Um famoso palestrante ganhava a vida como especialista em educação. O auditório lotava para ouvir suas orientações. Título da palestra: “Os dez mandamentos para educar os filhos”. Tinha resposta para tudo. Era solteiro e sem filhos. Um dia, casou-se com a mulher dos seus sonhos e nasceu o primeiro filho. Diante da nova realidade, mudou o título da palestra: “Dez regras de ouro para a educação dos filhos”.
O tempo passou e o palestrante tornou-se pai pela segunda vez. Continuou a dar palestras, com mais humildade. O título agora era: “Dez sugestões para educar os filhos”. A autossuficiência foi substituída pela humildade. A teoria precisou levar em conta a prática.
No domingo após Pentecostes, festejamos a Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, um único Deus em três pessoas. Usamos para essa realidade divina a palavra “mistério” não porque seja simplesmente incompreensível em si, mas porque sendo algo que diz respeito a Deus, ele estará sempre além dos nossos raciocínios e das nossas experiências. Contudo, nós cristãos acreditamos que foi o próprio Deus a se revelar como Pai, Filho e Espírito Santo e, se assim ele quis ser reconhecido e amado, este “mistério” deve ter um valor e um sentido para a nossa fé e, mais ainda, para a nossa vida.
De fato, a partir das Sagradas Escrituras não é difícil perceber como Deus se fez conhecer, digamos, aos poucos, com “acontecimentos e palavras intimamente conexos entre si” (Dei Verbum n.2). É possível vislumbrar alguma antecipação da Santíssima Trindade já no Antigo Testamento, mas é somente no Novo que nos é revelado o projeto amoroso do Pai que envia o seu Filho. Este comunica aquilo que “ouviu” do Pai (Jo 15,15) e nos ensina a confiar e a orar chamando-o, nós também, de “pai nosso”. Por sua vez, o Filho doa aos seus discípulos o Espírito Santo e garante que ele nos conduzirá no conhecimento da verdade (Jo 16.13).
No trecho do evangelho de Mateus, proclamado neste domingo, escutamos Jesus enviando os discípulos em missão e a batizar todos os povos “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).
Essa “autorrevelação” de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo nos permite afirmar que o nosso Deus é um “mistério de unidade e de amor” ou, para usar uma palavra que resume tudo isso: um “mistério de comunhão”. Com efeito, para amar precisa ter alguém diferente de nós que possa ser amado e nos amar também. Um solitário não teria ninguém para amar e ser amado.
Ao mesmo tempo, o amor realiza algo novo nas pessoas que se amam, o encontro se torna cada vez mais profundo e entre elas surge uma união impensável antes. Outra característica de uma amor verdadeiro é a necessidade de se comunicar, de se expandir (ou “transbordar”, como diz papa Francisco) para que outros participem dessa alegria. O nosso Deus é assim. Na sua absoluta perfeição e na sua plenitude de amor, ele não precisava de nada, mas quis que outros o conhecessem e experimentassem a maravilha do seu amor-comunhão. Então “Deus criou o ser humano à sua imagem, a imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou” (Gn 1,27).
Por isso, nós acreditamos que no fundo do coração de todo ser humano existe uma grande sede de amor, unidade e comunhão também se, muitas vezes, experimentamos o mal como divisão, conflito, exclusão do outro. Mas o projeto do nosso Deus, que é amor-comunhão, só pode ser o de uma humanidade unida e fraterna. Existimos para nos ajudarmos uns aos outros, para caminharmos juntos e não para desperdiçarmos as nossas capacidades no ódio ou na indiferença. Tudo isso parece uma bela teoria, algo inalcançável. No entanto, se lembramos, as horas mais felizes das nossas vidas foram, com certeza, alguns momentos de paz e de união das nossas famílias, das nossas comunidades ou quando povos inteiros depuseram as armas e as trocaram pela colaboração e a ajuda.
Não adianta fazer palestras bonitas sobre o amor, a paz e vida fraterna, se não passarmos da teoria à prática. Só poderemos descobrir um pouco da maravilha da Santíssima Trindade praticando a comunhão no dia a dia, com muita humildade, mas também com coragem e determinação.
Por Dom Pedro José Conti
Fonte: Diocese de Macapá