Na manhã deste sábado, 31 de agosto, o Papa recebeu no Vaticano os participantes do 86º Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Após as saudações iniciais, Francisco fez votos aos presentes para aproveitarem a ocasião "para se questionarem sobre o que o Senhor está pedindo", para assim "poderem continuar, hoje, a proclamar com paixão o Reino de Deus, seguindo os passos do Pobrezinho de Assis”.
Ao iniciar sua reflexão, destacou aos presentes “três dimensões da espiritualidade franciscana”, para assim poder ajudá-los “em seu discernimento e apostolado missionário: fraternidade, disponibilidade e compromisso pela paz.
Para falar sobre a fraternidade o Papa recordou o lema do Capítulo: “O Senhor me deu irmãos, para ir pelo mundo”. Esse lema, disse o Pontífice, “recorda a experiência de São Francisco, sublinhando que a missão, segundo seu carisma, nasce na fraternidade para promover a fraternidade”, explicando em seguida: “Podemos dizer que na base há uma ‘mística da colaboração’, segundo a qual, no plano de Deus, ninguém pode se considerar uma ilha, mas cada um se relaciona com os outros para crescer no amor, saindo de si mesmo e fazendo da sua própria singularidade um presente para seus irmãos”. Incentivando a “reconhecerem-se, na fé, como irmãos escolhidos, reunidos e acompanhados pela caridade providencial do Pai”, acrescentou: “deixem-se interpelar por essa verdade, especialmente no campo da formação (...) porque sem formação não há futuro”. Ao falar sobre os temas dos encontros Francisco destacou a importância de colocarem sempre no centro, as pessoas. “Aquelas a quem o Senhor os envia e aquelas com as quais lhes dá a viver, o bem delas e a sua salvação”. Sintetizando disse:
“No centro, a fraternidade, da qual eu os encorajo a se tornarem promotores em suas casas de formação, na grande família franciscana, na Igreja e em todos os âmbitos em que trabalham, mesmo à custa de renunciar, em favor dela, a projetos e realizações de outro tipo”
“Vocês, capuchinhos, têm a fama de estarem prontos para ir aonde ninguém quer ir, e isso é muito bom”, disse Francisco ao falar sobre a segunda dimensão da espiritualidade franciscana. “De fato”, continuou, “seu estilo aberto testemunha a todos que a coisa mais importante na vida é a caridade”. “Assim, vocês representam um sinal para toda a comunidade cristã, chamada a ser missionária e ‘em saída’ sempre e em todos os lugares”. Um sinal importante, especialmente em tempos como os atuais e acrescentou:
“Nesse contexto, a sua disponibilidade de se deixar envolver pessoalmente pelas necessidades de seus irmãos e de dizer com humilde coragem: ‘Eis-me aqui, envia-me!’ é um dom carismático a ser valorizado e aumentado”
Ao falar sobre a terceira dimensão da espiritualidade franciscana o compromisso pela paz, Francisco afirmou que “a capacidade de estar com todos, no meio do povo, a ponto de serem comumente considerados os ‘irmãos do povo’, ao longo dos séculos, fez de vocês ‘construtores da paz’, capazes de criar oportunidades de encontro, mediar a resolução de conflitos, aproximar as pessoas e promover uma cultura de reconciliação, mesmo nas situações mais difíceis”. Acrescentando “no entanto, como já dissemos, na base desse carisma há uma condição fundamental: estar, em Cristo, próximo a todos”.
Concluindo o Papa recordou mais uma vez o exemplo de São Francisco que foi “um homem de paz” por seus encontros nos quais encontrou Cristo, seu Salvador.
“Assim, por ter sido perdoado, se tornou portador de perdão, por ter sido amado, distribuidor de amor, por ter sido reconciliado, promotor de reconciliação. Foi a fé que fez dele, em tantas ocasiões, um instrumento de paz nas mãos de Deus, e a fé, para Ele como para nós, teve e sempre terá um vínculo vital com a proximidade aos últimos, não nos esqueçamos”.
