Cultura

Crianças com deficiência dão uma lição, diz o Papa: deixar que Deus cuide de nós





"Não podemos entender o amor de Jesus se não praticarmos o amor", disse Francisco ao visitar uma escola para alunos con deficiência na capital timorense, aos quais agradeceu por darem uma lição: deixar que Deus cuide de nós!

Deixar que Deus cuide de nós...Para o Papa, é que ensinam as crianças e jovens acolhidos pela escola das Irmãs Alma, especializada em atender alunos com deficiência. A visita esta manhã foi o primeiro compromisso oficial de Francisco esta terça-feira. Aos presentes, o Pontífice dirigiu a seguinte saudação:

"Há uma coisa que sempre me faz pensar: quando Jesus fala do julgamento final, ele diz a algumas pessoas: 'Venham comigo', mas não diz “Venham comigo porque foram batizados, porque foram crismados, porque se casaram na Igreja, porque não mentiram, porque não roubaram...”. E Jesus diz: “Venha comigo porque você cuidou de mim quando eu estava com fome e me deu comida, quando eu estava com sede e me deu de beber, quando eu estava doente e você me visitou”, e assim por diante... Eu chamo isto de 'o sacramento dos pobres'. Um amor que encoraja, que constrói e fortalece. 

E é isso que encontramos aqui: amor. Sem amor, isso não pode ser entendido. E é assim que entendemos o amor de Jesus, que deu sua vida por nós. Não podemos compreender o amor de Jesus se não começarmos a praticar o amor. Compartilhar a vida com os mais necessitados é um programa, o programa de vocês, é o programa de todo cristão. Gostaria de agradecer-lhes pelo que fazem e gostaria de agradecer também às meninas, aos meninos, aos jovens e às jovens que nos dão o testemunho de deixar-se cuidar por Deus. Pois são eles que nos ensinam como devemos nos deixar cuidar por Deus. Deixar-nos cuidar por Deus e não pelas muitas ideias, projetos ou caprichos. Deixar-nos cuidar por Deus. E eles são os nossos mestres. Obrigado a vocês por isso."

Ao final do encontro, Francisco cumprimentou os alunos da escola. De modo especial, assinou o diário do jovem Adrian Arcangelo "com a minha benção", escreveu em português.

 

- O Papa na missa em Díli: fazer-se pequeno nos abre à ação do Senhor

"Fazendo-nos pequenos, permitimos que o Todo-Poderoso faça em nós grandes coisas, segundo a medida do seu amor, como nos ensina Maria no Magnificat e nesta celebração. Jesus quis nascer pequeno para se fazer nosso irmão", disse Francisco na homilia da missa celebrada na Esplanada de Taçi Tolu, em Díli, Timor-Leste, no âmbito de sua 45ª Viagem Apostólica Internacional.

«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado». Com este versículo extraído do 9° Capítulo do Livro do Profeta Isaías, o Papa Francisco iniciou sua homilia na missa por ele celebrada na Esplanada de Taçi Tolu, em Díli, Timor-Leste, nesta terça-feira (10/09), no âmbito de sua 45ª Viagem Apostólica Internacional.

Com essas palavras, "o profeta Isaías se dirige aos habitantes de Jerusalém, numa época próspera para a cidade, mas infelizmente caracterizada por uma grande decadência moral".

“Há muita riqueza, porém o bem-estar cega os poderosos, iludindo-os com a ideia de serem autossuficientes, de não precisarem do Senhor, e a sua presunção leva-os a ser egoístas e injustos.”

É por isso que, apesar de haver tantos bens, os pobres são abandonados e passam fome, a infidelidade alastra e a prática religiosa se reduz, cada vez mais, a mera formalidade. A fachada enganadora de um mundo, à primeira vista perfeito, esconde assim uma realidade mais sombria, mais dura e cruel, com necessidade de conversão, misericórdia e cura.

"Por isso, o profeta anuncia aos seus concidadãos que Deus abrirá diante deles um novo horizonte: um futuro de esperança e alegria, do qual serão banidas para sempre a opressão e a guerra. Fará brilhar para eles uma grande luz que os libertará das trevas do pecado que oprime; e não o fará com a força de exércitos, armas e riquezas, mas com o dom de um filho", disse ainda o Papa, refletindo sobre esta imagem: Deus faz brilhar a sua luz salvadora através do dom de um filho.

A proximidade de Deus se manifesta através de uma criança

"Em todas as partes do mundo, o nascimento de uma criança é um momento luminoso de alegria e festa, que infunde em todos bons desejos de renovação no bem, de regresso à pureza e à simplicidade. Diante de um recém-nascido, até o coração mais duro se acalenta e enche de ternura. A fragilidade de uma criança traz consigo uma mensagem tão forte que toca até as almas mais endurecidas, trazendo de volta propósitos de harmonia e serenidade. É maravilhoso o que acontece com o nascimento de uma criança", sublinhou.

