O Papa Francisco celebrou, nesta segunda-feira (04/11), na Basílica de São Pedro, a missa em sufrágio dos cardeais e bispos que faleceram nos últimos doze meses.
Francisco iniciou sua homilia com as últimas palavras ditas ao Senhor pelo bom ladrão, crucificado ao lado dele: «Jesus, lembra-te de mim, quando vieres em teu Reino.»
"Não é um discípulo que as pronuncia, não é um daqueles que seguiam Jesus pelas estradas da Galileia e partilharam o pão com Ele na Última Ceia. O homem que se dirige ao Senhor é um malfeitor. Alguém que o encontra somente no final de sua vida, alguém cujo nome não sabemos", disse o Papa.
Os últimos respiros deste “estranho”, no entanto, no Evangelho se tornam um diálogo cheio de verdade. Aquele condenado representa todos nós; podemos dar a ele o nosso nome. Sobretudo, podemos fazer nossa a sua súplica: «Jesus, lembra-te de mim». Mantenha-me vivo em sua memória.
A seguir, o Papa refletiu sobre essa ação: lembrar. "Lembrar significa 'trazer de volta ao coração', colocar de volta no coração. Aquele homem, crucificado ao lado de Jesus, transforma sua dor extrema numa oração: 'Jesus, leva-me no teu coração'. Não o pede com voz angustiada, como a de um derrotado, mas com tom de esperança."
Isso é tudo aquilo que deseja o delinquente que morre como um discípulo de última hora: encontrar um coração acolhedor. Isso é tudo o que importa para ele, agora que está nú diante da morte. E o Senhor ouve a oração do pecador, até o último momento, como sempre faz.
“O coração de Cristo, trespassado pela dor, se abre para salvar o mundo, um coração aberto, não fechado: acolhe, moribundo, a voz de quem morre. Jesus morre conosco porque morreu por nós.”
Francisco disse ainda que "à súplica do crucificado culpado responde o Crucificado inocente: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”. A lembrança de Jesus é eficaz porque é rica em misericórdia. Enquanto a vida do homem falha, o amor de Deus liberta da morte. Assim o condenado é redimido. O estranho se torna um companheiro; um breve encontro na cruz durará para sempre na paz".
"Jesus se recorda de quem é crucificado ao seu lado. O seu cuidado, até o último suspiro, nos faz refletir: há diferentes maneiras de recordar as pessoas e as coisas. Podemos nos lembrar dos erros, de assuntos pendentes, recordar dos amigos e dos inimigos. Como estão as pessoas em nosso coração? Como recordamos aqueles que passaram por nós nas experiências vividas?" Perguntou o Papa.
"Voltando-se para o coração de Deus, os homens de todos os tempos podem encontrar a salvação, mesmo que «aos olhos dos insensatos pareçam mortos». Toda a história é conservada na memória do Senhor. Ele é o seu juiz compassivo e rico de misericórdia", disse ainda Francisco, acrescentando:
“Com esta fé, rezemos pelos cardeais e bispos falecidos nos últimos doze meses. Hoje, a nossa recordação torna-se um sufrágio por esses nossos irmãos. Membros eleitos do Povo de Deus, foram batizados na morte de Cristo para ressuscitar com Ele. Foram pastores e modelos do rebanho do Senhor. Possam agora sentar-se à sua mesa, após ter partido o Pão da vida na terra. Eles amaram a Igreja, cada um à sua maneira, mas todos amaram a Igreja.”
"Rezemos para que possam desfrutar na eternidade da companhia dos santos", concluiu o Papa.
Segue a lista com os nomes dos cardeais e bispos de língua portuguesa, falecidos a partir de novembro de 2023.
Cardeal Alexandre do Nascimento, arcebispo emérito de Luanda (Angola), falecido em 28 de setembro de 2024.
Cardeal Eugênio Dal Corso, bispo emérito de Benguela (Angola), falecido em 20 de outubro de 2024.
José Haring, O.F.M., bispo emérito de Limoeiro do Norte (Brasil), em 24 de dezembro de 2023.
