Cultura

Papa às Escolas Vaticanas: não excluir ninguém das fontes de pesquisa e conhecimento





Francisco recebeu em audiência na Sala Clementina cerca de 200 professores e alunos da Escola Vaticana de Paleografia, Diplomática e Arquivística e da Escola Vaticana de Biblioteconomia, que celebram aniversário de fundação: "um serviço que preparou e prepara muitos arquivistas e bibliotecários na Igreja e no mundo", afirmou o Pontífice.

O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã desta segunda-feira, cerca de 200 participantes, entre professores e alunos, da Escola Vaticana de Paleografia, Diplomática e Arquivística e da Escola Vaticana de Biblioteconomia, que estão comemorando, respectivamente, 140 e 90 anos de fundação.

Olhar sempre para o futuro

Ao elogiar o trabalho formativo dessas Escolas, que exige empenho e atualização contínua, o Papa agradeceu pelo que fizeram aos longo dos anos, e também estimulou a olhar sempre para frente, sem deixar de se satisfazer com os resultados obtidos, mas prontas para assumir os desafios culturais decisivos que nossa época coloca diante de nós:

"Penso, por exemplo, nas grandes questões relacionadas à globalização, no risco de achatamento e desvalorização do conhecimento; na relação cada vez mais complexa com as tecnologias; nas reflexões sobre as tradições culturais que devem ser cultivadas e propostas sem imposições recíprocas; na necessidade de incluir e nunca excluir ninguém das fontes de conhecimento e, ao mesmo tempo, defender a todos do que é tóxico, insalubre e violento que pode se esconder no mundo do conhecimento social e tecnológico."

Prontidão para acolher, principal característica

Francisco sublinhou quais são as principais características exigidas daqueles que trabalham nessas Escolas: "Uma grande abertura ao confronto e ao diálogo, uma prontidão para acolher, especialmente a marginalidade e a pobreza material, cultural e espiritual". Nesses anos marcados por profundas reformas, as Escolas puderam enfrentar "as necessidades de locais de preservação do conhecimento", crescer e, acima de tudo, evitar a autorreferencialidade: "Que feio! Como dizemos na Argentina: 'yo, me, con migo, para mi', eu, comigo, sempre para mim, isso é feio!", e completou:

"Tudo isso deve ser o ponto de partida para um verdadeiro reinício: não apenas para honrar velhas glórias ou para lembrar com gratidão aqueles que desejaram e apoiaram essas instituições no passado, mas para olhar para frente, para o futuro, para ter a coragem de repensar diante das demandas provenientes do mundo cultural e profissional."

As ideologias sempre matam

Ao recordar as origens das Escolas Vaticanas, o Pontífice destacou a "abordagem eminentemente prática e concreta dos problemas e dos estudos", e segundo Francisco, isso está ligado ao confronto com a realidade e não com a ideologia, porque "as ideologias sempre matam". "Vocês ensinam e aprendem a ser arquivistas e bibliotecários em contato não apenas com os estudos, mas também com a experiência viva daqueles que exercem essa profissão", e concluiu:

"Vocês têm o privilégio de se capacitarem, aproveitando diretamente o patrimônio secular que os Arquivos e a Biblioteca têm a tarefa e a responsabilidade de preservar e transmitir às gerações presentes e futuras. E esses contatos, além de serem uma oportunidade de aprendizado técnico, são também um estímulo à abertura mental e humana. Que essa concretude e essa abertura sejam as estrelas-guia de seu caminho futuro e de um relançamento decisivo das duas Escolas Vaticanas."

 

Papa aos monges da Abadia de Montevergine: ser dom de Deus

Papa Francisco recebeu no Vaticano na manhã desta segunda-feira (13/05) os monges e colaboradores da Comunidade da Abadia de Montevergine.

“Ser um dom para Deus, para ser um dom de Deus”: foi o que disse o Papa Francisco, citando Santo Agostinho, ao receber na manhã desta segunda-feira (13/05) os monges e colaboradores da Comunidade da Abadia de Montevergine, por ocasião do Jubileu do nono centenário de sua fundação, ocorrida em 1124 por São Guilherme de Vercelli.

Francisco na sua breve saudação disse que na origem de sua história não há milagres ou eventos extraordinários, mas a solicitude de um pastor, o bispo de Avellino, que queria construir uma igreja naquele lugar elevado e reunir um pequeno número de pessoas a serviço de Deus, para torná-la um centro de oração, evangelização e caridade.

O Santo Padre então enfatizou a importância dessas duas dimensões em suas vidas e em seu apostolado, e o fez com algumas palavras atribuídas a Santo Agostinho: “faça de si mesmo um dom para Deus, para ser um dom de Deus”.

