Cultura

O Papa: visitar as catacumbas durante o Jubileu fortalece a fé e a esperança





O tema do próximo Jubileu foi abordado durante a reunião plenária da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, pois "nesse grande evento, as catacumbas cristãs serão naturalmente um dos destinos mais significativos", disse Francisco em seu discurso aos participantes da reunião plenária da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra.

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (17/05), na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes da reunião plenária da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra.

No início de seu discurso, o Pontífice disse apreciar o compromisso da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra "de envolver as novas gerações de estudantes e estudiosos de arqueologia cristã a fim de manter uma elevada qualidade de proteção, pesquisa, restauração e valorização das catacumbas cristãs da Itália".

Criação das Jornadas das Catacumbas

Neste sentido, o Papa recordou que "a criação das Jornadas das Catacumbas, com o envolvimento de famílias e crianças nas oficinas educativas; a apresentação das diferentes catacumbas tanto em programas televisivos quanto nas redes sociais; a atribuição de bolsas de estudo; os lugares de pesquisa arqueológica anuais em colaboração com diversas universidades", são iniciativas que contribuem "para promover o conhecimento das catacumbas e sua frequência qualificada".

O tema do próximo Jubileu foi abordado durante a reunião plenária da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, pois "nesse grande evento, as catacumbas cristãs serão naturalmente um dos destinos mais significativos".

O Jubileu nos percursos das catacumbas

Segundo Francisco, "o tema do Jubileu, 'Peregrinos da esperança', encontra uma declinação singular e evocativa nos percursos das catacumbas".

“Descobrimos, nesses percursos, os mais antigos símbolos e representações cristãs, que testemunham a esperança cristã. Nas catacumbas, tudo fala de esperança. Fala de vida além da morte, da libertação dos perigos e da própria morte através da obra de Deus, que em Cristo, o Bom Pastor, nos chama a participar da bem-aventurança do Paraíso, evocada com figuras de plantas frondosas, flores, prados verdejantes, pavões e pombas, ovelhas pastando. Tudo fala de esperança e vida!”

"As catacumbas, sendo «cemitérios», ou seja, «dormitórios», testemunham a expectativa, a esperança do cristão, que crê na ressurreição de Cristo e na ressurreição da carne", disse ainda o Papa.

A esperança cristã testemunhada pelos mártires

De acordo com o Pontífice, "a peregrinação às catacumbas é, portanto, um itinerário onde viver a experiência do significado da expectativa e da esperança cristã". A peregrinação às catacumbas, "nos lembra que todos somos peregrinos, a caminho da meta do encontro com Deus, que em Cristo Ressuscitado nos chama a partilhar a sua beatitude e a sua paz. As primeiras gerações cristãs comunicam e expressam essa fé através de palavras de bons votos e orações que retornam continuamente nos epitáfios escritos nos túmulos dos seus entes queridos: Vivas in pace – Vivas in Deo, Vivas in Christo!"

“A esperança cristã é testemunhada sobretudo pelos Mártires, cujas memórias pontilham os percursos das catacumbas. Por isso, saúdo-os calorosamente pela proposta de evidenciar, em vista do Jubileu, os túmulos dos Mártires, propondo-os aos peregrinos como paradas significativas nos seus itinerários de visita. Parar diante deles nos coloca frente a frente com o exemplo corajoso desses cristãos, sempre atual, e nos convida a rezar pelos muitos irmãos que hoje sofrem perseguições por causa da fé em Cristo.”

Um serviço às raízes e à evangelização

Francisco elogiou "a decisão de ampliar o número de locais das catacumbas acessíveis aos peregrinos", que lhe "parece propícia e oportuna a fim de permitir que mais peregrinos as visitem e se fortaleçam na fé e na esperança".

O Papa disse aos participantes da reunião plenária da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra que eles "são, em nome da Santa Sé e de toda a Igreja, guardiões do patrimônio de fé e de arte das catacumbas cristãs da Itália, como reitera a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium". "Agradeço a vocês pelo seu serviço e os exorto a sempre levá-lo adiante com competência e paixão. É um serviço à memória e ao futuro. Um serviço às raízes e à evangelização, porque a mensagem das catacumbas fala a todos, aos peregrinos e aos visitantes distantes. Fala a partir de uma experiência de fé", concluiu.

 

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-Novas normas sobre presumidos fenômenos sobrenaturais

Do nulla osta ao julgamento negativo: são seis os votos diferentes para discernir os casos previstos no documento do Dicastério para a Doutrina da Fé aprovado pelo Papa. Como regra, nem o bispo, nem a Santa Sé se pronunciarão sobre a natureza sobrenatural do fenômeno, limitando-se a autorizar e promover a devoção e as peregrinações.

