Durante as férias, uma família, que morava em uma grande cidade, foi passear num bosque. Todos admiravam a altura das árvores, o perfume e a variedade das flores. Depois de uma boa caminhada, encontraram uma fonte que brotava da rocha. Na pedra, estava esculpido: “Aprendam de mim!”. O pai perguntou:
_ O que podemos aprender com esta fonte? A mãe foi a primeira a falar:
– Esta fonte ensina a persistência. Não desiste. Nasce na profundidade da terra, brota da rocha e vai seguindo o seu caminho até chegar ao mar. A filha apontou a pureza da água e a sua gratuidade:
_ A fonte é generosa, se oferece a quem tem sede e nada exige por isso. Para o filho, a fonte servia a todos sem distinção: – Ela serve aos amigos, aos estranhos, às aves, aos animais, aos insetos…Finalmente o pai observou:
– Cada um aprende alguma coisa, de acordo com sua experiência e o seu coração. A fonte é a mesma. Os corações é que são diferentes.
Cinquenta dias após a Páscoa, chegamos ao Domingo de Pentecostes e celebramos, acompanhando o livro dos Atos dos Apóstolos, o dom do Espírito Santo derramado sobre os discípulos reunidos. O evangelho de João fala do dom do Espírito “ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana” (Jo 20,19) ou seja, no mesmo dia de Páscoa. Mas já na cruz, ao morrer, Jesus “entregou o espírito” (Jo 19,30). Cada evangelista tem o seu jeito e as suas motivações para nos comunicar a mensagem: o Divino Espírito Santo é o último “dom” de Jesus aos seus amigos, é o cumprimento da sua promessa de não deixá-los órfãos na tarefa da missão (Jo 14,18). Por isso, para o autor do livro dos Atos dos Apóstolos, é o Espírito Santo o protagonista da difusão do Evangelho. É ele que orienta as decisões, acompanha os apóstolos e os sustenta nas dificuldades.
A solenidade de Pentecostes é sempre a oportunidade para refletirmos sobre a presença viva do Espírito Santo em nossa vida pessoal e na vida das nossas comunidades. No caminho sinodal, proposto com coragem pelo papa Francisco, somos convidados à escuta uns dos outros e todos juntos à escuta do Espírito Santo. Com efeito, todos nós percebemos que a nossa Igreja deve estar em constante renovação e reavivamento. Numa sociedade que muda rapidamente, métodos e linguagens de outros tempos precisam ser atualizados sem perder, evidentemente, o mais importante: a fidelidade à pessoa de Jesus Cristo e à sua mensagem reveladora e salvadora. Temos uma história milenar de santidade, evangelização e martírio, mas, a cada mudança de época, somos desafiados a encontrar formas melhores para comunicar a novidade do Evangelho aos homens e às mulheres deste novo tempo. Contamos com grandes exemplos, com a Tradição viva, mas, sobretudo, devemos dar atenção aos “sinais dos tempos” – situações, pessoas e formas de pensamento – através dos quais, junto com seus “ministérios” e “carismas”, o Divino Espírito Santo continua a sustentar a sua Igreja. Precisamos melhorar no diálogo entre nós, para superarmos, também, dentro das nossas comunidades as polarizações que destroem a comunhão e aquelas formas de saudosismos que nos impedem de abrir novos caminhos. A página de Pentecostes do livro dos Atos para apresentar a chegada do Espírito Santo usa as imagens bíblicas do vento e do fogo. Tomo a liberdade de lembrar mais uma imagem do mesmo Espírito, usada por Jesus: a da água. Lemos em Jo 7,37-39: “No último e principal dia da festa (das Tendas), Jesus, de pé, exclamou: ‘Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim. Conforme diz a Escritura: do seu interior fluirão rios de água viva’. Ele disse isso, falando do Espírito que haveriam de receber os que cressem nele; pois não havia ainda o Espírito, porque Jesus ainda não fora glorificado”. Jesus é a única e inesgotável “fonte”. Todos teremos sempre muitas coisas para aprender com ele. No entanto, aqueles que saciarem a sua sede nessa fonte, tornar-se-ão, por sua vez, fontes capazes de satisfazer a sede de outros. A água-Espírito Santo, corre livremente, nunca cansa de se doar a todos, é generosa e gratuita. É a água do amor, da sabedoria, da comunhão. Talvez sejamos nós a ter pouca sede dela.
Por: Dom Pedro José Conti
Fonte: Diocese de Macapá