O Espírito Santo, para nós, é testemunha de "um diálogo belíssimo: aquele em que o Pai e Filho expressam seu amor um pelo outro", disse o Papa Francisco antes de rezar o Regina Caeli no Domingo de Pentecostes.
"São palavras – explicou aos milhares de peregrinos presentes na Praça São Pedro - que expressam sentimentos maravilhosos, como carinho, gratidão, confiança, misericórdia. Palavras que nos permitem conhecer um lindo relacionamento, luminoso, concreto e duradouro como é o Amor eterno de Deus”.
Para Francisco, “são precisamente as palavras transformadoras de amor, que o Espírito Santo repete em nós e que nos faz bem ouvir".
“Por isso – continuou – é importante que nos alimentemos dele todos os dias, lendo e meditando a Palavra de Deus, levando-a conosco em um Evangelho de bolso, aproveitando os momentos favoráveis".
"O padre e poeta Clemente Rebora, falando da sua conversão, escreveu no seu diário: "E a Palavra calou as minhas murmurações!" – recordou o Papa –. Ouvir a Palavra de Deus silencia as murmurações."
“Eis como dar espaço em nós à voz do Espírito Santo – reiterou. E depois, na Adoração e na oração, especialmente aquela simples e silenciosa. E também ao pronunciarmos palavras boas entre nós, fazendo-nos eco da doce voz do Consolador".
Para o Pontífice, “ler e meditar o Evangelho, rezar em silêncio, dizer boas palavras, não são coisas difíceis, todos nós podemos fazer isso. É mais fácil do que insultar, ficar com raiva".
“E então nos perguntamos - acrescentou -: que lugar essas ações ocupam na minha vida? Mas como posso cultivá-la, para melhor escutar o Espírito Santo e torne-se seu eco para os outros?".
“Que Maria, presente no Pentecostes com os Apóstolos, nos torne dóceis -à voz do Espírito Santo", concluiu, para então rezar a oração do Regina Coeli.
- O Espírito nos dá força para seguir em frente, chamar e acolher a todos, diz Francisco
Segue a homilia do Santo Padre na Missa na Solenidade de Pentecostes, concelebrada na Basílica de São Pedro:
"Na narração do Pentecostes (cf. At 2, 1-11), mostram-nos um duplo âmbito de ação do Espírito Santo na Igreja: em nós e na missão, com duas caraterísticas, ou seja, força e gentileza. Meditemos sobre isto.
A ação do Espírito em nós é forte como simbolizam os sinais do vento e do fogo, que aparecem na Bíblia, frequentemente, associados com a força de Deus (cf. Ex19, 16-19). Sem essa força, nunca conseguríamos vencer os desejos da carne de que fala São Paulo, vencer aqueles impulsos da alma, a impureza, a idolatria, as discórdias, as invejas, e com o Espírito se pode vencer, Ele nos dá a força para fazer porque Ele entra no nosso coração árido, duro e frio, arruinando as nossas relações com os outros e dividindo as nossas comunidades. E ele entra neste coração e cura tudo.
Isto mesmo nos mostra Jesus, quando, impelido pelo Espírito, Se retira durante quarenta dias para o deserto (cf. Mt 4, 1-11) a fim de ser tentado. Também durante esse tempo cresce a sua humanidade, que se revigora preparando-se para a missão.
Ao mesmo tempo, a ação do Paráclito em nós é genti, é forte e gentil. O vento e o fogo não destroem nem reduzem a cinza o que tocam: um enche a casa onde se encontram os discípulos e o fogo pousa delicadamente, em forma de chamas, sobre a cabeça de cada um dos presentes. Esta delicadeza é também um traço da ação de Deus, que encontramos muitas vezes na Bíblia.
E é maravilhoso ver como a mesma mão robusta e calejada que, primeiro, desenterrou os torrões das paixões, depois depõe delicadamente as plantinhas da virtude, rega-as, cuida delas (cf. Sequência «Veni Sancte Spiritus») e protege-as amorosamente a fim de crescerem e se robustecerem, permitindo-nos saborear, depois do cansaço da luta contra o mal, a doçura da misericórdia e da comunhão com Deus. Assim é o Espírito: forte, dá-nos força para vencer, e também delicado. Fala-se da unção do Espírito, o Espírito nos unge, está conosco. Como diz uma bela oração da Igreja antiga: “Que a tua mansidão permaneça, ó Senhor, comigo e assim possam os frutos do teu amor!” (Odes de Salomão, 14,6).
