O presidente Jair Bolsonaro não está incomodado com a sua decisão de ainda não reconhecer oficialmente a vitória de Joe Biden nas eleições norte-americanas.
Alguns ministros e auxiliares têm aconselhado que Bolsonaro faça o gesto diplomático. Ironicamente, o presidente tem utilizado outro gesto. Quando recebe o aviso de que já estaria na hora de reconhecer Biden como presidente dos Estados Unidos, Bolsonaro pega alguns dos papeis que têm sobre a sua mesa, aponta para reportagens antigas e diz: "Só criticam o Bolsonaro, nem se lembram do FHC".
A justificativa exposta por Bolsonaro diz respeito as eleições de 2000, quando George W. Bush venceu o democrata Al Gore, mas sua vitória só foi confirmada pela Suprema Corte 36 dias após a eleição.
Na época, o então presidente Fernando Henrique Cardoso só enviou uma mensagem com felicitações a Bush com o fim do imbróglio judicial.
Em 2020, também há judicialização nas eleições norte-americanas, mas a derrota do atual presidente Donald Trump é praticamente incontestável. Admirador de Trump, o presidente brasileiro é um dos poucos líderes que ainda não reconheceram a vitória do democrata.
Ministros próximos do presidente afirmam que já há um convencimento para que Bolsonaro formalize os cumprimentos a Joe Biden no próximo dia 14. A data está sendo considerada como limite tanto pela equipe econômica como pela área política.
É neste dia que o Colégio Eleitoral vai se reunir e os representantes dos Estados votarão nos candidatos mais votados em seus territórios.
A eleição norte-americana tem um sistema distinto do Brasil. E, embora Biden já tenha votos suficientes para ser declarado o novo presidente dos Estados Unidos, é só a partir de 14 de dezembro que ele será, de fato, presidente eleito,segundo o calendário eleitoral de 2020 dos EUA.
Auxiliares do presidente também alertam que, após o reconhecimento da vitória de Biden, será preciso ajustar o posicionamento do Ministério das Relações Exteriores, hoje comandado por Ernesto Araújo.
O ministro integra a chamada ala ideológica do governo. Sua manutenção no cargo é vista por alguns auxiliares como uma barreira grande nas relações com o novo governo dos EUA.
A exemplo do que aconteceu com o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, que deixou o ministério mas conseguiu um cargo no Banco Mundial, Bolsonaro deve buscar alguma saída honrosa para Ernesto.
"Nesse governo, com a ala ideológica não se brinca. Quando cai tem que cair para cima", disse um ministro à coluna.
Fonte: UOL