Para o Papa Francisco, uma escalada “inaceitável” vem ocorrendo há dias no Líbano, onde ondas de ataques israelenses contra o Hezbollah já causaram mais de 550 vítimas entre civis e crianças. O apelo do Papa feito, no final da Audiência Geral desta quarta-feira (25/09), na Praça São Pedro, chega num momento em que se contabilizam também os mortos, em Beirute, enquanto as sirenes soam em Tel Aviv e enquanto os mísseis libaneses caem ao sul de Haifa e em outras áreas de Israel.
Estou triste com as notícias que chegam do Líbano, onde nos últimos dias bombardeamentos intensos causaram muitas vítimas e destruição.
O Papa Francisco espera “que a Comunidade internacional faça todos os esforços para deter essa terrível escalada”. “É inaceitável!”, afirmou o Pontífice, reiterando sua proximidade a uma população assolada há anos por uma crise política, econômica e social que parece não ter solução, e pelas consequências da dramática explosão no porto de Beirute em 2020.
Expresso minha proximidade ao povo libanês que já sofreu muito no passado recente.
Do País dos Cedros, que João Paulo II definiu como “uma mensagem”, o olhar do Papa Francisco também se volta, nesta Audiência Geral de número 500 de seu pontificado, para os territórios e povos afetados pela brutalidade dos conflitos. Por eles, o Papa reza e pede orações.
Rezemos por todos, por todos os povos que sofrem com a guerra: a martirizada Ucrânia, Mianmar, Palestina, Israel, Sudão, e todos os povos martirizados. Rezemos pela paz.
O Papa recordou também a martirizada Ucrânia em suas saudações aos fiéis poloneses, quando, lembrando a "tragédia da guerra" que aflige o país há mais de dois anos, bem como as inundações que devastaram a Polônia, os exortou a não se deixarem “vencer pelo egoísmo e pela indiferença”.
Com a ajuda de Deus, apoiar solidariamente os sofredores e necessitados, que muitas vezes não veem esperança.
O Papa Francisco recordou a viagem que fará a Luxemburgo e à Bélgica a partir desta quinta-feira, 26 de setembro, até domingo, 29. Uma mensagem de esperança que o Bispo de Roma lançará do coração da Europa. Uma viagem internacional, apenas algumas semanas depois da longa peregrinação à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura, para a qual Francisco pede o acompanhamento espiritual dos fiéis.
Confio às suas orações a viagem que farei amanhã a Luxemburgo e à Bélgica, para que seja a ocasião de um novo impulso de fé nesses países.
- Papa: nunca dialogar com o diabo, que age através da superstição e da pornografia
O Papa Francisco retomou, nesta quarta-feira, 25 de setembro, o ciclo de catequeses com o tema "O Espírito e a Esposa. O Espírito Santo guia o povo de Deus ao encontro de Jesus, nossa esperança", e, com referência ao episódio narrado no evangelho de São Lucas (cf. Lc 4,1-2.13-14), quando Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto e lá foi tentado pelo demônio durante quarenta dias, refletiu, diante dos milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, sobre o Espírito Santo como nosso aliado na luta contra o espírito do mal.
Ao ir para o deserto, Jesus obedece a uma inspiração do Espírito Santo, liberta-se de Satanás e, em seguida, regressa à Galileia no poder do Espírito Santo, onde realizou curas e libertação de pessoas possuídas. Com essa premissa, o Papa destacou que hoje, em certos níveis culturais, acredita-se que o diabo não existe, sendo considerado apenas “um símbolo do inconsciente coletivo ou da alienação, uma metáfora”. Mas, acrescentou o Pontífice, como escreveu Charles Baudelaire: “a maior astúcia do diabo é convencer-nos de que ele não existe”:
"O nosso mundo tecnológico e secularizado está repleto de magos, ocultismo, espiritismo, astrólogos, vendedores de encantos e amuletos e, infelizmente, de verdadeiras seitas satânicas. Tendo sido expulso pela porta, o demônio voltou, pode-se dizer, pela janela. Expulso pela fé, regressa com a superstição. E se você é supersticioso, está dialogando com o diabo, e com ele não se deve nunca dialogar."
Segundo Francisco, a prova mais forte da existência de Satanás não se encontra nos pecadores ou nos possuídos, mas nos santos. "É verdade que o diabo está presente e opera em certas formas extremas e desumanas do mal e da maldade que vemos à nossa volta. Contudo, é praticamente impossível, em casos individuais, chegar à certeza de que realmente é ele, dado que não podemos saber exatamente onde termina a sua ação e começa o nosso próprio mal." Por isso, a Igreja é muito prudente e rigorosa no exercício do exorcismo, ao contrário do que acontece, infelizmente, em certos filmes", sublinhou o Papa.
