O Papa Francisco recebeu no Vaticano as credenciais dos novos embaixadores junto à Santa Sé dos seguintes países: Etiópia, Zâmbia, Tanzânia, Burundi, Catar e Mauritânia. O Papa iniciou sua saudação sugerindo uma breve reflexão sobre três palavras : família, esperança e paz, “que podem orientá-los em seu serviço”.
Ao falar sobre a família, primeira palavra proposta, recordou que embora cada um tenha sua própria história, cultura tradição e identidade “ao mesmo tempo fazem parte de uma única família humana”. “O nobre trabalho da diplomacia”, continuou Francisco, “em ambos os níveis, bilateral e multilateral, visa promover e fomentar esses valores, que são indispensáveis para o desenvolvimento autêntico e integral de cada pessoa, bem como para o progresso dos povos”. Depois de citar os vários flagelos que afligem as famílias das nações, com guerras, refugiados, saúde inadequada, falta de comida, água, tráfico de pessoas, as mudanças climáticas e suas vítimas, sobretudo entre os mais frágeis disse que “estes desequilíbrios globais contribuem à perda da esperança, especialmente entre os jovens”.
“À luz desses desafios, é essencial engajar-se em um diálogo prospectivo, construtivo e criativo, baseado na honestidade e na abertura, para encontrar soluções compartilhadas e fortalecer os laços que nos unem como irmãos e irmãs na família global”
“Nesse sentido”, continuou, “também devemos nos lembrar de nossas obrigações com as gerações futuras, perguntando-nos em que tipo de mundo queremos que nossos filhos e aqueles que virão depois deles vivam”. Ponderando ainda que a resposta está na segunda palavra proposta como reflexão; “esperança”.
“Diante da incerteza sobre o futuro, é fácil ficar desanimado, pessimista e até cínico. No entanto, a esperança nos leva a reconhecer o bem que está presente no mundo e nos dá a força necessária para enfrentar os desafios de nossos dias”
“Por esse motivo”, disse ainda o Pontífice, “gosto de pensar em vocês, queridos embaixadores, como sinais de esperança, porque são homens e mulheres que buscam construir pontes entre os povos, e não muros”.
Com relação à terceira palavra a ser refletida, a paz, o Papa recordou que esta é “fruto de relacionamentos que reconhecem e acolhem o outro em sua dignidade inalienável”. Reiterando em seguida que “somente quando deixamos de lado a indiferença e o medo é que um clima genuíno de respeito mútuo pode florescer, levando a uma concórdia duradoura”. Concluiu o encontro com este auspício: “Espero que, no exercício de seu papel como diplomatas, vocês sempre se esforcem para ser pacificadores, aqueles abençoados pelo Todo-Poderoso”.
- O Papa: não transformemos a água em objeto de exploração
O Papa Francisco escreveu uma mensagem ao Embaixador da Costa Rica junto à Santa Sé, Sr. Federico Zamora Cordero, agradecendo o convite para participar do Evento de Alto Nível sobre a Ação Oceânica “Imersos em Mudanças”, que se realiza em San José nos dias 7 e 8 de junho.
Francisco inicia sua mensagem recordando a emblemática imagem da cidade de Roma com o deus grego Oceano que percorre as ruas da cidade com sua carruagem de cavalos marinhos guiada por tritões, “como se a cidade estivesse imersa no domínio do mar”. E explica: “Dessa forma, os antigos queriam celebrar a chegada da água ao centro da cidade, que assim recuperou sua majestade após anos de fome e carestias, impostos pelas guerras que destruíram suas infraestruturas”. Ponderando em seguida “A água é necessária para a vida do homem, nenhum progresso, nem mesmo o social, pode subsistir sem ela; até mesmo a grande cidade de Roma está imersa no oceano conceitual do poder das águas. Aqueles que nos antecederam a honraram, não apenas em sua arte, mas com orações em louvor ao Criador".
Depois afirma que “é lamentável notar que deturpamos esses epítetos ao transformar o que é útil, como a água, em um objeto de exploração”. “Ultrajamos a água, que realiza um trabalho humilde e silencioso para o bem comum. E, em vez de considerar esse dom de Deus como precioso, nós o transformamos em uma moeda de troca, um motivo de especulação e até mesmo um veículo de extorsão”, afirma ainda o Papa. “São Francisco de Assis”, continua, “no Cântico das Criaturas, evoca-a como “irmã água”, chamando-a de “útil, humilde, preciosa e casta”. Ainda citando Roma, recorda que “a Acqua Vergine que brota da Fontana de Trevi deve seu nome a uma jovem donzela do vilarejo que corajosamente indicou aos legionários romanos onde ficava a fonte, que também era altamente valorizada por sua pureza. Toda essa bondade que a água proporciona às pessoas simples corre o risco de ser quebrada pela maldade, pelo egoísmo e desprezo pelos outros”.
Concluindo sua mensagem afirma: “Que a imagem dessa bela fonte romana nos ajude a perceber que toda a nossa civilização está imersa no oceano, que entendamos que é necessária uma mudança radical para recuperar o significado desses adjetivos de São Francisco: útil, humilde, preciosa e casta". Destacando tais palavras conclui: "Valorizemos sua utilidade comum na segurança alimentar, seu humilde trabalho na regulação do clima, lutemos contra a poluição para restaurar sua preciosa beleza e não violemos sua pureza, deixando-a como um legado para as próximas gerações”.