Segundo o Papa, "a proximidade de Deus se manifesta através de uma criança. Deus se torna uma criança não apenas para nos maravilharmos e comovermos, mas é também para nos abrirmos ao amor do Pai e nos deixarmos moldar por Ele, para que possa curar as nossas feridas, recompor os nossos desentendimentos, pôr ordem na nossa existência".

Timor-Leste é bonito porque tem muitas crianças: sois um país jovem onde por todo o lado se sente a vida a pulsar, a desabrochar. E isso é um grande dom: a presença de tantos jovens e crianças renova constantemente a nossa energia e nossa vida.

“Mas, mais ainda, trata-se de um sinal, porque dar espaço aos mais pequenos, acolhê-los, cuidar deles, e fazermo-nos pequenos diante de Deus e diante uns dos outros, são precisamente as atitudes que nos abrem à ação do Senhor.”

Não ter medo de redimensionar os nossos projetos

De acordo com Francisco, "fazendo-nos crianças, permitimos a ação de Deus em nós. Hoje, veneramos Nossa Senhora como Rainha, isto é, a mãe de um Rei, Jesus, que quis nascer pequeno, se fazer nosso irmão, pedindo o “sim” de uma jovem humilde e frágil".

“Por isso, queridos irmãos e irmãs, não tenhamos medo de nos tornarmos pequenos diante de Deus e uns dos outros, não tenhamos medo de perder a nossa vida, de dar o nosso tempo, de rever os nossos programas e redimensionar os nossos projetos quando for necessário, não para os diminuir, mas para os tornar ainda mais belos através do dom de nós mesmos e do acolhimento dos outros.”

Segundo o Papa, "a verdadeira realeza é a de quem dá a vida por amor: como Maria, e como Jesus, que na cruz deu tudo, fazendo-se pequeno, indefeso, fraco, para dar lugar a cada um de nós no Reino do Pai. Tudo isto é simbolizado muito bem por dois belíssimos adornos tradicionais desta terra: o Kaibauk e o Belak, força e ternura do Pai e da Mãe. Assim o Senhor manifesta a sua realeza, feita de caridade e misericórdia".

Francisco concluiu, convidando cada um enquanto homem e mulher, enquanto Igreja e sociedade, a pedir "a sabedoria de refletir no mundo a luz forte e terna do Deus de amor, daquele Deus que, como rezamos no Salmo responsorial, «levanta do pó o indigente e tira o pobre da miséria, para o fazer sentar entre os grandes»".

 

-Papa em Timor-Leste: difundir o Evangelho com o seu perfume de reconciliação, paz e justiça

Na catedral de Díli, Francisco encontrou-se com os líderes pastorais do país e reiterou que anunciar Cristo significa servir os pobres, vigiando sobre nós mesmos, "porque a mediocridade e a tibieza espiritual andam sempre à espreita". "O perfume do Evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha, deturpa e destrói a vida humana", disse ainda o Papa.

O Papa Francisco encontrou-se, nesta terça-feira (10/09), com os bispos, sacerdotes, diáconos, pessoas consagradas, seminaristas e catequistas na Catedral da Imaculada Conceição, em Díli, Timor-Leste, no âmbito de sua 45ª Viagem Apostólica Internacional.

"Estou feliz por me encontrar entre vós, no contexto de uma viagem que me vê como peregrino nas terras do Oriente", disse Francisco no início de seu discurso, recordando as palavras dirigidas a ele pelo presidente da Conferência Episcopal de Timor-Leste, dom Norberto do Amaral, que definiu Timor-Leste um país “nos confins do mundo”.

No coração de Cristo as periferias da existência são o centro

“Porque está nas fronteiras, encontra-se no centro do Evangelho! Este é um paradoxo que devemos aprender: nos Evangelhos as fronteiras são o centro e uma Igreja que não é capaz de chegar às fronteiras e que se esconde no centro é uma Igreja muito doente. Uma Igreja que pensa na periferia, envia missionários, se coloca naquelas fronteiras que são o centro, o centro da Igreja. Obrigado por estar nas fronteiras. No coração de Cristo, as periferias da existência são o centro.”

"O Evangelho está repleto de pessoas, figuras e histórias que se encontram nas margens, nas fronteiras, mas são convocadas por Jesus e tornam-se protagonistas da esperança que Ele veio trazer", disse o Papa.

"Alegro-me convosco e por vós, porque sois nesta terra os discípulos do Senhor", disse Francisco, recordando "um episódio de ternura e intimidade", no Evangelho de João, "ocorrido na casa dos amigos de Jesus: Lázaro, Marta e Maria. A certa altura, durante o jantar, Maria «ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e os enxugou com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume». Maria unge os pés de Jesus e aquele perfume difunde-se pela casa".