Tendo descido sobre os discípulos e colocando-se a seu lado – isto é «paráclito»–, o Espírito Santo atua transformando os seus corações e infundindo neles uma «audácia que os leva a transmitir aos outros a sua experiência de Jesus e a esperança que os anima» (São João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio, 24). Vemo-lo na resposta de Pedro e João, quando o Sinédrio lhes quis impor «a proibição formal de falar ou ensinar em nome de Jesus»: «Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 18.20). E para responder isso têm a força do Espírito Santo.
Isto reveste-se de grande importância também para nós, que recebemos o dom do Espírito no Batismo e na Confirmação. Como os Apóstolos, do «cenáculo» desta Basílica somos enviados hoje, especialmente, a anunciar o Evangelho a todos, indo «sempre mais além, não só em sentido geográfico, mas também ultrapassando barreiras étnicas e religiosas, até se chegar a uma missão verdadeiramente universal» (Redemptoris missio, 25). E, graças ao Espírito, podemos e devemos fazê-lo com a mesma força e a mesma gentileza.
Com a mesma força: isto é, não com prepotência e imposição: o cristão não é prepotente, a sua força é outra, é a força do Espírito; nem com cálculos e astúcia, mas fazê-lo com a energia que vem da fidelidade à verdade, que o Espírito ensina aos nossos corações e faz crescer em nós. E assim nos rendemos, nos rendemos ao Espírito, não nos rendemos à força do mundo, mas continuamos a falar de paz a quem quer a guerra, a falar de perdão a quem semeia vingança, a falar de acolhimento e solidariedade a quem tranca as portas e ergue barreiras, a falar de vida a quem escolhe a morte, de respeito a quem gosta de humilhar, insultar e descartar, a falar de lealdade a quem rejeita qualquer vínculo, confundindo liberdade com um individualismo superficial, opaco e vazio. Sem nos deixarmos amedrontar pelas dificuldades, zombarias e oposições que, hoje como ontem, nunca faltam na vida apostólica (cf. At 4, 1-31).
E ao mesmo tempo que o fazemos com esta força, o nosso anúncio pretende ser gentil, para acolher a todos - não esqueçamos isto: todos, todos, todos; não esqueçamos aquela parábola dos convidados para a festa que não quiseram ir: “Ide às encruzilhadas e convidai todos quantos achardes, todos, todos, todos, bons e maus, todos”. O Espírito nos dá força para seguir em frente e chamar a todos, com aquela gentileza… nos dá a gentileza de acolher a todos.
Todos nós, irmãos e irmãs, temos tanta necessidade de esperança, que não é otimismo, não, não, é outra coisa. Temos necessidade de esperança, a esperança é representada como aquela âncora, ali, na praia, e nós, com a corda, rumo à esperança. Temos necessidade de esperança, temos necessidade de elevar o olhar para horizontes de paz, de fraternidade, justiça e solidariedade. Tal é o único caminho da vida, não há outro. É certo que o mesmo, muitas vezes infelizmente, não se apresenta fácil, antes aparece tortuoso e em subida, o cam,inho, é verdade. Mas sabemos que não estamos sozinhos, temos essa segurança que com a ajuda do Espírito Santo, com os seus dons, juntos podemos percorrê-lo e torná-lo sempre mais acessível também para os outros
Renovemos irmãos e irmãs a nossa fé na presença do Consolador ao nosso lado e continuamos a rezar:
Vinde, Espírito Criador, iluminai as nossas mentes,
enchei da vossa graça os nossos corações, guiai os nossos passos,
dai ao nosso mundo a vossa paz. Amém!
- Papa: que o Espírito conduza os líderes das nações a abrir as portas da paz
Dirigindo-se aos fiéis presentes na Praça São Pedro após rezar o Regina Coeli, o Papa reiterou o que havia dito em sua homilia na Missa celebrada em Verona no dia anterior: “o Espírito Santo cria harmonia”:
O Espírito Santo é Aquele que cria a harmonia, a harmonia! E a cria a partir de realidades diferentes, às vezes mesmo conflitantes. Hoje, festa de Pentecostes, rezemos ao Espírito Santo, Amor do Pai e do Filho, para que crie harmonia nos corações, harmonia nas famílias, harmonia na sociedade, harmonia no mundo inteiro; que o Espírito faça crescer a comunhão e a fraternidade entre cristãos das diversas Confissões.
Francisco também pediu que o Espírito Santo dê aos governantes a coragem de realizar gestos de diálogo, que levem ao fim das guerras:
As tantas guerras de hoje: pensemos na Ucrânia - o meu pensamento dirige-se em particular à cidade de Kharkiv, que sofreu um ataque há dois dias -; pensemos na Terra Santa, na Palestina, em Israel; pensemos nos muitos lugares onde há guerras. Que o Espírito conduza os líderes das nações e todos nós a abrir as portas da paz.