- Papa aos corais: sois depositários do tesouro da arte e da beleza
“Sois depositários dum tesouro secular de arte, beleza e espiritualidade”: foi o que disse o Papa Francisco recebendo na manhã deste sábado, na Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de 4 mil especialistas em música sacra e litúrgica presentes no Vaticano para o IV Encontro Internacional de Corais. O encontro se realiza em comemoração ao aniversário de 40 anos de fundação do Coro da Diocese de Roma, fundado por monsenhor Marco Frisina, que conduziu os trabalhos do evento de três dias.
Antes, porém, o Papa citou a espontaneidade das crianças na Sala Paulo VI, "que fala mais alto do que os melhores discursos". “Elas são assim, elas se expressam como são. Devemos cuidar das crianças porque elas são o futuro, são a esperança, mas também são o testemunho da espontaneidade, da inocência e da promessa”. E sempre por essa razão Jesus disse que queria as crianças por perto. As crianças são os privilegiados. É por isso que Jesus disse: “O Reino de Deus pertence àqueles que são como crianças”. Devemos aprender com essa espontaneidade que as crianças nos mostraram. E elas não vieram por causa dos doces - depois perceberam que havia doces - mas vieram porque gostaram de vir. Elas são assim. Não vamos nos esquecer da lição que elas nos deram hoje.
Depois de dar as boas-vindas aos presentes e agradecer, em particular, o maestro monsenhor Marco Frisina e a Nova Opera por terem promovido esta iniciativa, o Papa disse que esse aniversário é um estímulo a prosseguir o serviço precioso que prestam em Roma e em tantas partes do mundo.
O encontro, já na sua quarta edição, reúne coros paroquiais e diocesanos, scholæ cantorum, capelas de música, maestros e músicos e os presentes vieram ao Vaticano – destacou Francisco - para aprofundar juntos o significado da música ao serviço da liturgia; “e é bom ver-vos aqui, até porque, vindos de lugares diferentes mas unidos pela fé e pela paixão musical, sois um forte sinal de unidade”, disse. Em seguida o Papa chamou a atenção para três aspetos essenciais do serviço prestado pelos coros: a harmonia, a comunhão e a alegria.
Em primeiro lugar: a harmonia. A música gera harmonia, - disse o Santo Padre - chegando a todos, consolando os que sofrem, devolvendo entusiasmo aos que estão desanimados e fazendo florescer em cada um valores maravilhosos como a beleza e a poesia, reflexo da luz harmoniosa de Deus. “De fato, a arte da música tem uma linguagem universal e imediata, que não requer traduções nem grandes explicações conceptuais. Os simples e os eruditos podem apreciá-la, compreendendo cada qual ora um aspeto e ora outro, com mais ou menos profundidade, mas todos bebendo da mesma riqueza”.
Além disso, a música educa para a escuta, a atenção e o estudo, elevando as emoções, os sentimentos e os pensamentos, conduzindo as pessoas para fora do turbilhão da pressa, do barulho, de uma visão meramente material da vida, e ajudando-as a contemplar-se melhor a si mesmas e à realidade que as rodeia.
Segundo: a comunhão. O canto coral faz-se em conjunto, não sozinho, salientou Francisco.
“E isto fala-nos também da Igreja e do mundo em que vivemos. De fato, o nosso caminhar juntos pode ser representado como a execução de um grande “concerto”, no qual cada um participa com as suas capacidades e oferece o seu contributo, tocando ou cantando a “parte” que lhe cabe e redescobrindo assim a sua singularidade enriquecida na sinfonia da comunhão”.
O Papa então salientou que num coro ou numa orquestra, todos precisam uns dos outros, e o sucesso do desempenho global é condicionado pelo empenho de cada um, pelo fato de cada elemento contribuir na sua função o melhor que pode, respeitando e ouvindo os que o rodeiam, sem protagonismos, em sintonia.
“Da mesma maneira deve acontecer na Igreja e na vida, onde cada qual é chamado a fazer bem a sua parte em benefício da inteira comunidade, para que de todo o mundo se eleve a Deus um cântico de louvor”.
Finalmente, em terceiro lugar, a alegria. “Sois depositários dum tesouro secular de arte, beleza e espiritualidade. Não permitais que a mentalidade do mundo o polua com interesses, ambições, ciúmes, divisões que, como bem sabeis, podem infiltrar-se na vida de um coro, como na de uma comunidade, tornando-os lugares não já alegres, mas tristes e pesados, acabando por os desintegrar”.
Far-vos-á bem, pelo contrário, - disse o Papa - manter elevado o teor espiritual da vossa vocação: com a oração e a meditação da Palavra de Deus, participando não só com a voz, mas também com a mente e o coração nas liturgias que animais, e vivendo dia a dia com entusiasmo os seus conteúdos, para que a vossa música seja cada vez mais uma feliz elevação do coração até Deus, que com o seu amor tudo atrai, ilumina e transforma.
O Papa concluiu agradecendo a visita e sobretudo pelo serviço à oração da Igreja e à evangelização que cada um presta. “Acompanho-vos com a minha bênção. E peço-vos por favor que, enquanto cantais, rezeis também por mim”.
Fonte: Vatican News