Walter Ivan de Azevedo, S.D.B., bispo emérito de São Gabriel da Cachoeira (Brasil), 28 de janeiro de 2024.
Antônio Fernando Brochini, C.S.S., Bispo emérito de Itumbiara (Brasil), 15 de março de 2024.
Mário Clemente Neto, C.S.Sp., bispo Prelado Emérito de Tefé (Brasil), 8 de agosto de 2024.
Janusz Marian Danecki, O.F.M. Conv., bispo auxiliar de Campo Grande (Brasil), 30 de agosto de 2024.
Adélio Giuseppe Tomasin, P.S.D.P., bispo emérito de Quixadá (Brasil), 30 de setembro de 2024.
- Papa: contagiar amor é compromisso de todos, vai além da religião
O Papa recebeu na manhã desta segunda-feira, no Vaticano, os participantes do III Encontro de Igrejas Hospital de Campanha, um trabalho a favor dos mais pobres e marginalizados.
Em sua saudação, Francisco os encorajou a continuarem a ver em cada rosto destes irmãos mais necessitados a face de Cristo. As pessoas que frequentam a Igreja, afirmou o Papa, são poucas em relação às pessoas que precisam dela. Às vezes, há sacerdotes que se contentam com a participação de cerca de mil pessoas da missa dominical quando, na verdade, no bairro habitam mais de 200 mil. “Temos que estar conscientes de que pouca gente vai à Igreja. Temos que ir buscá-las”, afirmou.
Um aspecto salientado pelo Pontífice foi a acolhida, exercitada, por exemplo, com os migrantes, uma realidade muito presente seja na Espanha, seja na Itália. Mais uma vez, o Papa alertou para a idade média de 46 anos da população italiana, que prefere ter um animal de estimação a um filho. “E os migrantes, de alguma maneira, são os filhos que não queremos ter. Pensem um pouco nisto.”
Estar em meio aos vulneráveis, prosseguiu, revela as desigualdades entre ricos e pobres, entre patriotas e estrangeiros, que devem ser solucionadas. “É preciso restabelecer o tecido social”, disse o Pontífice, recordando que o equilíbrio de uma sociedade se mede com base no tratamento reservado às crianças e aos idosos. E deu como exemplo a exploração de crianças nos lixões e o “escândalo” de armazenar os idosos no “guarda-roupa de uma casa de repouso”.
Em cada pessoa acolhida, a esperança é semeada, recordou ainda o Papa, agradecendo publicamente o grupo por ser “cara dura”, um “atrevimento” que acaba inspirando outras pessoas. “A guerra é muito dura, muito dura. É uma realidade que mata, destrói. Vamos nos ocupar dessa gente”, pediu Francisco, lembrando de modo especial das crianças ucranianas que perderem a capacidade de sorrir. “Em cada pessoa que acolhem, em cada pessoa com vulnerabilidade, semeiem esperança”, convidou.
Mesmo que muitos irmãos vivam diante de um panorama que às vezes parece um beco sem saída, é preciso recordá-los de que a esperança cristã é maior do que qualquer situação. “Não é fácil dizer isto a um ferido de guerra, mas é preciso dizê-lo, porque a esperança tem seu fundamento no Senhor, não no homem. Uma coisa é o otimismo, que é bom, porém outra coisa é a esperança. Totalmente diferente.”
Por fim, Francisco recordou que cada vez que ajudamos alguém necessitado temos a oportunidade de tocar a carne de Cristo, porque levar o Evangelho não é algo abstrato, uma ideologia que se reduz a uma doutrinação, mas a verdadeira evangelização.
O Santo Padre concluiu com uma forte exortação: “Contagiem esperança, contagiem misericórdia, contagiem amor a todas as pessoas”, que convencidas também elas desta verdade, poderão se unir no serviço aos mais pobres. Não é preciso antes batizar ou confessar-se para servir, recordou o Papa. “Qualquer pessoa, ateu, não ateu, qualquer pessoa de uma religião ou de outra. Servir e servir os mais pobres. Entre os mais pobres está Jesus. Estão servindo a Jesus mesmo que não acreditem Nele. Todos, todos, todos na missão do serviço, todos no compromisso com os demais.”
