Política

Trump tem 1 em 10 chances de vencer eleições, apontam previsões





A dois dias da eleição presidencial norte-americana, o candidato republicano à reeleição Donald Trump não tem as previsões a seu favor: o agregador de pesquisas americano FiveThirtyEight calcula que o candidato democrata Joe Biden tem 90% das chances de vencer a eleição. O agregador da revista britânica The Economist vai além e dá 95% de chance de vitória para Biden, contra 5% de chance de Trump.

Na maioria das projeções feitas pelo FiveThirtyEight sobre o colégio eleitoral norte-americano, Biden teria entre 410 a 420 votos contra cerca de 120 de Trump (são necessários 270 para a vitória). Nas poucas previsões onde Trump poderia vencer, a expectativa é que fique entre 275 e 290 votos contra 250 de Biden, o que poderia indicar uma votação apertada, com maiores chances de contestação.

No final de agosto, o site calculava a chance de vitória de Trump como de 1 em 3, mas foi sendo reduzida seguidamente até chegar em 1 em 10 chances no início de novembro .

Para a The Economist, Biden deve vencer a eleição americana nesta terça-feira com 350 votos do colégio eleitoral, contra 188 de Donald Trump. A diferença é que o modelo da revista britânica aponta uma vitória estável do democrata há mais tempo, desde o mês de maio. Nestas projeções, apenas em alguns momentos de março o presidente republicano esteve à frente.

Há certa desconfiança com as pesquisas de opinião nos Estados Unidos, que também erraram ao apontar 88% de chance de Hillary Clinton vencer Donald Trump no dia da eleição de 2016. Para este ano, a expectativa é que novas metodologias de coleta de dados e mais pesquisas em estados até então relegados tragam as pesquisas mais próximas da realidade.

As projeções também apontam que um fenômeno maior pode estar a caminho: o partido republicano pode não apenas perder a Casa Branca, mas também a maioria do Senado. O FiveThirtyEight projeta que os democratas tem 77% de chance de assumir a maioria do Senado, que conta com 100 parlamentares. Na Câmara, onde os republicanos já são minoria entre os 435 deputados, a chance de o  cenário se reverta é de 2%, segundo o site.

Caso o partido democrata controle as duas casas do legislativo, um futuro governo de Joe Biden passa a ter um perspectiva mais suave. Ficaria mais fácil, por exemplo, para o presidente aumentar o número de juízes na suprema corte americana, que hoje conta com uma maioria conservadora de seis votos a três, ocasionada por três nomeações feitas por Trump nos últimos quatro anos.

Mas, caso os democratas assumam a maioria no Congresso e Trump vença a presidência, o presidente passa a estar sob pressão inédita, já que os parlamentares da oposição terão força para bloquear propostas do presidente e, assim como no final de 2018, oferecer novo pedido de impeachment caso considere necessário.

Coronavírus na urna

O presidente norte-americano encontra um caminho difícil para a sua reeleição, em grande parte, por conta da resposta dada por seu governo à pandemia de coronavirus. O país é o mais afetado pela covid-19, com mais de 9,1 milhões de casos confirmados desde janeiro, e pelo menos 230 mil mortes.

Na reta final da eleição, o país caminha para uma terceira onda de contaminação do vírus, enquanto a economia ainda patina e não há acordo entre Executivo e Legislativo sobre como salvá-la. Trump já se contaminou com a doença no início do mês, mas continua com uma estratégia de minimizar os efeitos da pandemia – que reflete na maneira como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, alinhado à sua política ideológica, trata a doença.

Pesa também o fato que o republicano jamais conseguiu ter mais de 50% da aprovação da população norte-americana – algo que não ocorre desde que as pesquisas de popularidade foram iniciadas com o presidente Harry Truman, nos anos 1940. Em uma eleição altamente polarizada, crescem as chances de que eleitores votem em Joe Biden mesmo sem convicção no candidato democrata – apenas por enxerga mais riscos em um segundo mandato de Trump.

Democracia em risco

Aos olhos de outras democracias, o processo eleitoral norte-americano – com o complicado conceito do colégio eleitoral – parece pouco democrático. A atuação de Donald Trump como o 45º presidente dos EUA não contribuiu para mudar esta imagem.

O presidente passou os últimos meses deslegitimando o processo eleitoral do país, acusando-o (sem provas) de ser fraudulento. Quando a eleição se encaminhava para um recorde de votações pelos correios, retirou verbas da estatal (o Congresso impediu). E a uma semana das eleições, indicou Amy Coney Barrett, juíza de caráter conservador, para uma suprema corte que poderá justamente decidir a eleição caso haja algum tipo de problema. Três dos nove juízes da corte foram nomeados por Trump.

Trump jamais afirmou publicamente que aceitará os resultados da eleição, caso ele seja o perdedor – em 2016, o discurso foi o mesmo contra Hillary Clinton. Mesmo durante a pandemia de covid, Trump não deixou de fazer comícios – um estudo da Universidade de Stanford ligou os comícios do presidente a pelo menos 700 mortes causadas pela doença entre junho e setembro.

A postura antidemocrática foi vista na prática neste sábado: o ônibus da campanha de Joe Biden e sua vice, Kamala Harris, foi cercado por militantes pró-Trump armados em uma estrada no Texas, forçando o democrata a cancelar um comício na capital do estado. Horas depois, Trump comentou no Twitter a questão: "Eu amo o Texas", disse.

Participação recorde

Em um país com voto facultativo, a pandemia do coronavírus e a eleição polarizada se encontram em um dado relevante: a participação dos eleitores na eleição de 2020 se encaminha para ser a maior da história do país. A expectativa é que pela primeira vez mais de 150 milhões de votos para presidente sejam contados.

Segundo o U.S. Elections Project, coordenado pelo professor da Universidade da Flórida Michael McDonald, cerca de 92 milhões de votos já foram encaminhados antecipadamente pelo correio, por conta das medidas de isolamento social.

O engajamento com a eleição de 2020 é tão grande que no Texas, um dos estados decisivos para a eleição, os votos antecipados já representam 107% de todos os votos computados no estado em 2016. Na terça-feira, o número deve ser ainda maior, com a abertura das urnas para a votação presencial.

No Havaí, estado de tendência aos democratas, os votos antecipados são 110% dos registrados em 2016. Ao menos outros 11 estados já mandaram, antes do dia da eleição, mais de 80% dos votos dados na última eleição.

Tais números são más notícias para Trump, uma vez que eleitores democratas tendem a votar mais pelo correio do que eleitores republicanos. Desta maneira mesmo o Texas, estado tradicionalmente republicano, pode passar a votar mais em democratas pela primeira vez em 45 anos, o que pode sacramentar uma terça-feira muito difícil para o atual presidente.

Fonte: Congresso em foco