O Santo Padre agradeceu ainda a calorosa acolhida que teve em Verona, durante sua visita pastoral no sábado, 18 de maio:
Expresso minha gratidão pela acolhida e o afeto carinho dos veronenses, ontem: foram bravos! Obrigado, obrigado. Em particular, penso na prisão de Verona, penso nos presos, nos presos que me testemunharam mais uma vez que a vida, a humanidade e a esperança pulsam atrás dos muros de uma prisão. O meu sincero “obrigado” vai para todos os funcionários da prisão e, em particular, para a diretora, Dra. Francesca Gioieni.
Por fim, a saudação aos tantos grupos presentes no tradicional encontro dominical, em particular os peregrinos de Timor-Leste – “visitar-vos-ei em breve!” –, os da Letônia e do Uruguai; bem como a comunidade paraguaia de Roma, que celebra a Virgen de Caacupé, e a Missão Católica Portuguesa de Lucerna.
Ao concluir, o habitual pedido: “Por favor, não se esqueça de rezar por mim. Bom almoço e até logo!
- O Papa: preservar o carisma com a oração e a coragem
O Papa Francisco enviou uma mensagem de vídeo, neste domingo (19/05), a Chiara Amirante e "Nuovi Orizzonti" (Novos Horizontes), pelos trinta anos de fundação desta associação internacional.
Na videomensagem, Francisco define a fundadora da Associação Internacional "Nuovi Orizzonti", Chiara Amirante, uma "artífice escolhida pelo Senhor para levar adiante este Movimento, este sopro do Espírito que despertou tantas consciências".
"O carisma deve ser preservado. Sempre que se desenvolve um Movimento, existe o perigo de o carisma enfraquecer um pouco e perder aquela força do início. Deve ser preservado pela fundadora, deve ser conservado pelos colaboradores e deve ser protegido pela Igreja", ressalta Francisco.
"O carisma deve ser preservado", repetiu o Papa, convidando Chiara Amirante e os membros da Associação Internacional "Nuovi Orizzonti" a não perderem "essa ideia muito importante de conservar o carisma", e a continuarem preservando a vida, continuarem salvaguardando o que o Senhor lhes deu através da fundadora. "O carisma de vocês deve ser preservado com duas coisas fundamentais", sublinha ainda Pontífice: "Com a oração, pois não é possível ir adiante sem a oração, e a coragem." "Não percam essa parresia, a coragem de levá-lo adiante", afirma o Papa.
Segundo Francisco, "quase sempre na história dos carismas na Igreja, houve momentos de incompreensão, momentos sombrios, mesmo por parte da Igreja", frisa o Papa, lembrando "a Companhia de Jesus que foi dissolvida e depois viveu novamente".
Às vezes, todos os carismas devem passar pela cruz do Senhor, passam mais cedo ou mais tarde e se não tomarmos a cruz com a força do Espírito, corremos o perigo de procurar soluções que não são do Evangelho para levar adiante o carisma e assim, tantos carismas perdem sua força com o tempo e buscam um modus vivendi que realmente se distancia do carisma.
De acordo com o Papa, "a fidelidade ao carisma é uma das coisas mais importantes", mas é preciso manter "sempre lealdade à Igreja, obediência à Igreja e não a alguma pressão de fora que aproveita das situações para tirar do carisma a força dos fundadores ou da fundadora".
A seguir, o Papa diz que conheceu o carisma da Associação Internacional "Nuovi Orizzonti" pelas notícias, mas que entendeu o carisma no dia em que visitou a comunidade. "Para mim foi como a unção do carisma: ver todos vocês ligados à fundadora e com o desejo de levar a Igreja adiante", sublinha Francisco, ressaltando que uma das coisas mais bonitas do carisma de "Nuovi Orizzonti" "é a proximidade aos pobres, aos descartados, aos que são deixados de lado pela sociedade" e "vocês falam com eles". "Vocês os acolhem sem tirar sua liberdade e fazem com que caminhem com vocês. Isso é uma coisa muito bonita. O carisma cresce, mas cresce sempre com o mesmo carisma que se torna vida", diz o Papa na mensagem de vídeo.
Francisco disse ainda que gosta de ver quando os membros de "Nuovi Orizzonti" "saem pelas ruas e pegam os jovens que se perderam na ilusão da vida e lhes dão um motivo para viver, um motivo para crescer", e quando vão em busca das crianças, pois "as crianças são uma promessa".
O Papa conclui, convidando a pedir ao Senhor pela fundadora para que "possa seguir adiante com coragem e semear o carisma" e pelos colaboradores que estão próximos a ela.
Fonte: Vatican News