Fazer de si mesmo um “dom para Deus”. Esse é o significado da vocação monástica, - continuou o Papa - que coloca na raiz de toda ação o “opus Dei”, ou seja, a oração, à qual São Bento recomenda não colocar nada antes.

O Santuário de Nossa Senhora de Montevergine, localizado no alto, como um mirante, para receber os peregrinos, há o belo ícone da Mãe de Deus, com seus grandes olhos amendoados, prontos para colher lágrimas e orações, mostrando a todos, de joelhos, o Menino Jesus, o Filho de Deus feito homem. Fazer de si mesmo um “dom para Deus” – disse o Papa - significa rezar para ter também esses grandes e bons olhos e mostrar a todos que encontrar, como Maria, o Senhor, presente em seus corações.

Francisco recordou ainda aos presentes que durante a Segunda Guerra Mundial, sua comunidade teve a graça de receber o Santo Sudário, levado em segredo ao seu Santuário, para ser guardado e venerado ali, a salvo do risco de bombardeios. Essa também é uma bela imagem de sua vocação principal: conservar a imagem de Cristo em você, para poder mostrá-la a seus irmãos.

Depois o Santo Padre se deteve no segundo ponto: ser “dom de Deus”. Ou seja, doar-se generosamente àqueles que sobem até o Santuário, para que, aproximando-se dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, sintam-se, na atenção e na oração, acolhidos e carregados sob o manto da Mãe de Deus.

E o fato de serem monges, - destacou ainda Francisco -. fisicamente distantes do mundo, mas espiritualmente próximos de seus problemas e angústias, guardiões no silêncio da comunhão com o Senhor e, ao mesmo tempo, seus anfitriões generosos no acolhimento dos outros (cf. Regra 53.1), pode fazer de vocês, para aqueles que os encontram, um sinal vivo e eloquente da presença de Deus.

Portanto, o Papa os exortou a não cederem à tentação de se conformarem com a mentalidade e os estilos do mundo, a se deixarem transformar constantemente por Deus, renovando seus corações e crescendo Nele, de modo que aqueles que vierem até vocês em busca de luz não fiquem decepcionados.

Francisco concluiu a sua saudação aos monges e colaboradores da abadia de Montevergine dizendo que eles “têm a sorte de ser hóspedes na Casa de Maria, de viver sob o seu olhar misericordioso, guardados pela “Mamma Schiavona”, como é carinhosamente chamada. Valorizem esse presente e cultivem-no dentro de vocês para que possam compartilhá-lo com todos”.

 

- Papa recorda 50 anos do assassinato de Pe. Mugica, mártir argentino dos pobres

O jesuíta argentino assassinado em 1974 deve continuar inspirando a comunidade argentina a lutar contra a injustiça e a cultura da indiferença. Em carta lida neste domingo (12/05) pelo arcebispo de Buenos Aires, o Papa ainda exortou a cuidar daqueles "que carregam cruzes pesadas", "colocando o coração e o corpo ao lado daqueles que sofrem todos os tipos de pobreza”. Assim como fez Pe. Mugica, que "deu a vida pelos mais pobres e pelo Evangelho", destacou em missa, dom Jorge García Cuerva.

O Papa Francisco enviou uma carta à comunidade católica da Argentina, recordando o aniversário de 50 anos de martírio do Padre Carlos Mugica (1930-1974), jesuíta de clara opção pelos mais pobres, fundador do Movimento de Sacerdotes do Terceiro Mundo e do Movimento de Curas Villeros. A missiva, escrita em espanhol e datada de 11 de maio, foi compartilhada neste domingo (12/05) pelo serviço de comunicação eclesial da Arquidiocese de Buenos, EnCamino.org.ar, e lida durante uma missa presidida pelo arcebispo de Buenos Aires, dom Jorge García Cuerva, no estádio Luna Park.

“Carlos Mugica deu a vida pelos mais pobres e pelo Evangelho", afirmou García Cuerva que recordou a “Meditação na Vila” escrita pelo sacerdtoe em 1972, que destaca as carências, injustiças, abusos de poder e a dor de uma Argentina convulsionada naquela época. Hoje, como enfatizou o arcebispo, a situação não parece ter mudado, mas a Argentina é diferente: “50 anos depois, queremos estar perto dos mais pobres como o Padre Carlos estava, porque somente a proximidade que nos torna amigos nos permite apreciar profundamente os valores dos pobres de hoje, seus anseios legítimos e sua maneira de viver sua fé”. A celebração encerrou a Semana Mugica de resgate da figura sacerdotal do jesuíta, entre oficinas de análise sobre a sua obra, missas e vigílias de oração, além de marchas comemorativas e um museu itinirante.