- O Papa: mais justiça e inclusão na produção e consumo de energia
“Vocês estão comprometidos com um futuro alimentado por energia limpa” e “de fato há muita energia suja no planeta”, devido às “muitas fontes fósseis e não renováveis; mas também manchada pela injustiça, pelas guerras", "suja pelas relações de trabalho injustas, pela concentração de enormes lucros em poucas mãos, pelos ritmos de trabalho insustentáveis que poluem as relações empresariais e a alma das pessoas".
Palavras do Papa Francisco na manhã deste sábado, 31 de agosto, ao dirigir-se aos cerca de 200 dirigentes e funcionários da empresa Terna, recebidos em audiência na Sala Clementina do Palácio Apostólico. “A energia boa não é apenas uma questão tecnológica - acrescentou - e é preciso que a produção e o consumo tornem-se cada vez mais justos e inclusivos”.
“Vocês são operadores do bem comum, do bem de todos e de cada um”, continuou Francisco, referindo-se ao papel da empresa enquanto gestora da rede elétrica, sublinhando como “quando acendemos a luz em casa, não pensamos que esse gesto funciona graças ao trabalho de tantas pessoas, à sua inteligência e competência, e também aos seus sacrifícios”.
Então, seu premente apelo: “Não esqueçamos os mortos no trabalho, nas infra-estruturas energéticas e trabalhemos para que não existam mais mortes assim!”
O Pontífice observou como a inclusão energética representa hoje “um desafio multidimensional”, pois “não se pode ser cidadãos soberanos se permanecermos súditos energéticos”. Neste sentido, o convite a apoiar e encorajar “a difusão das comunidades energéticas, aquelas novas expressões de cidadania integral e de democracia, que, com esforço, também estão se desenvolvendo em Itália”.
Vocês atuam em um setor decisivo para a qualidade da vida e para a própria sobrevivência do planeta, portanto têm uma grande responsabilidade. Ouvir e tentar responder às perguntas é sempre um ato de responsabilidade, mesmo quando ainda não existem respostas concretas para dar. E, nos casos que parecem insolúveis, precisamos aprender a arte de gerir os conflitos (...) para não deixá-los degenerar e explodir; sabendo que, especialmente no setor de vocês, a solução não reside na prevalência de uma parte sobre a outra, mas sim na inovação tecnológica e na criatividade. E gostaria de sublinhar que na criatividade, para resolver conflitos, está o diálogo: é muito importante o diálogo, ser capazes de dialogar.
Congratulando-se pela presença de uma comissão de ética na empresa, o Papa destacou como “seria importante que cada grande empresa, cada grande banco tivesse uma comissão de ética, possivelmente com membros externos e independentes da propriedade e com representantes dos trabalhadores”, à luz do fato de que “os efeitos produzidos pelas grandes realidades econômicas e financeiras vão muito além das suas fronteiras”.
Referindo-se depois à expressão “rede elétrica”, como um “sistema complexo, onde tudo está conectado, onde a energia pode chegar até a última casa sobre uma colina porque por detrás desse último trecho de cabo há todo um sistema que o sustenta”, o Papa refletiu: “A rede é também uma bela metáfora da cooperação e da reciprocidade humana, da relação entre a parte e o todo”.
O Papa Francisco concentrou-se então no papel da eletricidade como infraestrutura essencial para o desenvolvimento das comunidades, especialmente das mais pobres: “Aquelas estruturas e postes que levavam a eletricidade para o campo eram recebidos com aplausos, como quando se recebe um grande presente”.
A memória do Santo Padre foi “às histórias dos nossos avós que eram agricultores, até ao dia em que ligaram o primeiro interruptor e tudo na casa se iluminou repentinamente”. Muitos, naquela noite, “fizeram uma oração para agradecer aquele ‘milagre’ que melhorou as suas vidas, que permitiu aos filhos estudar melhor e a todos tomar banho em água quente”.