A seguir, o Papa refletiu sobre estes dois elementos: guardar o perfume, difundir o perfume.

"Guardar o perfume. Sentimos sempre necessidade de voltar à origem do dom recebido, do nosso ser cristãos, sacerdotes, consagrados ou catequistas. Recebemos a própria vida de Deus através do seu Filho Jesus, que morreu por nós e nos deu o Espírito Santo. Fomos ungidos com o Óleo da alegria e, escreve o apóstolo Paulo, «somos para Deus o bom odor de Cristo»."

Ter consciência do dom recebido 

Caríssimos, vós sois o perfume de Cristo! E este símbolo não vos é estranho: aqui em Timor, efetivamente, crescem em abundância árvores de sândalo, com o seu perfume muito apreciado e procurado também por outros povos e Nações. A própria Bíblia enaltece o seu valor, quando narra que a Rainha de Sabá visitou o Rei Salomão, oferecendo-lhe madeira de sândalo.

“Irmãos e irmãs, vós sois o perfume do Evangelho neste país. Como uma árvore de sândalo, de folha perene, forte, que cresce e dá frutos, também vós sois discípulos missionários, perfumados com o Espírito Santo para inebriar a vida do vosso povo.”

Segundo Francisco, "o perfume recebido do Senhor deve ser guardado com cuidado, como Maria de Betânia o tinha conservado precisamente para Jesus. Também nós devemos guardar o amor com que o Senhor perfumou a nossa vida, para que não se dissipe nem perca o seu aroma".

“O que significa isto? Significa ter consciência do dom recebido, recordar que o perfume não é para nós, mas para ungir os pés de Cristo, anunciando o Evangelho e servindo os pobres; significa vigiar sobre nós mesmos, porque a mediocridade e a tibieza espiritual andam sempre à espreita.”

A propósito de mediocridade, o Pontífice lembrou-se de algo que o Cardeal De Lubac disse sobre a mediocridade e a mundanidade: “A pior coisa que pode acontecer às mulheres e aos homens da Igreja é cair na mundanidade, na mundanidade espiritual”. "Cuidado! Guardem esse perfume que tanto nos dá vida", sublinhou.

O Papa convidou os timorenses a não se descuidar "de aprofundar a doutrina cristã, de amadurecer a partir da formação espiritual, catequética e teológica", pois, disse ainda Francisco, "tudo isto serve para anunciar o Evangelho na vossa cultura e, ao mesmo tempo, para a purificar de formas e tradições arcaicas, por vezes supersticiosas. A pregação da fé deve ser inculturada na vossa cultura, e a vossa cultura deve ser evangelizada. E isso se aplica a todos os povos, não apenas a vós."

Perfume de compaixão que ajude os pobres a reerguerem-se

"Difundir o perfume. A Igreja existe para evangelizar, e nós somos chamados a levar aos outros o doce perfume da vida nova do Evangelho. Maria de Betânia não usa o precioso nardo para se perfumar a si mesma, mas para ungir os pés de Jesus, e assim espalha o aroma por toda a casa. Além disso, o Evangelho de Marcos especifica que Maria, para ungir Jesus, parte o frasco de alabastro que continha o unguento perfumado. A evangelização acontece quando temos a coragem de “partir” o frasco que contém o perfume, de quebrar a “casca” que muitas vezes nos fecha em nós mesmos e sair de uma religiosidade preguiçosa e cômoda, vivida apenas para as necessidades pessoais", disse Francisco, acrescentando:

“Também o vosso país, radicado numa longa história cristã, precisa hoje de um renovado impulso na evangelização, para que chegue a todos o perfume do Evangelho: um perfume de reconciliação e de paz, depois dos sofridos anos da guerra; um perfume de compaixão, que ajude os pobres a reerguerem-se e que suscite o compromisso em levantar os destinos econômicos e sociais do país; um perfume de justiça contra a corrupção.”

O Papa disse ainda que o "perfume do Evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha, deturpa e até destrói a vida humana, contra as chagas que geram vazio interior e sofrimento, como o alcoolismo, a violência e a falta de respeito pela dignidade das mulheres. O Evangelho de Jesus tem o poder de transformar estas realidades obscuras e gerar uma sociedade nova".

Diante do fenômeno da falta de respeito pelas mulheres, as religiosas devem levar a mensagem de que "as mulheres são a parte mais importante da Igreja, porque cuidam dos mais necessitados: curam e acompanham eles, acompanham eles. Sejam mães do povo de Deus; tenham a coragem de criar comunidades, de serem mães. É o que peço a vós".

