O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (16/05), na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de duzentos participantes, de várias partes do mundo, do encontro promovido pelas Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais sobre o tema "Da crise climática à resiliência climática".
Em seu discurso, o Papa sublinhou que "os dados sobre as mudanças climáticas pioram a cada ano e portanto, é urgente proteger as pessoas e a natureza". Francisco parabenizou "as duas Academias por liderarem este esforço e produzirem um protocolo de resiliência universal. As populações mais pobres, que pouco têm a ver com as emissões poluentes, precisarão receber maior apoio e proteção".
"A destruição do ambiente é uma ofensa a Deus, um pecado que não é apenas pessoal, mas também estrutural, que coloca seriamente em perigo todos os seres humanos, especialmente os mais vulneráveis, e ameaça desencadear um conflito entre gerações", disse o Papa, que perguntou: "Estamos trabalhando em prol de uma cultura da vida ou de uma cultura da morte?"
Estamos diante de desafios sistêmicos distintos, mas interligados: as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, a degradação ambiental, as desigualdades globais, a insegurança alimentar e uma ameaça à dignidade das populações envolvidas. Se não forem abordados de forma coletiva e urgente, esses problemas representam ameaças existenciais para a humanidade, para outros seres vivos e os ecossistemas. Mas que seja claro: são os pobres da Terra que mais sofrem, apesar de serem os que menos contribuem para o problema. As nações mais ricas, cerca de um bilhão de pessoas, produzem mais da metade dos poluentes que retêm o calor. Contrariamente, os três bilhões de pessoas mais pobres contribuem com menos de 10%, mas arcam com 75% das perdas resultantes. Os 46 países menos desenvolvidos, em sua maioria africanos, são responsáveis por apenas 1% das emissões globais de CO2. Ao invés disso, as nações do G20 são responsáveis por 80% dessas emissões.
A seguir, o Papa ressaltou que a pesquisa feita pelas Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais "mostra a trágica realidade em que mulheres e crianças carregam um fardo desproporcional".
As mulheres geralmente não têm o mesmo acesso aos recursos que os homens, e cuidar da casa e dos filhos pode dificultar a possibilidade de migrar em caso de desastre. No entanto, as mulheres não são apenas vítimas das mudanças climáticas: elas também são poderosas agentes de resiliência e adaptação. Com relação às crianças, quase um bilhão delas residem em países que enfrentam um risco extremamente alto de devastação relacionada ao clima. Sua idade evolutiva as torna mais suscetíveis aos efeitos, tanto físicos quanto psicológicos, das mudanças climáticas.
Segundo Francisco, "a recusa em agir rapidamente para proteger os vulneráveis expostos às mudanças climáticas provocadas pelo homem é uma falha grave. O progresso ordenado é então dificultado pela busca voraz de ganhos a curto prazo por parte das indústrias poluentes e pela desinformação, que gera confusão e dificulta os esforços coletivos para inverter a rota".
De acordo com o Papa, "o espectro das mudanças climáticas paira sobre todos os aspectos da existência, ameaçando a água, o ar, os alimentos e os sistemas de energia. Igualmente alarmantes são as ameaças à saúde pública e ao bem-estar. Assistimos à dissolução de comunidades e ao deslocamento forçado de famílias".
A poluição do ar ceifa milhões de vidas prematuramente todos os anos. Mais de três bilhões e meio de pessoas vivem em regiões altamente sensíveis à devastação das mudanças climáticas, o que leva à migração forçada. Nos últimos anos, quantos irmãos e irmãs perderam a vida em viagens desesperadas, e as previsões são preocupantes. Defender a dignidade e os direitos dos migrantes climáticos significa afirmar a sacralidade de cada vida humana e exige honrar o mandato divino de salvaguardar e proteger a nossa casa comum.
Diante dessa crise planetária, o Papa destacou, em primeiro lugar, a necessidade de "uma abordagem universal e uma ação rápida e decisiva para promover mudanças e decisões políticas", e em segundo, a urgência de uma "inversão da curva de aquecimento, buscando reduzir pela metade a taxa de aquecimento no curto espaço de um quarto de século".
Ao mesmo tempo, devemos ter como meta a descarbonização global, eliminando a dependência de combustíveis fósseis. Em terceiro lugar, grandes quantidades de dióxido de carbono devem ser retiradas da atmosfera, através de uma gestão ambiental que abranja várias gerações. É um trabalho longo, mas também de grande alcance. Todos nós devemos empreendê-lo juntos. Nesse esforço, a natureza é nossa fiel aliada, colocando à nossa disposição os seus poderes, os poderes regeneradores da natureza.