Ainda hoje, em alguns povoados da África e da Ásia, mesmo na América Latina, podem-se ver aglomerados de jovens à noite, sob os poucos postes de luz, estudando, porque não têm eletricidade em casa. Não é por acaso que, durante as guerras, as primeiras infra-estruturas atingidas nas cidades são as eléctricas, porque isso afeta directamente a vida das famílias e mina o moral das pessoas”.
Por fim, o Papa destacou que o trabalho é “amor social, fraternidade civil” e que “na produção e distribuição de energia” sejam usadas a “inteligência”, a “alma”, o “coração”: “coloquem ali (...) o seu amor. Deveríamos recordar mais dele e agradecer mais."
- Vinda do Papa é um carinho para a alma, diz missionário em Papua Nova Guiné
Uma Igreja ainda jovem, viva, com poucos recursos, mas edificante, “uma aventura celestial”. Isto é o que espera o Papa em Papua Nova Guiné, segunda etapa da sua Viagem Apostólica à Ásia e à Oceania, que terá início na segunda-feira, 2 de setembro. Padre Alejandro Díaz, de origem argentina, monge do Instituto do Verbo Encarnado e missionário há um ano no povoado de Wutung, falou aos meios de comunicação do Vaticano sobre os preparativos para a chegada de Francisco.
Padre Alejandro tem uma voz pacificadora. Juntamente com um confrade, está lança os fundamentos para a construção daquele que será o primeiro mosteiro masculino de todo o país. Dentro de um ano, acredita que estará concluída a complexa fase burocrática que verá surgir a estrutura construída em um local a cerca de 40 minutos de carro de Vanimo.
O entusiasmo pelo lançamento da pedra fundamental é enorme e será partilhado com o Papa que se deslocará à cidade de Vanimo (150 mil habitantes, dos quais cerca de 45 mil são católicos) no domingo, 8 de setembro, para uma visita de algumas horas. A sua presença aqui foi desejada até ao fim por Francisco que, como se sabe, tem uma predileção pelas periferias.
“O povo espera o Papa com tanta alegria e disponibilidade para trabalhar nos preparativos. Muitos estão rezando – conta padre Díaz – anteontem atendemos a confissão de muitos professores, são muito devotos. Está sendo mostrado para a população um vídeo que fala do Papa, com menções sobre sua vida quando estave na Argentina".
De fato, o religioso recorda quando, em Buenos Aires, na paróquia onde foi pároco por oito anos, por várias vezes viu chegar o então cardeal Jorge Mario Bergoglio. Usava o transporte público para ir ao mesmo bairro onde moravam alguns de seus parentes: “Nas proximidades há um santuário dedicado a São Caetano e todo dia 7 de agosto ele ia lá celebrar a Missa. Sempre se mostrava, desde então, muito próximo das pessoas. Após a celebração passava horas e horas conversando com as pessoas, ouvindo-as, com muita afabilidade", conta o missionário.
Esse vínculo parece não ter sido rompido e agora atravessa continentes e oceanos: a chegada do Papa, assinala o sacerdote argentino, coincide também com os 25 anos desde a chegada à Papua da imagem de Nossa Senhora de Luján, reconhecida como padroeira da Argentina. “Há tantos outros lugares mais importantes do que Vanimo na Papua Nova Guiné para visitar, mas ele quer vir para cá.”
Alejandro está humildemente agradecido pela oportunidade que terá de conhecer o Pontífice, “que muito ajudou o nosso vilarejo, e quer muito conhecer a escola que foi construída em Baro graças à nossa e à sua contribuição. Ali, a nossa comunidade de seis confrades terá o privilégio de ter uma pequena conversa face-a-face com ele."