"É na vida dos santos que o diabo é obrigado a sair à luz, a estar contra a luz. Mais ou menos todos os santos e grandes crentes testemunham a sua luta contra esta realidade sombria, e não se pode honestamente presumir que todos tenham sido iludidos ou simples vítimas dos preconceitos do seu tempo."
Na cruz, Jesus derrotou para sempre o poder do príncipe deste mundo, destacou o Santo Padre. E, como dizia São Cesário de Arles: “o demônio está amarrado, como um cão numa corrente; não pode morder ninguém, exceto aqueles que, desafiando o perigo, se aproximam dele... Pode latir, pode insistir, mas não pode morder, exceto aqueles que o querem”. Infelizmente, o mundo atual oferece diversas maneiras que dão oportunidades ao diabo, alertou o Pontífice:
"Por exemplo, a tecnologia moderna, além de muitos recursos positivos que devem ser apreciados, também oferece inúmeros meios para dar lugar ao diabo, e muitos aí caem. Pensemos na pornografia online, por trás da qual existe um mercado próspero: trata-se de um fenômeno muito difundido, contra o qual os cristãos devem, no entanto, precaver-se cuidadosamente e rejeitar vigorosamente."
Francisco recordou ainda que Jesus nunca dialoga com o demônio: ou o expulsa, ou o condena, mas nunca dialoga. No deserto, Ele responde não com Suas próprias palavras, mas com a Palavra de Deus:
"Irmãos, irmãs, nunca dialoguem com o diabo. Quando ele vem com as tentações, dizendo 'ah, isso seria bom, aquilo seria bom', pare! Eleve seu coração ao Senhor, reze a Nossa Senhora e expulse-o, como Jesus nos ensinou a fazer. [...] Se você for tolo e disser ao diabo: ‘Ah, como você está?’, ele o destruirá. Mantenha distância. O diabo deve ser expulso. E todos nós, todos, temos experiência de como o diabo se aproxima com alguma tentação: quando sentimos isso, pare, mantenha distância; não se aproxime do cachorro preso na corrente."
Ao concluir, o Papa acentuou que o reconhecimento da ação do diabo na história não deve ser motivo de desânimo, e o pensamento final deve ser, também neste caso, de confiança e segurança:
“Cristo derrotou o diabo e deu-nos o Espírito Santo para fazer nossa a sua vitória. A própria ação do inimigo pode ser aproveitada em nosso favor, se, com a ajuda de Deus, a fizermos servir para a nossa purificação. Fiquem atentos, porque o diabo é astuto – mas nós, cristãos, com a graça de Deus, somos mais astutos do que ele."
-O Papa: propor uma nova economia num mundo ameaçado por guerras e armas
“Ser testemunhas, não ter medo, esperar sem se cansar”, foi o convite feito pelo Papa Francisco, nesta quarta-feira (25/09), no Vaticano, antes da Audiência Geral, a uma delegação de jovens economistas da fundação "A Economia de Francisco", uma realidade que reúne empresários e agentes de mudança provenientes de todo o mundo, comprometidos com um processo de diálogo inclusivo e de mudança global. A eles o Pontífice pede uma mudança no atual contexto econômico, num mundo ferido por guerras, onde “a democracia é ameaçada” e “o populismo e a desigualdade crescem”. Um mandato preciso, acompanhado de uma recomendação.
Vocês não o mudarão apenas tornando-se ministros, ganhadores do Prêmio Nobel ou grandes economistas, coisas que são boas. Vocês mudarão o mundo amando-o, à luz de Deus, injetando nele os valores e a força da bondade, com o espírito evangélico de Francisco de Assis.
Foi exatamente com esse desejo de revolução no âmbito internacional que o discurso do Papa se desenvolveu, durante o qual ele lembrou aos presentes que "de seus ideais nasceu uma instituição". "Ela é importante porque servirá para defender os ideais; e vocês não serão apenas seus beneficiários, mas também protagonistas, assumindo as tarefas que lhes foram atribuídas com entusiasmo e senso de disponibilidade".
O projeto teve sua gênese há cinco anos. O Papa expressou sua gratidão por "terem levado a sério" o seu "convite para ‘reanimar’ a economia" e "por terem aceitado as indicações" dadas por ele "em suas conferências anuais" que, enquadradas no âmbito da “Doutrina Social da Igreja”, têm suas raízes “no Evangelho”.