A seguir, o Papa exortou a salvaguardar as riquezas naturais: "As bacias da Amazônia e do Congo, as turfeiras e os manguezais, os oceanos, as barreiras de corais, as terras agrícolas e as calotas polares, por sua contribuição para a redução das emissões globais de carbono. Essa abordagem holística combate as mudanças climáticas e também enfrenta as crises da perda de biodiversidade e da desigualdade, cultivando os ecossistemas que sustentam a vida".
Segundo Francisco, "a crise climática exige uma sinfonia de cooperação e solidariedade global. O trabalho deve ser sinfônico, harmonioso, todos juntos. Por meio de reduções de emissões, educação sobre estilos de vida, financiamento inovador e o uso de soluções comprovadas baseadas na natureza, fortalecemos a resiliência, especialmente a resiliência à seca".
O Papa ressaltou a necessidade de desenvolver "uma nova arquitetura financeira que responda às necessidades do Sul do mundo e dos Estados insulares gravemente afetados por catástrofes climáticas. A reestruturação e redução da dívida, junto com o desenvolvimento de uma nova Carta financeira global até 2025, reconhecendo uma espécie de “dívida ecológica” – é preciso trabalhar nesta palavra: dívida ecológica – podem ser uma ajuda válida na mitigação das mudanças climáticas.
Por fim, o Papa agradeceu e incentivou os membros das Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais a continuarem trabalhando "na transição da atual crise climática para a resiliência climática com equidade e justiça social", advertindo que é necessário agir com urgência, paixão e determinação.
- Papa: nos jovens encontramos a esperança para a unidade dos cristãos
O Papa Francisco recebeu na manhã desta quinta-feira (16/05), no Vaticano, o Arcebispo Metropolita Agathanghelos, diretor geral da Apostolikì Diakonia da Igreja da Grécia, e a delegação do Colégio Teológico de Atenas, por ocasião dos 20 anos de colaboração entre os organismos com o Comitê Católico para a colaboração cultural do Dicastério para a promoção da unidade dos cristãos.
A Apostolikì Diakonia é um órgão eclesiástico oficial sob a jurisdição do Santo Sínodo da Igreja da Grécia. Fundada em 1936, este órgão da Igreja grega é responsável pelo planejamento, organização e execução do trabalho missionário e educacional. Em especial, dedica-se à preparação e educação de pregadores, confessores e colaboradores no trabalho eclesiástico, bem como ao estudo sistemático e à organização da atividade catequética, visando uma melhor preparação dos catequistas e o apoio aos jovens.
O Pontífice iniciou sua saudação desejando aos presentes, em grego, Feliz Páscoa. Em seguida, destacou que nesses vinte anos, mesmo superando períodos difíceis, como o da crise econômica que atingiu a Grécia e o da pandemia, a Apostolikì Diakonia e o Comitê Católico para a colaboração cultural trabalharam juntos para promover projetos de interesse comum em nível cultural e educacional, e completou:
"Aprecio a escolha de privilegiar a formação cultural, teológica e ecumênica das novas gerações. De fato, são precisamente os jovens, sustentados pela esperança fundada na fé, que podem quebrar as correntes de ressentimentos, mal-entendidos e preconceitos que, durante séculos, mantiveram católicos e ortodoxos prisioneiros, impedindo-os de reconhecer que são irmãos unidos na diversidade, capazes de dar testemunho do amor de Cristo, especialmente neste mundo tão dividido e conflituoso."
O Papa também recordou que, nos próximos meses, na Faculdade de Teologia de Atenas, um grupo de estudantes católicos será iniciado no conhecimento do grego moderno e da Igreja Ortodoxa: "Desejo-lhes os melhores votos para a continuação dessa colaboração frutífera."
"Ao caminharmos juntos, trabalharmos juntos e rezarmos juntos, estamos nos preparando para receber de Deus o dom da unidade que, como fruto do Espírito Santo, será a comunhão e a harmonia na legítima diversidade", concluiu Francisco.
- Papa em Verona: com Francisco, pedir fortemente a paz, afirma dom Pompili
O sábado, 18 de maio, promete ser um dia intenso para o Papa que vai visitar a cidade de Verona. Haverá muitos momentos importantes: desde a saudação às autoridades civis e religiosas, até o encontro com o clero e aquele com as crianças e jovens. No meio da manhã, Francisco vai participar da iniciativa “Arena da Paz - Justiça e Paz se beijarão”, durante a qual responderá algumas perguntas. Como em Veneza, Francisco vai visitar os prisioneiros, com os quais também almoçará. Por fim, a missa no Estádio Bentegodi.