Não pensar no ministério como um prestígio social

A seguir, o Pontífice disse aos sacerdotes: "Soube que o povo se dirige a vós com muito carinho, chamando-vos 'Amu', que é o título mais importante entre vós e significa 'senhor'".

“Isso não deve provocar em vós um sentimento de superioridade em relação ao povo: vós sois do povo. Não se deixem levar pela tentação do orgulho e do poder; não deve fazer-vos pensar no ministério como um prestígio social. Não! O ministério é um serviço. Lembremo-nos disto: com o perfume se ungem os pés de Cristo, que são os pés dos nossos irmãos na fé, começando pelos mais pobres.”

"O padre é um instrumento de bênção", disse ainda o Papa, e "nunca deve aproveitar-se da sua função, mas deve sempre abençoar, consolar, ser ministro de compaixão e sinal da misericórdia de Deus".

 

- A coragem e o zelo apostólico da Igreja timorense

Irmã Rosa, pe. Sancho e o leigo Florentino. Três testemunhas de uma história eclesial viva e apaixonada pelo Evangelho, que na Catedral da Imaculada Conceição, em Díli, contaram ao Papa a sua experiência de fé e de participação nos acontecimentos dramáticos e dolorosos de Timor-Leste.

A vivacidade da Igreja timorense e as expressões de grande afeto demonstradas ao Sucessor de Pedro nesta terra que tanto sofreu, são extraordinárias. O testemunho cristão impregnado da história de Timor-Leste saiu em diferentes estilos nas palavras de Irmã Rosa Sarmento, da Congregação das Filhas da Caridade Canossianas, do padre diocesano Sancho Amaral e do catequista Florentino de Jesus Martins, de quase noventa anos, que relatou a sua experiência eclesial antes que o Papa tomasse a palavra.

Irmã Rosa: o futuro é brilhante e promissor

Irmã Rosa destacou o florescimento de vocações sacerdotais e religiosas de que providencialmente goza Timor-Leste, um país onde o anúncio de Jesus foi levado nas pegadas de São Francisco Xavier, “um missionário de excelência do Oriente”, mas que agora envia missionários para o mundo. A religiosa está convencida de que é essa abertura fará crescer a dimensão sinodal da Igreja timorense e consolidará a fraternidade humana que já está sendo praticada ali. Ela manifesta gratidão pelo Papa ter ido até esta Igreja em saída. "Nós somos um país jovem que alvoreceu no limiar do século XXI, mas, não deixamos de ser também um território abençoado com a maioria da sua população em crianças, adolescentes e jovens. Assim, o futuro da Igreja e da Nação é risonho e prometedor", disse ela em seu testemunho.

Pe. Sancho e a resistência durante a guerra

E há ainda a audácia com que o padre Sancho enfrentou, durante o processo de independência de Timor-Leste, a transferência de Díli para Ossu do comandante-chefe Kay Rala Xanana Gusmão, acompanhando-o e enfrentando sérios perigos para a sua segurança e a de outros. A sua história nos leva de volta aos tempos sombrios da ocupação indonésia. Foi em 1991, em Díli, que lhe pediram para ir ao Leste; a oração e o discernimento fizeram com que ele decidisse ir apesar do medo e da resistência inicial. Num posto de controle, pensaram que não conseguiriam: o respeito por sua batina salvou ele e o líder da resistência. Isto permitiu que Xanana e os seus colaboradores trabalhassem com os seus companheiros na floresta. Foi uma lição aprendida na guerra: “Deus sabe cuidar daqueles que chamou para a missão”.

O catequista Florentino, a dedicação em levar o Evangelho

Por fim, a coragem de Florentino. Vestindo uma jaqueta multicolorida que o faz parecer um homem de trinta anos, ele fala diante de Francisco, contando sua longa experiência como catequista. Durante cinquenta anos foi primeiro catequista voluntário e depois permanente. Com zelo e sentido de responsabilidade percorreu vários quilômetros a pé, mesmo debaixo de chuva, para não faltar a Comunhão e a Palavra nas áreas mais internas do país. Hoje, ele tem 89 anos, sofre de Parkinson, mas resiste e quis dar o seu testemunho, continuando, como disse, a dar conselhos e apoio moral a outros catequistas que necessitam. O Papa, de improviso, ao cumprimentá-lo, comparou-o brincando a São Paulo Apóstolo: “Os lábios não se paralisaram ​​para anunciar o Evangelho e para batizar”. Como muitos outros, centenas e centenas, ele deu uma contribuição fundamental para história da Igreja timorense, assim como muitos de seus companheiros o fizeram e continuam fazendo nas terras visitadas nesta viagem apostólica do Papa que os elogiou muito e em diversas ocasiões.

Fonte: Vatican News