Muitos podem ser seus mestres conhecidos no decorrer de seus estudos ou das experiências profissionais; mas a referência ao Evangelho, mesmo num diálogo sincero com todos, garante a vocês um Mestre excepcional, Jesus, o único que disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
A Fundação, explicou o Papa, entra agora numa “nova fase”. A “bela realidade” recentemente estabelecida precisa crescer e fortalecer-se, alcançando “cada vez mais jovens” e levando “os frutos típicos do Evangelho e do bem”. “O que foi feito até agora pelos jovens economistas”, disse Francisco, “foi além das expectativas”. Uma aposta de sucesso: “Eu apostei em vocês, porque os jovens têm toda a vida pela frente, são um ‘caminho’ vivo, e de um caminho podem nascer coisas boas, tendo o cuidado de evitar as ruins”.
Nessa esteira, o Papa recordou a figura de São Francisco, “filho de um comerciante” capaz de tomar consciência dos “méritos e defeitos daquele mundo”. Justamente por isso, “eu quis basear todo o movimento da Economia de Francisco em São Francisco de Assis, que, simplesmente se despojando de tudo por amor a Jesus e aos pobres, deu também um novo impulso ao desenvolvimento da economia”.
Amem a economia, amem concretamente os trabalhadores, os pobres, privilegiando as situações de maior sofrimento.
Em seguida, o Papa apresentou aos presentes três conceitos-chave: “Ser testemunhas, não ter medo e esperar sem se cansar”, lembrando também a assinatura do Pacto de Assis em 24 de setembro de 2022. Francisco se deteve no primeiro conceito-chave, ou seja, a importância de compartilhar ideais com “outros jovens”, que se tornou possível através de um “testemunho de vida”. “Sejam coerentes, a coerência é algo que não está na moda, em suas escolhas. Façam-se valorizar por seus projetos e realizações. Não para se tornarem muitos e poderosos, mas para transmitir a muitos aquilo que receberam, ou seja, a 'boa nova' de que, inspirados pelo Evangelho, também a economia pode mudar para melhor”, disse Francisco, retomando, a seguir, a exortação já dirigida aos participantes da JMJ de Lisboa: "Não sejam administradores de medos, mas empreendedores de sonhos". Para “levar os sonhos adiante” num mundo onde “há tanto para fazer”, é necessário “ousar novas palavras”. Algo que os cristãos “sempre fizeram”, “nunca” se deixando amedrontar pelo “novo”.
Eles sabem que Deus é o Senhor da história. Dói-me ver os cristãos que se escondem nas sacristias porque têm medo do mundo. Esses não são cristãos; são “aposentados derrotados”.
No seu terceiro conceito-chave, o Papa reconheceu as dificuldades em “propor uma nova economia num cenário de guerras novas e antigas, enquanto a indústria armamentista prospera tirando recursos dos pobres”. "Vocês sabiam que em alguns países as fábricas de armas são os investimentos que geram mais rendimentos? ", perguntou Francisco. "Ganhar dinheiro para matar...", acrescentou. Enquanto "a democracia está ameaçada", "o populismo e as desigualdades crescem e o planeta está cada vez mais ferido. Não é fácil, aliás é muito difícil", disse o Papa, afirmando que é legítimo, às vezes, ter “a impressão de ‘lutar contra os moinhos de vento’”.
Portanto, lembremo-nos do que Jesus disse aos discípulos: “Não tenham medo. Ele os ajudará, e a Igreja não os deixará sozinhos.
Recordando o apoio do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que “acompanhará também as atividades da Fundação”, da qual recebeu os estatutos e representará “a realidade na qual vocês poderão dar vida e concretude ao sonho de mudar a economia atual e dar alma à economia de amanhã", o Papa Francisco garantiu a proximidade contínua da Igreja, abrindo à "Economia de Francisco", "as portas da colaboração" para as comunidades católicas "espalhadas em todo o mundo". Este desenvolvimento, segundo o Papa, ajudará a “estabelecer contatos e sinergias com muitas realidades e redes de pessoas que partilham os seus mesmos ideais”. “Que nasça entre vocês uma nova forma de estar juntos e fazer economia, que não produza descartes, mas bem-estar material e espiritual para todos”. Francisco concluiu o seu discurso, garantindo aos jovens economistas que, permanecendo “fiéis” à sua vocação, as suas vidas “florescerão”, com “histórias maravilhosas para contar aos seus filhos e netos”.
Francisco dedicou um pequeno aparte a algumas das crianças presentes: “Isso é bom, numa cultura em que se privilegia ter cachorros ou gatos e não crianças. Precisamos recordar isso à Itália”. Voltando aos economistas, o Papa reiterou que vale a pena “gastar a vida para mudar o mundo para melhor”. “Adiante! Estou com vocês”, foi a exortação final de Francisco.
Fonte: Vatican News