Cada um desses compromissos tem um significado profundo para a Igreja local, que quer estar em sintonia com o Papa. O bispo de Verona, dom Domenico Pompili, em entrevista à Rádio Vaticano - Vatican News, fala do crescente entusiasmo e alegria pela chegada do Papa Francisco, que ele descreve como “o intérprete mais confiável do Evangelho”. O Papa, diz Pompili, é aquele que aborda concretamente as questões mais sinceras do momento, como as questões humanitárias, a paz e o cuidado com a casa comum.
De Verona, continua o prelado, queremos dizer que “a paz não é apenas a ausência de guerra”, mas também uma abertura necessária à justiça social e econômica, à democracia, à ecologia integral, ao verdadeiro desarmamento e ao acolhimento dos migrantes. A solução, ele acrescenta, não deve vir apenas de cima, dos governos, mas precisa do compromisso de todos.
A visita de Francisco a Verona, diz dom Pompili, será um encontro com o Pontífice de pessoas de todas as idades, confirmando o que é uma das preocupações do Papa: colocar as gerações em diálogo. Esse é um passo importante, lembra o pastor de Verona, para a transmissão dos valores que estão na base da sociedade, em primeiro lugar o Evangelho, a fim de fortalecer a tradição.
Após a parada na prisão feminina veneziana de Giudecca, está previsto também um intenso encontro do Papa com as detentas da penitenciária Montorio Veronese, em Verona. Mais um sinal de proximidade por parte do Papa Francisco para entender que “não há existência que possa ser considerada definitivamente perdida”, enfatiza Pompili: “para todos há sempre outra possibilidade”:
“A Igreja que acolhe o Papa”, lembra o bispo, “sempre viveu em estreito contato com a sociedade local. Historicamente, nasceram aqui muitas iniciativas religiosas que deram espaço a projetos de caráter cultural, educativo, sanitário e caritativo", provando que a Igreja local vive em osmose com a sociedade, da qual sempre esteve a serviço, difundindo os valores da convivência pacífica e fraterna. “Essa dimensão social também”, conclui dom Domenico Pompili, “representa uma interpretação do Evangelho que é particularmente sentida aqui em Verona”.
- Francisco: a paz é artesanal. Nós a construímos, não apenas os poderosos com tratados
A paz é artesanal”. Não é construída apenas pelos poderosos “com as suas escolhas e os seus tratados internacionais, que continuam sendo escolhas políticas extremamente importantes e urgentes”. Também nós construímos a paz, “em nossas casas, na família, entre os vizinhos, nos lugares onde trabalhamos, nos bairros onde vivemos”. Construímos a paz, ajudando um migrante na rua, visitando um idoso solitário, respeitando a Terra maltratada, acolhendo cada nascituro. É construída a partir do exemplo de personagens como dom Domenico Mercante, pároco das montanhas veronesas feito refém pelos soldados nazistas no final da guerra, e como o soldado Leonardo Dallasega que se recusou a matá-lo, por ser católico, ambos brutalmente assassinado, mas ambos são testemunhas de como o amor vence toda violência e morte.
Memórias do passado, recomendações para o presente e promessas para o futuro se entrelaçam na introdução inédita que o Papa Francisco assina no livro “Justiça e paz se beijarão”, uma antologia de textos e reflexões sobre o tema “muito atual” da relação entre justiça e paz, no centro da visita a Verona, em 18 de maio. O volume, publicado pela Livraria Editora Vaticana e L'Arena, foi lançado nesta quarta-feira, 15 de maio, e será distribuído gratuitamente pelo jornal de Verona “L'Arena”, por ocasião da visita do Papa à cidade de Verona, no sábado.
“Se falta justiça, a paz está ameaçada; sem a paz, a justiça fica comprometida”, escreve o Papa no texto. “É verdade que a justiça, entendida como a virtude de dar o que é devido a Deus e ao próximo, está intimamente ligada à paz, no sentido mais autêntico e próprio da palavra hebraica shalom”. Um termo que indica “não tanto a ausência de guerra, mas a plenitude da vida e da prosperidade”.
A paz torna possível a justiça, primeiro entre as “vítimas” de cada conflito, tal como “a paz se torna uma condição prévia para uma sociedade justa”. Mas, essas duas dimensões da humanidade têm “um preço”, afirma o Papa, que é o de “combater o próprio egoísmo” de “colocar o que é meu antes do nosso”. Todo egoísmo “é injusto” e “quando se torna um sistema de vida pessoal e social, abre as portas ao conflito, porque para defender os meus interesses (ou aqueles que presumimos serem tais) – sublinha o Papa – estamos prontos a fazer qualquer coisa, até mesmo sobrecarregar o vizinho que de próximo se torna adversário e, portanto, inimigo, a ser humilhado, derrubado e vencido".