A carta do Papa Francisco

Na carta lida pelo arcebispo à comunidade católica de Buenos Aires, o Papa saudou todos que se reuniram para recordar "a morte violenta" do jesuíta. Um momento de celebração da Igreja, "que é muito mais que uma comemoração histórica", mas uma oportunidade "para renovar a presença fraterna e comprometida entre aqueles que carregam cruzes pesadas. Eu lhes agradeço e os encorajo a continuar colocando o coração e o corpo ao lado daqueles que sofrem todo tipo de pobreza”.

Ainda hoje, continuou Francisco, "o Padre Carlos nos encoraja que em cada bairro se fortaleça uma comunidade que se organiza para acompanhar a vida do nosso povo e nos desafia a lutar contra todo tipo de injustiça, a ter um diálogo inteligente com o Estado e com a sociedade”. O jesuíta, escreveu ainda o Pontífice, “nos ensina a não nos deixarmos arrastar pela colonização ideológica, nem pela cultura da indiferença”.

O Papa terminou a carta estendendo sua exortação a todos os argentinos para que busquem “lugares de integração, descartando a desqualificação do outro. Que a brecha seja superada, não com silêncios e cumplicidades, mas olhando nos olhos uns dos outros, reconhecendo erros e erradicando a exclusão".

O martírio de Pe. Mugica

O Padre Carlos Mugica, após ameaças de morte, foi assassinado a tiros em 11 de maio de 1974 por um agente anticomunista, quando apenas havia terminado a missa na igreja paroquial de São Francisco Solano, no bairro popular de Villa Luro, em Buenos Aires. Os restos mortais do mártir dos pobres descansam na Paróquia Cristo Obrero desde 1999.

 

- O Papa recebe presidente do Equador

Daniel Roy Gilchrist Noboa Azín conversou com o Papa Francisco durante 30 minutos na Residência Apostólica. Nas conversas na Secretaria de Estado, a situação socioeconômica do país com foco no emprego dos jovens, a questão da segurança pública e os migrantes.

Durou trinta minutos a conversa entre o Papa Francisco e o presidente do Equador, Daniel Noboa Azín, que foi recebido em audiência, nesta segunda-feira, 13 de maio, na Residência Apostólica Vaticana com sua esposa e comitiva. 

Posteriormente, Noboa Azín encontrou-se com o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, acompanhado pelo secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais, dom Paul Richard Gallagher. Durante as conversas cordiais na Secretaria de Estado, informa uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé, "foi expressa satisfação pelas boas relações entre o Equador e a Santa Sé, sublinhando a colaboração positiva entre a Igreja e o Estado". "Durante a conversa", prossegue o comunicado, "foram abordadas a situação socioeconômica com particular referência ao trabalho para os jovens, e a questão da segurança pública e dos migrantes".

Os presentes

Após o encontro com Francisco e a apresentação da delegação equatoriana, houve a tradicional troca de presentes. O Pontífice deu a Noboa Azín uma obra de bronze representando uma pomba carregando um ramo de oliveira, com a inscrição "Sejam mensageiros de paz". Depois, foram entregues os volumes de documentos papais, a Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, o livro sobre a Statio Orbis de 27 de março de 2020, editado pela Lev (Livraria Editora Vaticana), o volume sobre o Apartamento Pontifício das Audiências, editado pela Prefeitura da Casa Pontifícia. Por sua vez, o Presidente do Equador ofereceu ao Papa uma reprodução da Virgen del Cisne, obra de artesãos locais.

 

- O Papa aos siro-malabarenses: preservar a unidade, onde há desobediência há cisma

Francisco recebeu em audiência os representantes da antiga Igreja na Índia, duramente testada pelas divisões internas sobre a forma litúrgica. O Pontífice advertiu contra a mundanidade “que leva à rigidez e à divisão”. “O orgulho, as recriminações e a inveja não vêm do Senhor e não levam à paz. Desrespeitar a Eucaristia é incompatível com a fé cristã”, disse o Papa.

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (13/05), na Sala do Consistório, no Vaticano, os fiéis da Igreja Siro-malabar nascida da pregação de São Tomé, atualmente a maior da Índia, que na arquieparquia de Ernakulam-Angamaly tem vivido anos de oposição e fraturas, por vezes resultando em episódios de violência, por causa de uma disputa interna sobre em que direção a missa deve ser celebrada pelos sacerdotes, ou seja, voltados para a comunidade ou para o altar.

