Política

“Anvisa não sofre nenhuma interferência política”, diz presidente da agência





O presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, disse hoje em entrevista na Rádio Bandeirantes que eventuais embates políticos envolvendo as vacinas contra a covid-19 não interferem no trabalho da agência. Indicado por Jair Bolsonaro para ocupar o cargo, ele ainda negou que tenha recebido qualquer tipo de orientação ou direcionamento por parte do presidente. 

“Sempre tive na minha vida a capacidade de separar as coisas. O que é relacionamento pessoal e o que é trabalho. Aqui faço trabalho. Fui nomeado, indicado para me submeter duas vezes ao Senado, como diretor no ano passado e como diretor-presidente nesse ano, e aprovado duas vezes. A indicação foi do presidente Jair Bolsonaro, como acontece com todos os diretores. Devo dizer, como tranquilização a todos, que não há nenhuma influência. Nunca houve um pedido, uma sugestão, uma orientação, nada do presidente em relação a minhas atitudes na Anvisa. Em momento algum. Inclusive neste momento. É o motivo pelo qual tenho a tranquilidade de trabalhar de acordo com minha consciência. Já disse isso e reitero agora. Não estamos sofrendo nenhum tipo de interferência.”

“Tivemos ontem uma reunião com o governador João Doria e nenhum aspecto técnico foi tratado, nenhum tipo de pressão foi feita. São reuniões de rotina. Recebemos há pouco tempo representantes do governo do Paraná também. Faz parte da nossa rotina. Não devemos ter essa intranquilidade. Já temos muitas na cabeça. O cidadão tem que ter pelo menos minha garantia de que questões políticas não influenciam dentro da agência. A Anvisa se pauta por ciência.”

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que havia anunciado um acordo para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.

“Para o meu Governo, qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser COMPROVADA CIENTIFICAMENTE PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE e CERTIFICADA PELA ANVISA. O povo brasileiro NÃO SERÁ COBAIA DE NINGUÉM. Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem. Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina”, escreveu o presidente nas redes sociais sobre a “vacina chinesa de João Doria”.

O governador, em seguida, respondeu: “Peço ao presidente Jair Bolsonaro que tenha grandeza. E lidere o Brasil para a saúde, a vida e a retomada de empregos. A nossa guerra não é eleitoral. É contra a pandemia. Não podemos ficar uns contra os outros. Vamos trabalhar unidos para vencer o vírus. E salvar os brasileiros.”

Anvisa e a vacina CoronaVac

Antônio Barra Torres comentou ainda como andam os protocolos de vacinas atualmente analisados pela agência: Oxford, CoronaVac, Pfizer e Johnson e Johnson. De acordo com ele, por questões técnicas e também mercadológicas, não é possível dizer qual delas está mais avançada. 

“A agência regula o mercado. As empresas desenvolvedoras de vacina visam lucro. Sobrevivem disso, pagam funcionários com isso e se aprimoram com isso. O que nós, diretores, falamos, então, tem impacto direto no mercado. Uma palavra ‘essa me parece melhor, mais adequada’ faz subir ou descer as ações no mesmo dia. Isso acontecendo, podemos sofrer sanções graves nacionais e internacionais.”

“Agora, do ponto de vista técnico, olha o que aconteceu com Oxford. Houve uma paralisação de seis dias. Ninguém esperava, mas não foi nada do outro mundo, e pode acontecer com qualquer outra. Hoje temos o protocolo da Johnson paralisado. Será que vai ser maior, menor? Ninguém sabe. Seria errado dizer ‘essa está com tudo certo, tudo pronto’. Não tem nenhuma assim. Vou citar aqui uma frase famosa que adoro do Abelardo Barbosa: só acaba quando termina.”

Fonte: UOL