Vanimo é muito pobre, diz padre Alejandro, “mas, graças a Deus, com a ajuda de tantas pessoas, estamos conseguindo preparar esta visita. Há uma semana parecia tudo tão difícil. Faltava dinheiro para tantas coisas, para o telão, por exemplo, para equipamentos tecnológicos difíceis de encontrar. Mas, graças à ajuda do governo e da Igreja, depois de inúmeras conversas, recebemos o equipamento para podermos receber o Papa da forma mais digna possível”.
O sacerdote conta da corrente elétrica intermitente, da escassez de água potável, da falta de banheiros: “Tivemos que pensar em muitos detalhes. Temos que dar comida para quem vai vir da selva, mil pessoas. Se está trabalhando tanto com um espírito muito alegre e com muito sacrifício. As pessoas tomaram consciência do que significa que o Papa venha até aqui”.
Os indígenas irão se reunir até três dias antes para poderem se acomodar, vêm sem nada e não há hotéis capazes de hospedá-los, só há dois para quem é rico. Dormirão em uma tenda que montaremos em Vanimo". O grande problema é o transporte, explica o religioso, que não é adequado para fazer chegar todos aqueles que gostariam; as estradas são muito acidentadas: "Quem deseja ver o Papa diz que é Jesus que vem, quer ouvi-lo e receber a bênção”.
“Esperamos que encoraje a nós, missionários – é a esperança de padre Díaz –, temos tantas dificuldades, a missão é muito empenhativa. O fato de que ele venha aqui é um carinho para a nossa alma. Aqui se faz tanto, tanto, o o fato que o Papa veja, est trabalho, encherá o seu coração, temos certeza disso”.
Padre Alejandro partiu na sexta-feira para a floresta e até domingo continuará fazendo um reconhecimento pelos povoados católicos, dedicando-se, com um confrade, também à caça ao cervo. Será uma maneira de juntar alguns suprimentos. "Há muitos animais aqui, já fizemos uma boa caçada há duas semanas. Temos painéis solares e colocamos no freezer. Com 8 a 10 cervos teremos bastante comida para quem for até lá."
O religioso sublinha o quão pobre é a área onde otuam, na fronteira com a Indonésia, e também o quanto é negligenciada pelo governo. “A gasolina é muito cara (2,50 euros o litro), só há três supermercados em Vanimo e encontrar alguns alimentos é um milagre. Os navios só chegam ao porto de dois em dois meses para abastecer as lojas”.
Entre os que darão testemunho ao Papa na esplanada da Catedral da Santa Cruz, estará também um catequista. Ali, os catequistas cumprem uma função crucial para o anúncio do Evangelho: “São as pessoas que sustentam a fé nos povoados. São bem formados na fé, aos domingos distribuem a Comunhão. São a mão direita do sacerdote".
É o nascimento de um bom número de vocações locais que mais alegra o monge: “Vê-se muito a piedade religiosa da Igreja. É uma Igreja que está nascendo, tem oitenta anos, estamos semeando. e já estamos vendo os frutos: sim, são feitos muitos batismos, a participação nas liturgias eucarísticas é enorme, principalmente com jovens e crianças. Tivemos até que dizer aos coroinhas para não virem todos juntos, porque são muitos, são 25 na Missa da manhã. Obviamente, ninguém os obriga, eles o fazem porque querem”.
Normalmente a visita aos povoados acontece ao fim de semana: vai-se a dois ou três, percorrendo estradas lamacentas, com todo o tipo de obstáculos. “Às vezes chegamos tarde da noite, mas as pessoas estão à nossa espera. Confessamos, celebramos a Missa. As pessoas saem do povoado aos nos verem chegar, isso corta o teu coração, acabas chorando. Eles têm tanta sede de Deus que nos edifica a alma. Apesar de todas as dificuldades - conclui padre Díaz - esta é para mim uma aventura celestial, única, que me fortaleceu no sacerdócio, não por mérito meu, mas um enorme presente de Deus”.
Fonte: Vatican News