A este propósito, Francisco cita as palavras inequívocas de “um grande Veronese” que cresceu na Alemanha, Romano Guardini: “A liberdade não consiste em seguir a vontade pessoal ou política, mas o que é exigido pela natureza do ser”. A ação educativa e as reflexões filosófico-espirituais de Guardini foram “um farol num momento particularmente sombrio” como o da Alemanha das décadas de 1930 e 1940, “esmagada pelo terrível jugo do regime nazista”. O Pontífice recorda como alguns membros da Rosa Branca, o grupo de jovens alemães que denunciaram o nazismo em Munique, “se alimentavam dos escritos filosóficos e religiosos de Guardini”. “Mesmo dessas leituras – afirma – surgiu a ação não violenta daqueles jovens e daquelas jovens que, ao escreverem panfletos clandestinos distribuídos na cidade, tentavam despertar a consciência das pessoas, entorpecidas pelo totalitarismo de Hitler. E pagaram com a vida pela escolha da consciência e da liberdade".
A recordação daquele capítulo escuro da história da Europa traz à mente do Papa a memória da história do padre veronese pe. Domenico Mercante e do soldado Leonardo Dallasega. Uma história a ser contada em que “a justiça e a paz se uniram num duplo sacrifício pessoal” e que remonta a abril de 1945, no período turbulento do fim da Segunda Guerra Mundial. Um grupo de paraquedistas alemães em fuga para o norte entra em Val d'Illasi, na província de Verona e na fronteira com Trentino, e ali intercepta um soldado da Wehrmacht, Leonardo Dalla Sega, originário de Val di Non. Em retirada, sozinho, ele é incorporado à força ao grupo. Chegando a Giazza, a última aldeia do Val d'Illasi, os soldados, após uma discussão com os guerrilheiros, fazem como refém pe. Domenico Mercante, 46 anos, pároco da aldeia há menos de dois anos, mas já conhecido pelas suas ações para proteger a população civil durante a ocupação nazi-fascista. Os soldados fizeram o padre de escudo atravessando as montanhas, chegando ao Trentino e dirigindo-se assim ao Brenner, para se salvarem de possíveis represálias. Ao chegar à cidade de Cerè-San Martino à tarde, um oficial ordena que Dalla Sega se livre do padre. Mas Dalla Sega – relatam testemunhas oculares – respondeu: “Sou católico, pai de quatro filhos, não posso atirar num sacerdote!”.
Tanto o padre quanto o soldado foram fuzilados. O corpo do pe. Domenico levdo de volta para Giazza depois de alguns dias; o de Dallasega foi encontrado com um crucifixo, um rosário e uma foto da esposa na mão. Só muitos anos depois ele foi reconhecido: durante décadas aquele soldado alemão contestador permaneceu anônimo. A história foi investigada, documentada e contada pelo sacerdote veronese pe. Luigi Fraccari, que atuava na Alemanha desde 1943 ao lado dos Internados Militares Italianos (IMI) e com o núncio apostólico da época dom Cesare Orsenigo. Chegou até os dias de hoje assim. Uma “circunstância trágica”, escreve o Papa Francisco, na qual, no entanto, “encontramos o significado profundo do sacrifício cristão: dar a vida pelos outros, mesmo às custas da própria vida”. É “o mistério da Páscoa de Cristo: a violência e a morte são vencidas pelo amor e pelo dom de si“.
“Talvez – acrescenta o Papa na introdução – não sejamos obrigados a derramar sangue para professar a nossa fé, como ainda acontece em muitas partes do mundo com muitos dos nossos irmãos cristãos, mas é nas pequenas coisas que somos chamados testemunhar a força pacífica da cruz de Cristo e da vida nova que dela nasce: gesto de perdão para com quem nos ofendeu, suportar calúnias injustas, ajudar quem está marginalizado”.
É assim, sublinha o Bispo de Roma, que se constrói a paz: com pequenos gestos, palavras, hábitos. "Podemos construir a paz ajudando um migrante que está mendigando na rua, visitando um idoso que está sozinho e não tem com quem conversar, multiplicando os gestos de cuidado e respeito para com o pobre que é o planeta Terra, tão maltratado pelo nosso egoísmo explorador, acolhendo cada criança não nascida que vem ao mundo, um gesto que para Santa Madre Teresa era um autêntico ato de paz".
Contra uma guerra mundial "em pedaços", existem, portanto, "pequenos pedaços de paz" que, "se forem unidos, constroem uma grande paz". "Nessas escolhas cotidianas de paz e justiça que temos em mãos, podemos lançar as sementes do início de um mundo novo", garante o Papa, "onde a morte não terá a última palavra e a vida florescerá para todos".
Fonte: Vatican News