As normas para o discernimento de presumidos fenômenos sobrenaturais foram atualizadas: é o que estabelece o novo documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, publicado na sexta-feira, 17 de maio, que entrará em vigor no domingo, 19, festa de Pentecostes. O texto é precedido por uma apresentação articulada do cardeal prefeito Víctor Manuel Fernández, seguida por uma introdução que identifica seis diferentes conclusões possíveis. Serão possibilitados pronunciamentos mais rápidos em relação à devoção popular e, como regra, não haverá mais o envolvimento da autoridade da Igreja na definição oficial da sobrenaturalidade de um fenômeno que pode levar muito tempo para ser estudado em profundidade. A outra novidade é o envolvimento mais explícito do Dicastério para a Doutrina da Fé, que deverá aprovar a decisão final do bispo e terá o poder de intervir por motu proprio a qualquer momento. Em muitos dos casos nas últimas décadas em que bispos individualmente expressaram uma opinião, o ex-Santo Ofício foi envolvido, mas quase sempre a intervenção permaneceu nos bastidores e foi solicitado que não fosse tornada pública. O que motiva agora esse envolvimento explícito do Dicastério é também a dificuldade de circunscrever, em nível local, fenômenos que, em alguns casos, atingem dimensões nacionais e até mesmo globais, "de modo que uma decisão relativa a uma Diocese pode ter consequências também em outros lugares”.

As razões que justificam as novas normas

Na origem do documento está a longa experiência do século passado, com casos em que o bispo local (ou os bispos de uma região) declarava rapidamente a sobrenaturalidade, e depois o Santo Ofício expressava uma opinião diferente. Ou casos em que um bispo se expressou de uma maneira e seu sucessor de maneira oposta (sobre o mesmo fenômeno). Depois, existem os longos tempos necessários para avaliar todos os elementos e chegar a uma decisão sobre a sobrenaturalidade ou não dos fenômenos. Tempos que às vezes se chocam com a urgência de dar respostas pastorais para o bem dos fiéis. O Dicastério, portanto, começou em 2019 a revisar as normas e chegou ao texto atual aprovado pelo Papa no último dia 4 de maio. Um texto totalmente novo que introduz, como mencionado, 6 diferentes conclusões possíveis.

Frutos espirituais e riscos

O cardeal Fernández explica em sua apresentação que "tantas vezes estas manifestações provocaram uma grande riqueza de frutos espirituais, de crescimento na fé, de devoção e de fraternidade e serviço, e em alguns casos deram origem a diversos Santuários espalhados em todo o mundo, que hoje são parte do coração da piedade popular de muitos povos". No entanto, existe também a possibilidade de que "que em alguns casos de eventos de presumida origem sobrenatural" existam "problemas muito sérios, com dano aos fiéis": casos em que "lucro, poder, fama, notoriedade social, interesse pessoal" (II, art. 15, 4°) são derivados dos presumidos fenômenos, chegando até mesmo a "exercer domínio sobre as pessoas ou cometer abusos” (II, art. 16). Pode haver "erros doutrinais, reducionismos indevidos no propor a mensagem do Evangelho, a difusão de um espírito sectário". Assim como existe a possibilidade de "os fiéis serem arrastados por um fenômeno, atribuído à iniciativa divina, mas que é fruto somente da fantasia, do desejo de novidade, da mitomania ou da tendência à falsificação”.

Orientações gerais

De acordo com as novas normas, a Igreja poderá discernir: "se seja possível encontrar nos fenômenos de presumida origem sobrenatural a presença de sinais de uma ação divina; se nos eventuais escritos ou mensagens daqueles que são envolvidos nos presumidos fenômenos em questão nada exista de contrastante com a fé e os bons costumes; se seja lícito valorizar seus frutos espirituais ou se resulte necessário purificá-los de elementos problemáticos ou colocar de sobreaviso os fiéis quanto aos perigos deles derivantes; se seja aconselhável uma valorização pastoral por parte da Autoridade eclesiástica competente" (I, 10). Além disso, “deve-se precisar que, em via ordinária, não se deverá prever um reconhecimento positivo por parte da Autoridade eclesiástica acerca da origem divina de presumidos fenômenos sobrenaturais" (I, 11). Como norma, portanto, "nem o Bispo Diocesano, nem as Conferências Episcopais, nem o Dicastério declararão que estes fenômenos são de origem sobrenatural. Todavia, o Santo Padre poderá autorizar que se realize um procedimento a respeito" (I, 23).

Os possíveis votos sobre o presumido fenômeno

Segue a lista dos 6 possíveis votos finais ao término do discernimento.

Nihil Obstat: nenhuma certeza de autenticidade sobrenatural é expressa, mas são reconhecidos sinais de uma ação do Espírito. Encoraja-se o bispo a avaliar o valor pastoral e a promover a difusão do fenômeno, incluindo peregrinações.

Prae oculis habeatur: reconhecem-se sinais positivos, mas também há elementos de confusão ou riscos que exigem discernimento e diálogo com os destinatários. Pode ser necessário um esclarecimento doutrinário se houver escritos ou mensagens associadas ao fenômeno.

Curatur: estão presentes elementos críticos, mas há uma ampla disseminação do fenômeno com frutos espirituais verificáveis. Desaconselha-se uma proibição que possa perturbar os fiéis, mas pede-se ao bispo que não incentive o fenômeno.

Sub mandato: as questões críticas não estão relacionadas ao fenômeno em si, mas ao mau uso feito por pessoas ou grupos. A Santa Sé confia ao bispo ou a um delegado a orientação pastoral do local.

