“Shalom, paz, salam”
Exatamente oito meses após o início da brutalidade na Terra Santa e dez anos depois do plantio da oliveira nos Jardins do Vaticano, que reuniu os então presidentes de Israel e da Palestina: nessa conjuntura histórica e temporal, o Papa voltou a elevar aos céus uma invocação que transcende todas as fronteiras geográficas, religiosas e linguísticas. É a súplica de um pai que implora ao Pai de todos, Deus, o fim da violência, das divisões, do ódio; frutos - diz ele - de “lutas pelo poder entre diferentes grupos sociais”, de “interesses econômicos partidários”, de “atos de equilíbrio político internacional”. O discurso do Papa se expressou em apelos concretos por um cessar-fogo em Gaza, pela libertação dos reféns israelenses, pelo acesso à ajuda humanitária para os palestinos e no convite aos chefes das nações e às partes em conflito para que “encontrem o caminho da concórdia e da unidade”.
Após sua viagem a Jerusalém em 2014, Francisco convidou o então presidente de Israel, Shimon Peres (falecido em 2016), e o presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, no Vaticano. Com eles, caminhou pelo coração verde do Vaticano e plantou uma oliveira, símbolo por excelência da paz. E foi este evento que o Papa recordou na tarde deste 7 de junho, exatamente no mesmo lugar de 10 anos atrás, agora ao lado da oliveira hoje "forte e viçosa". "Do mesmo modo, devemos pedir a Deus que a paz possa germinar no coração de cada homem, em cada povo e Nação, em cada faixa de terra, protegida dos ventos da guerra e regada por aqueles que, todos os dias, se esforçam por viver em fraternidade.
O Pontífice citou outro abraço, desta vez ocorrido poucos dias atrás por ocasião de sua viagem a Verona, em que duas vítimas da guerra na Terra Santa discursaram lado a lado:
"Não deixemos de sonhar com a paz, que nos dá a alegria inesperada de nos sentirmos parte de uma única família humana. Esta alegria pude vê-la há poucos dias em Verona, no rosto daqueles dois pais, um israelense e um palestino, que se abraçaram diante de todos. É disto que Israel e a Palestina precisam: um abraço de paz!"
Há meses, recordou o Papa, assistimos a um crescente rastro de hostilidade e vemos morrer tantos inocentes diante dos nossos olhos. Todo este sofrimento, a brutalidade da guerra, a violência que desencadeia e o ódio que semeia nas gerações futuras deveriam convencer-nos de que toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou.
“A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal”
O Papa então revelou a sua oração diária: "Diariamente rezo para que esta guerra chegue ao fim, de uma vez por todas. Penso naqueles que sofrem, em Israel e na Palestina: cristãos, judeus e muçulmanos. Penso em quão urgente é que a decisão de parar com as armas surja finalmente dos escombros de Gaza e, por isso, peço um cessar-fogo; penso nos familiares e nos reféns israelenses, e peço que sejam libertados o mais rapidamente possível; penso na população palestina, e peço que seja protegida e receba toda a ajuda humanitária necessária; penso em tantas pessoas deslocadas por causa dos combates, e peço que as suas casas sejam reconstruídas rapidamente, para que a elas possam regressar em paz. Penso também naqueles palestinianos e israelitas de boa vontade que, entre lágrimas e sofrimentos, não deixam de aguardar, na esperança, a chegada de um novo dia".
O Pontífice concluiu seu discurso com uma oração: Abri os nossos olhos e os nossos corações e dai-nos a coragem de dizer: «nunca mais a guerra»; «com a guerra, tudo fica destruído»! Infundi em nós a coragem de realizar gestos concretos para construir a paz. (...) Senhor, desarmai a língua e as mãos, renovai os corações e as mentes, para que a palavra que nos faz encontrar seja sempre «irmão», e o estilo da nossa vida se torne: shalom, paz, salam! Amém.
No final da cerimônia, antes das saudações a cada um dos presentes, o rabino Alberto Funaro, chefe do Templo Maior de Roma, e Abdellah Redouane, secretário-geral do Centro Cultural Islâmico da Itália, e os embaixadores na Santa Sé de Israel e da Palestina se aproximam do Papa. Juntos, eles se voltaram para a oliveira plantada em 2014 e a regaram, renovando as esperanças e orações expressas naquela mesma ocasião.
O Papa Francisco encontrou na manhã desta sexta-feira, 7 de junho, os 35 estudantes da Pontifícia Academia Eclesiástica, a instituição que vem preparando os diplomatas da Santa Sé há mais de três séculos. Os sacerdotes estavam acompanhados pelo presidente, arcebispo Salvatore Pennacchio, pelo ecônomo e prefeito de estudos, monsenhor Gabriel Viola, e pelo padre espiritual, o jesuíta Orlando Torres.
Ao apresentar a comunidade, o presidente fez uma introdução especial aos 14 alunos que, tendo completado seus cursos acadêmicos, estão se preparando para partir nos próximos meses para o Ano missionário. Depois de ouvir seus destinos, o Papa recordou o significado de seu pedido, expresso há quatro anos ao então presidente da Academia, arcebispo Joseph Marino: formar os futuros diplomatas da Santa Sé para estarem próximos do povo de Deus, especialmente nas terras de missão mais distantes. Isso, além de reavivar seus corações como pastores, será um poderoso antídoto para o mundanismo espiritual, um risco ao qual o serviço diplomático pode expor. Francisco então aconselhou todos os alunos, mas especialmente os que partem em missão, a levarem consigo para leitura e meditação a exortação apostólica Evangelii nuntiandi de seu predecessor, São Paulo VI, que continua atual.
No decorrer da conversa, estimulado por algumas perguntas dos alunos, Francisco compartilhou quais são as características de um diplomata chamado a representá-lo junto às Igrejas locais e à família das Nações: ao lado da proximidade descrita no início do encontro, há a astúcia exigida por um trabalho tão necessário quanto difícil, sempre acompanhado pela piedade, ou seja, um relacionamento intenso com o Senhor. Entre os temas abordados, não poderia faltar uma referência ao contexto da “guerra mundial em pedaços” que estamos vivendo, também na Europa. O Papa recordou o trabalho de tantos núncios apostólicos em zonas de conflito para promover o diálogo entre as partes em conflito e defender as vítimas da guerra, de acordo com os princípios do direito humanitário. As perguntas subsequentes permitiram que o Santo Padre voltasse às habilidades que os futuros diplomatas pontifícios devem cultivar durante seus anos de formação em Roma.
Por fim, aproveitando a solenidade de hoje do Sagrado Coração de Jesus, Francisco convidou os alunos da Pontifícia Academia Eclesiástica a serem sacerdotes que perdoam tudo aos fiéis que os procuram para o sacramento da reconciliação. Que sejam no amanhã, como núncios apostólicos, pastores misericordiosos. Depois de pedir para ser lembrado na oração, o Papa concluiu o encontro abençoando e saudando os presentes um a um.
Fonte: Vatican News