 Onde há desobediência há cisma

Em seu discurso, o Pontífice enfatizou a lealdade antiga da Igreja Siro-malabar, "enraizada no testemunho, até ao martírio, de São Tomé, Apóstolo da Índia".

Vocês são guardiões e herdeiros da pregação apostólica. Vocês enfrentaram muitos desafios ao longo de sua longa e conturbada história, que no passado também viu irmãos na fé cometerem ações infelizes contra vocês, insensíveis às peculiaridades de sua florescente Igreja. Contudo, vocês permaneceram fiéis ao Sucessor de Pedro. Estou feliz hoje em recebê-los e confirmá-los na gloriosa herança que receberam e que levam adiante.

“Vocês são obedientes, e onde há obediência há Ecclesia; onde há desobediência há cisma. Vocês são obedientes, esta é a sua glória: a obediência. Mesmo com o sofrimento, mas sigam em frente.”

Francisco recordou que a "história, singular e preciosa" da Igreja Siro-malabar "é um patrimônio único para todo o povo santo de Deus". O Pontífice aproveitou a ocasião "para recordar que as tradições orientais são tesouros imprescindíveis na Igreja". "Especialmente num tempo como o nosso, que corta as raízes e mede tudo, até mesmo a atitude religiosa, no útil e no imediato, o Oriente cristão permite-nos recorrer a fontes de espiritualidade antigas e sempre novas. Estas fontes frescas trazem vitalidade à Igreja e por isso é bonito para mim, como Bispo de Roma, incentivá-los, fiéis católicos siro-malabarenses, onde quer que estejam, a cultivar o sentido de pertença à sua Igreja sui iuris, para que seu grande patrimônio litúrgico, teológico, espiritual e cultural possa brilhar ainda mais", sublinhou o Papa.

Francisco os exortou a "preservar a unidade". "Não é uma exortação piedosa, mas um dever, e é especialmente assim quando se trata de sacerdotes que prometeram obediência e dos quais o povo fiel espera o exemplo da caridade e mansidão. Trabalhemos com determinação para salvaguardar a comunhão e rezemos incansavelmente para que os nossos irmãos, tentados pela mundanidade que leva à rigidez e à divisão, possam perceber que fazem parte de uma família maior, que os ama e os espera", ressaltou.

De acordo com o Papa, "o orgulho, as recriminações e a inveja não vêm do Senhor e nunca levam à concórdia e à paz. Desrespeitar gravemente o Santíssimo Sacramento, Sacramento da caridade e da unidade, discutindo os detalhes celebrativos da Eucaristia que é o ponto mais alto da sua presença adorada entre nós, é incompatível com a fé cristã. O critério orientador, o verdadeiramente espiritual, aquele que vem do Espírito Santo, é a comunhão: significa verificar a adesão à unidade, a custódia fiel e humilde, respeitosa e obediente dos dons recebidos".

Vencer o desânimo nos momentos de crise

A seguir, o Papa disse:

Nos momentos de dificuldade e de crise, não se deixem vencer pelo desânimo ou pela sensação de desamparo diante dos problemas. Irmãos e irmãs, não percam a esperança, não se cansem de ser pacientes, não se fechem em preconceitos que alimentam a animosidade. Pensemos nos grandes horizontes da missão que o Senhor nos confia, a missão de sermos sinal da sua presença de amor no mundo, e não um escândalo para quem não acredita.

"Ao tomar cada decisão", disse ainda Francisco, "pensemos nos pobres e nos distantes, nas periferias, nos que estão na Índia e na diáspora. Pensemos nos que sofrem e esperam sinais de esperança e de consolação. Sei que a vida de muitos cristãos em muitos lugares é difícil, mas a diferença cristã consiste em responder ao mal com o bem, em trabalhar incansavelmente com todos os fiéis para o bem de todos os homens".

O Papa agradeceu o compromisso da Igreja siro-malabar "nos campos da formação familiar e da catequese". "Apoio seu trabalho pastoral com os jovens e as vocações. Estou perto de vocês na oração e os trago em meu coração todos os dias", disse ele.  

Aos fiéis da comunidade siro-malabar de Roma, descendentes do apóstolo Tomé na cidade de Pedro e Paulo, Francisco disse que eles têm um papel especial: "Desta Igreja, que preside a comunhão universal da caridade, vocês são chamados a rezar e a cooperar de modo especial pela unidade na sua Igreja, não só em Kerala, mas em toda a Índia e em todo o mundo. Kerala que é uma mina de vocações: rezem para que continue sendo", concluiu.

 

Fonte: Vatican News