Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: Uma difícil missão





Reflexão para o 15º domingo do Tempo Comum| 14 de Julho de 2024 – Ano “B”  

São Gregório, o Taumaturgo (213?-270?), depois de uma juventude serena e reflexiva, transcorrida no estudo das ciências humanas e divinas, decidiu retirar-se no deserto e viver em solidão. Conhecendo as capacidades dele, o bispo de Amaséia decidiu que devia ser padre. Entre ele e o santo travou-se uma verdadeira luta. O bispo queria absolutamente ordená-lo, mas Gregório não se achava à altura da missão. Depois de muita insistência, ele teve que ceder. 

Foi arrancado do deserto, consagrado bispo e logo encarregado da comunidade de Cesareia formada por algumas dezenas de milhares de pessoas, todas pagãs, menos 17 cristãos. Com a santidade da sua vida e com os milagres que foram a consequência disso, concluiu os seus dias depois de ter ganhado todos a Cristo. Essa era a realidade dos primeiros séculos da Igreja.

Na página do evangelho de Marcos do 15º Domingo do Tempo Comum encontramos o chamado dos doze apóstolos e o envio deles em missão. Jesus lhes confia a pregação retomando o seu convite inicial à conversão ou ao arrependimento (Mc 1,15). Alguns sinais acompanharão as palavras deles: o poder sobre os espíritos impuros, a expulsão de demônios e a cura de “numerosos doentes ungindo-os com óleo”. 

Entendemos que esses são os mesmos “sinais” de libertação que o próprio Jesus manifestava com o seu agir. Ele promovia uma grande “reconciliação”, uma vida “nova” de saúde, paz e misericórdia para os doentes, os pobres e os pecadores que não podiam cumprir as normas da Lei e se sentiam, portanto, excluídos do amor de Deus Pai. Nesse sentido, compreendemos as exigências que Jesus coloca para os missionários. Eles devem ir de dois em dois. Isso significa dar exemplo de trabalho em conjunto, proclamar a mesma mensagem, caminhar unidos, formar comunidade. 

Não é possível querer ensinar a comunhão aos outros se os discípulos não vivem, por primeiro, a fraternidade entre si, o que diz muito para nós hoje. Depois vem a falta de recursos. A simplicidade e a pobreza são sinais de confiança na providência de Deus, mas também a esperança de acolhida nas casas que irão visitar. Para caminhar servem um cajado e as sandálias, porém a bagagem nas costas deve ser leve, não precisa carregar um guarda-roupa inteiro. 

Além disso, devem ser colocados na conta o possível fracasso, as portas e os corações fechados. Nem todos estarão dispostos a acolher aqueles desconhecidos, sem títulos, sem bens para oferecer, além de palavras bonitas e desafiadoras.

Hoje diríamos: por que tanta falta de organização? E se acontecer algum imprevisto? A falta de segurança e o despojamento dos mensageiros deviam servir para que eles não chamassem tanta atenção sobre si, como faziam certos pregadores itinerantes que cobravam caro pelos seus ensinamentos. Somente assim, a mensagem da conversão era visivelmente apresentada por meio das atitudes e das palavras dos próprios mensageiros. 

Não teria servido para nada anunciar a novidade do Reino de Deus e depois surpreender as pessoas com aparências chamativas ou humilhar os pobres com luxo e poder. À essencialidade da Boa Notícia devia, e deve, corresponder à essencialidade da vida das testemunhas. Obviamente, naquele tempo, não se falava de Pastoral da Visitação e, menos ainda, de Projetos de Evangelização. Com isso, não quero dizer que os Planos de Pastoral sejam inúteis. 

Ao contrário, precisamos conhecer bem a realidade e ter claros objetivos e meios da ação evangelizadora da Igreja. A busca da eficiência ajuda a não desperdiçar oportunidades e recursos. No entanto, não podemos absolutamente esquecer a ação misteriosa do Divino Espírito Santo. 

Atividades organizadas, eventos e momentos participativos, grandes ou costumeiros, como as nossas Missas dominicais e festivas, não excluem os encontros pessoais, as conversas fraternas, o “corpo a corpo” da partilha fraterna da fé, da oração, da benção de quem ainda a pede, da escuta de quem chora, do sorriso para quem está triste e abatido. 

A missão continua difícil, mas muitos ou poucos milagres, a curto ou longo prazo, para quem acredita, sempre acontecem.

Por Dom Pedro José Conti

 

Fonte: Diocese de Macapá