Prohibetur et obstruatur: apesar de alguns elementos positivos, as críticas e os riscos são graves. O Dicastério pede que o bispo declare publicamente que a adesão não é permitida e explique os motivos da decisão.

Declaratio de non supernaturalitate: o bispo está autorizado a declarar que o fenômeno não é sobrenatural com base em evidências concretas, como a confissão de um presumido vidente ou testemunhos confiáveis de falsificação do fenômeno.

No livro-entrevista com Vittorio Messori 'Relatório sobre a fé', o futuro Bento XVI falava sobre os critérios para julgar os presumidos fenômenos sobrenaturais. Os mesmos que agora ...

Procedimentos a serem seguidos

São indicados os procedimentos a serem implementados: cabe ao bispo examinar o caso e submetê-lo ao Dicastério para aprovação. Pede-se ao bispo que se abstenha de fazer declarações públicas sobre autenticidade ou sobrenaturalidade, e também que garanta que não haja confusão e que o sensacionalismo não seja promovido. No caso de os elementos reunidos "parecerem suficientes", o bispo deve estabelecer uma comissão de investigação, contando entre seus membros pelo menos um teólogo, um canonista e um perito escolhido com base na natureza do fenômeno.

Critérios positivos e negativos

Entre os critérios positivos, "a credibilidade e a boa fama das pessoas que afirmam ser destinatárias de eventos sobrenaturais ou ser diretamente envolvidas em tais fatos, bem como das testemunhas escutadas... a ortodoxia doutrinal do fenômeno e da eventual mensagem a ele conexa, o caráter imprevisível do fenômeno, a partir do qual apareça claramente que não é fruto da iniciativa das pessoas envolvidas, fruto de vida cristã" (II, 14). Os critérios negativos incluem “a eventual presença de um erro manifesto acerca do fato, eventuais erros doutrinais... um espírito sectário, que gera divisão no tecido eclesial, uma busca evidente de lucro, poder, fama, notoriedade social, interesse pessoal ligado diretamente ao fato, atos gravemente imorais... alterações psíquicas ou tendências psicopáticas presentes no sujeito, que possam ter exercido influência sobre o presumido fato sobrenatural, ou senão psicose, histeria coletiva ou outros elementos reconduzíveis a um horizonte patológico" (II, 15). Por fim, "o uso de eventuais experiências sobrenaturais ou de elementos místicos reconhecidos como meio ou pretexto para exercer domínio sobre as pessoas ou cometer abusos" (II, 16). “Qualquer que seja a determinação aprovada, o Bispo Diocesano, pessoalmente ou através de um Delegado, tem o dever de continuar a vigiar sobre o fenômeno e sobre as pessoas envolvidas, exercitando especificamente o seu poder ordinário. (II, 24).

 

- Assim Ratzinger distinguia entre sobrenaturalidade e frutos espirituais

No livro-entrevista com Vittorio Messori 'Relatório sobre a fé', o futuro Bento XVI falava sobre os critérios para julgar os presumidos fenômenos sobrenaturais. Os mesmos que agora são desenvolvidos no novo documento do Dicastério para a Doutrina da Fé.

“Separar o aspecto da verdadeira ou presumida ‘sobrenaturalidade’ da aparição do aspecto de seus frutos espirituais”. O cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, usou essas palavras em resposta a uma pergunta do jornalista e escritor Vittorio Messori. O diálogo é relatado no best-seller “Relatório sobre a fé” (1985).

Em primeiro lugar, o futuro Bento XVI declarou: 'Nenhuma aparição é indispensável à fé, a Revelação terminou com Jesus Cristo. Ele mesmo é a Revelação. Mas certamente não podemos impedir Deus de falar ao nosso tempo, por meio de pessoas simples e também por meio de sinais extraordinários que denunciam a inadequação das culturas que nos dominam, mascaradas pelo racionalismo e pelo positivismo. As aparições que a Igreja aprovou oficialmente... têm seu lugar preciso no desenvolvimento da vida da Igreja no último século. Elas mostram, entre outras coisas, que a Revelação - embora única, concluída e, portanto, não superável - não é uma coisa morta, é viva, vital. Além disso... um dos sinais do nosso tempo é que os relatos de “aparições marianas” estão se multiplicando no mundo...”.

E continuava: 'Um de nossos critérios é separar o aspecto da verdadeira ou presumida “sobrenaturalidade” da aparição do aspecto de seus frutos espirituais. As peregrinações do cristianismo primitivo se dirigiam a lugares sobre os quais nosso espírito crítico, como modernos, às vezes ficaria perplexo quanto à “verdade científica” da tradição ligada a eles. Isso não diminui o fato de que essas peregrinações foram frutíferas, benéficas e importantes para a vida do povo cristão. O problema não é tanto o da híper crítica moderna (que acaba, entre outras coisas, em uma forma de nova credulidade), mas o de avaliar a vitalidade e a ortodoxia da vida religiosa que se desenvolve em torno desses lugares”.

 

Fonte: Agência Brasil