A terceira edição deste teve início este domingo, em Roma, reunindo cerca de cinquenta pessoas de diferentes iniciativas de Madri, Barcelona, Roma, Jordânia, México e Argentina. “Igreja Sinodal e Igrejas hospital de campanha ao serviço da humanidade” é o lema deste encontro.
- O Papa aos católicos da Estônia: a guerra é fonte de angústia
Com a recordação de sua viagem apostólica em 2018, mas com o olhar aos eventos da atualidade e à “guerra atual na Europa”, que é “uma fonte de profunda angústia e ecoa tragicamente os momentos mais sombrios do passado”, o Papa Francisco exorta os católicos da Estônia a “construir uma sociedade enraizada na paz, na justiça, na solidariedade e na dignidade de toda pessoa humana”. E, ao mesmo tempo, a colaborar “cada vez mais com os homens e mulheres de outras denominações cristãs para dar um testemunho unido das promessas de Deus”. O mandato para todos os crentes do país do Leste Europeu, o escreveu o Pontífice em uma carta dirigida ao bispo de Tallinn, dom Philippe Jourdan, por ocasião do centenário da criação da Administração Apostólica da Estônia, recentemente elevada à categoria de Diocese.
Um aniversário que é um “marco” na história do país e que, enfatizou Francisco, “assinala um século de inabalável fidelidade à fé católica, que permitiu a esta pequena mas vibrante Igreja ser uma fonte de compaixão e alimento espiritual para inúmeros homens e mulheres em toda a nação”. Ao mesmo tempo, o aniversário “comemora a esperança inabalável e a confiança no Senhor durante décadas de sofrimento, ocupação e opressão”, diz o Papa.
Refletindo sobre o século passado, o Bispo de Roma expressa gratidão “pelo exemplo de fé” oferecido pelos “corajosos e resilientes ancestrais que foram fundamentais para nutrir e sustentar a comunidade católica na Estônia”. Em particular, o Papa menciona o servo de Deus Eduard Profittlich, um jesuíta alemão e arcebispo católico naturalizado estoniano, administrador apostólico da Estônia e vítima da perseguição soviética. Seu testemunho e sua “força de espírito em permanecer perto de seu rebanho, mesmo a ponto de derramar seu sangue, semearam sementes que ainda estão dando frutos hoje”, enfatizou Francisco na missiva. “Que o testemunho dele seja sempre uma fonte de inspiração para vocês e os lembre de que até mesmo a menor planta, o menor gesto e a mais humilde oferta podem crescer muito além de suas origens humildes para produzir uma rica colheita.”
O Papa Francisco continuou dizendo que está confiante de que “esse admirável legado de fé e caridade que caracteriza sua diocese encorajará a atual geração de sacerdotes, religiosos e fiéis leigos a continuar a crescer em um alegre discipulado missionário enquanto olham para o futuro”. De fato, a esperança do Papa é que o centenário seja “uma ocasião de renovação espiritual em sua terra, acendendo um senso renovado de zelo pela evangelização, especialmente entre os jovens”, de modo a torná-los “mais efetivamente capazes de proclamar a mensagem de amor, misericórdia e reconciliação de Deus, levando assim a luz de Jesus e o poder libertador do Evangelho a muitos homens e mulheres de hoje que nem mesmo acreditam em Deus”.
“Que o Espírito Santo”, escreve o Papa na conclusão da carta, ‘os guie para que sejam um sinal eloquente da confiança contínua na providência de Deus e levem os cristãos estonianos, juntamente com todas as pessoas de boa vontade, a estender a mão da amizade aos refugiados e aos mais vulneráveis de nossos irmãos e irmãs’. Por isso, a oração para que Deus “continue a acompanhá-los, clérigos, religiosos e fiéis leigos da Igreja na Estônia, ao embarcarem no próximo capítulo de sua caminhada cheia de fé, esperança e amor”.
Fonte: Vatican News