetada pela maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

"Não dá para esperar mais tempo", disse Maia. "Acho que a nossa estratégia caminha para ser vitoriosa porque ela olha a Câmara como um espaço mais importante da representação da democracia, da sociedade e de todos os campos da sociedade", disse.

Independentemente de quem seja o vencedor da disputa, Maia disse esperar que o futuro presidente "mantenha a independência da Casa em relação ao governo [federal] e não seja tratado da mesma forma" como ele foi.

Na avaliação de Maia, sua relação com o governo federal foi de "muita raiva e de muita agressão" por ele "não ter feito uma presidência cumprindo as ordens do governo".

Tenho certeza que o próximo presidente, qualquer um dos quatro que seja escolhido, não vai carregar essa relação que o governo e seu entorno construíram comigo
Rodrigo Maia

Ao longo de dois anos, Rodrigo Maia teve desavenças públicas com Jair Bolsonaro, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. A outros chefes de pasta, ele fez críticas severas, como a Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Abraham Weintraub (ex-Educação).

Ministros de Bolsonaro

Ainda para o Valor Econômico, Maia falou sobre três ministros do governo federal: Salles, Guedes e Onyx Lorenzoni (DEM), da Cidadania.

Para o presidente da Câmara, se Onyx "quer continuar no governo às minhas custas, que ele comece a cuidar dos pobres, dos mais necessitados como eles merecem". "A última coisa que ele conhece é a pobreza brasileira", afirmou.

"Parece que um dos ministérios que está 'à venda' [nas negociações do governo contra o centrão] é o dele. Mas ele é deputado [federal], ele volta [para a Câmara]. Ele vai ser bem tratado no DEM apesar de toda a incompetência dele", disse Maia, colega de partido de Onyx.

Sobre o Ministério do Meio Ambiente, Maia disse que "a política ambiental precisa mudar independentemente do nome".

"Trocar o Salles por outro ministro qualquer não resolve o problema. O que resolve é a compreensão do governo de que a política ambiental está equivocada", continuou.

Já sobre o ministro Paulo Guedes, Maia chamou o chefe da pasta da Economia de "deserto de ideias" e disse que sua atuação no ministério está "cada vez pior". Os dois chegaram a fazer as pazes publicamente, mas voltaram a se estranhar nas últimas semanas.

"O ministro da Economia se perdeu completamente na pandemia, continua perdido e precisa ser encontrado rapidamente. Infelizmente o ministro promete muito e entrega pouco", analisou.

 

Fonte: UOL