Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: A promessa





Reflexão para o 19º domingo do Tempo Comum| 11 de Agosto de 2024 – Ano “B” 

Uma senhora estava com o marido gravemente doente. Fez uma promessa: todo dia, por um ano inteiro, acenderia uma vela na frente da imagem de Nossa Senhora. De manhã cedo, corria para a Igreja paroquial, rezava e acendia a vela prometida. Depois de nove dias, o marido levantou da cama; estava curado. No décimo dia, a mulher viu que havia muita roupa para lavar e disse consigo mesma: “Hoje tenho muito trabalho, amanhã acenderei duas velas. 

No dia seguinte, chovia demais. Com medo de ficar toda molhada e adoecer, a mulher combinou que pagaria a promessa com três velas. Assim, dia após dia, ela encontrava sempre uma desculpa para não acender a vela combinada. Contudo, preocupava-se em manter atualizada a conta das velas. Um belo dia, descobriu que as velas tinham chegado a cinquenta. 

Logo pensou: “Se eu for agora na Igreja e acender cinquenta velas, vão achar que fiquei doida. Com isso, achou por bem desistir de tudo.

No 19º Domingo do Tempo Comum, continuamos a leitura do capítulo 6 do evangelho de João. Os judeus começaram a murmurar porque acharam incompreensível a afirmação de Jesus: “Eu sou o pão que desceu do céu”. De fato, eles conheciam bem a família daquele homem. Essa dificuldade para entender permite a Jesus retomar e aprofundar o assunto e afirmar novamente: “Eu sou o pão da vida” (v.48). 

Ele pode falar dessa forma porque tem uma familiaridade única com o Pai: “só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai” (v.46). Para entender e acreditar em Jesus precisa escutar o Pai, ser atraído e instruído por ele. Os frutos dessa “atração”: uma maior aproximação e mais fé na pessoa do próprio Jesus. Dessa intimidade seguem umas promessas dele: “Eu o ressuscitarei no último dia” (v.44), “quem crê possui a vida eterna” (v.47) e quem comer do “pão da vida” “viverá eternamente” (v.51). 

Mas que “pão” é esse? Eis a explicação final: “E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (v.51).  Podemos entender essas palavras porque já conhecemos a Eucaristia e as palavras do “memorial”: “Isto é o meu corpo que é dado…Este é o meu sangue derramado”. É a carne-vida doada de Jesus no sinal do pão repartido, é o seu sangue derramado na cruz, no sinal do vinho.

Precisamos compreender, na linguagem do evangelista João, as palavras de Jesus e como a Eucaristia – o pão vivo descido do céu – seja “promessa” ou “penhor” de vida: “quem dele comer, nunca morrerá” (v.50). De qual vida e de qual morte estamos tratando? Deve ficar claro que estamos falando da vida de Deus, somente ele é a Vida em plenitude. 

Ao contrário, nós experimentamos todo dia a fragilidade da nossa existência humana e o nosso inexorável caminho rumo à morte. No entanto, a nossa passagem neste mundo pode ser uma simples e banal espera do dia da despedida ou um caminho de vida. Isso acontece à medida que damos um sentido grande, positivo e confiante à nossa caminhada neste mundo. 

Todo dia, somos chamados a escolher entre a vida e a morte, quando decidimos se amamos ou não, se fazemos o bem ou não, se doamos e promovemos vida ou, simplesmente, fechamo-nos no cuidado exclusivo da nossa sobrevivência. Jesus quis ser solidário conosco assumindo a nossa “carne” mortal e prometeu mais do que “a ressurreição no último dia”. Ele disse: “Quem crê possui a vida eterna”. Ele nos convida a passar por esta vida acreditando nele, confiando nele, aprendendo a viver com ele e como ele. Esse é o grande desafio e, ao mesmo tempo, a “boa notícia” da vida cristã. 

Todos arriscamos com as nossas escolhas na vida conforme o que acreditamos ou nos fazem acreditar os “ídolos” deste mundo. Uma vivência amorosa e fraterna é já vida “divina”, é já plenitude de sentido, é vida “nova” numa sociedade cheia de conflitos e indiferença. Essa “posse” da vida plena não é, portanto, somente uma promessa para o futuro. 

É um verdadeiro dom do Pai, junto com a luz da fé, que nos permite continuar a enxergar com esperança além das circunstâncias mais escuras da nossa existência. Ou, se preferem, é a luz plena do encontro com o Pai, que almejamos alcançar um dia e que, desde já, clareia e dá sentido ao nosso tatear neste mundo. Doidice? Para quem não crê. Para nós é fé, esperança e amor. É o nosso Deus. 

Por Dom Pedro José Conti

 

Fonte: Diocese de Macapá