Na alocução que precedeu a oração mariana do Regina Caeli deste domingo (12/05), o Papa Francisco refletiu sobre o Evangelho do dia (Mc 16,19), data em que a Igreja de muitos países, inclusive do Brasil, celebra a Solenidade da Ascensão do Senhor. A liturgia mostra que Jesus aparece aos Apóstolos e confia "a tarefa de continuar a sua obra". Com o retorno ao Pai, comentou o Pontífice, Cristo não se separa de nós, mas precede o nosso destino.
Francisco sugeriu a imagem das montanhas para compreender a Palavra, quando se sobre em direção a um cume: "caminha-se, com dificuldade, e, finalmente, em uma curva do caminho, o horizonte se abre e se vê o panorama". Nessa hora as forças são redobradas para chegar ao topo: "e nós, a Igreja, somos exatamente aquele corpo que Jesus, tendo subido ao céu, arrasta consigo como em uma 'escalada em grupo'”, mostrando "passo a passo", "com alegria", "a beleza da Pátria para a qual estamos caminhando". E o Papa mostra quais são esses passos a serem dados até o caminho final:
“Dar vida, levar esperança, afastar-se de toda maldade e mesquinhez, responder ao mal com o bem, aproximar-se dos que sofrem. Esse é o 'passo a passo'. E quanto mais fizermos isso, mais nos deixamos transformar pelo Espírito, mais seguimos o seu exemplo, e mais, como nas montanhas, sentimos o ar ao nosso redor se tornar leve e limpo, o horizonte amplo e a meta próxima, as palavras e os gestos se tornam bons, a mente e o coração se expandem e respiram.”
Ao final da reflexão, o Papa pediu a intercessão de Maria para nos ajudar a chegar à meta, que ela já alcançou, através de um caminho consciente rumo à glória do Céu:
“Então podemos nos perguntar: está vivo em mim o desejo por Deus, o desejo por seu amor infinito, por sua vida que é vida eterna? Ou estou um pouco castigado e ancorado às coisas passageiras, ou ao dinheiro, ou ao sucesso, ou aos prazeres? E o meu desejo pelo Céu, me isola, me fecha ou me leva a amar os meus irmãos com um coração grande e desinteressado, sentindo que eles são meus companheiros no caminho ao Paraíso?”
- Papa: Santa Sé pronta a favorecer esforços para troca de prisioneiros entre Ucrânia e Rússia
O pedido de orações pela paz na Ucrânia, na Palestina, em Israel e Myanmar, e sobretudo um apelo para que haja uma troca de prisioneiros entre Moscou e Kiev, também feita com a ajuda da Santa Sé. O Papa, nas saudações após o Regina Caeli deste domingo (12/05), mais uma vez pensa em todos aqueles que sofrem com os conflitos, com o olhar voltado para a violência que está ensanguentando uma parte da Europa.
“Enquanto celebramos a Ascensão do Senhor Ressuscitado que nos liberta e nos quer livres, renovo o meu apelo para uma troca geral de todos os prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia, assegurando a disponibilidade da Santa Sé em favorecer todos os esforços nesse sentido, especialmente por aqueles que estão gravemente feridos e doentes.”
Até o momento, a Rússia e a Ucrânia realizaram mais de 50 trocas de prisioneiros desde o início da guerra - em 24 de fevereiro de 2022. Em mais de 2 anos de conflito, vários milhares de prisioneiros foram libertados por ambos os lados. A última troca conhecida data de 8 de fevereiro deste ano. Naquela ocasião, o presidente ucraniano Zelensky calculou o número de ucranianos libertados em 3.135.
Na Urbi et Orbi de 31 de março deste ano, Francisco lançou um apelo para abrir um caminho de paz para as populações que são vítimas de todos os conflitos, começando por Israel, Palestina e Ucrânia. Também naquela ocasião, o Papa pediu uma “troca geral de todos os prisioneiros entre Rússia e Ucrânia”. Em 17 de abril deste ano, durante a Audiência Geral, o Pontífice voltou a falar sobre os prisioneiros de guerra, invocando o Senhor para que movesse “a vontade de libertar todos eles”. O Papa fez então uma clara referência à tortura dos prisioneiros, descrevendo-a como “uma coisa muito feia, não humana”.
Uma parte fundamental da missão de paz na Ucrânia confiada pelo Papa ao cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, dizia respeito justamente à troca de prisioneiros e à repatriação de crianças ucranianas da Rússia.
-Francisco: a sabedoria do coração para redescobrir uma comunicação humana
Em nossos dias, é importante alcançar uma “comunicação plenamente humana”. Essa foi a exortação feita por Francisco durante as saudações ao final da oração mariana do Regina Caeli neste domingo (12/05), ao recordar o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais, com o tema “inteligência artificial e sabedoria do coração”.
“Somente recuperando uma sabedoria do coração poderemos interpretar as exigências do nosso tempo e redescobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana. A todos os profissionais da comunicação vai o nosso agradecimento pelo seu trabalho!”
Em seguida, o Papa dirigiu suas felicitações às mães dos países onde se celebra o Dia das Mães, pensando nelas “com gratidão”, pedindo orações “pelas mães que foram para o Céu” e aplaudindo os fiéis reunidos na Praça de São Pedro por todas elas.
Para concluir, Francisco agradeceu aos organizadores da exposição fotográfica “Changes”, sob a Colunata da Praça de São Pedro. Uma mostra, segundo as palavras do Papa que convidou as pessoas a visitá-la, na qual “fotógrafos de todo o mundo contam a beleza de nossa casa comum, um dom do Criador que somos chamados a guardar”.
- Dia Mundial das Comunicações: formar as pessoas ao pensamento crítico
O tema escolhido pelo Papa Francisco para o 58° Dia Mundial das Comunicações Sociais celebrado neste domingo (12/05), "Inteligência artificial e sabedoria do coração: por uma comunicação plenamente humana", foi inspirado na mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, de 1º de janeiro: "Inteligência artificial e paz". Segundo o Pe. Arnaldo Rodrigues, assessor de imprensa da CNBB e da reitoria da PUC-Rio, são mensagens que dão sequência ao pensamento de Francisco sobre o argumento expresso desde o início do seu pontificado em diferentes oportunidades, em especial, nas mensagens anuais destinadas aos profissionais da comunicação: "o Papa fala de uma comunicação humana, ou seja, humanizar a tecnologia".
"Transformar o espaço da comunicação em um espaço de encontro, de diálogo. O Papa apresenta na mensagem deste ano, alguns desafios que precisam ser superados, mas o Papa mostra principalmente as oportunidades que podem ser feitas a partir de uma comunicação que realmente integra as pessoas e que seja uma comunicação que busca, acima de tudo, uma complementação, uma comunicação ética, algo que realmente possa colaborar cada vez mais para a dignidade da pessoa humana. Além da colaboração com o mundo, para a erradicação da pobreza e de tantas outras realidades que ainda precisam ser superadas."
E o Pontífice, recorda o Pe. Arnaldo, faz dois questionamentos principais logo no início da mensagem deste ano para o 58° Dia Mundial das Comunicações Sociais: "o que é o homem e o futuro da espécie; e como permanecer humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso e a evolução dos meios tecnológicos". O assessor da CNBB destaca, fazendo coro com Francisco, como é fundamental orientar as pessoas para o uso responsável e consciente em relação às diferentes formas de comunicação:
"Em toda mensagem, o Papa, ao apresentar os desafios e ao apresentar também as oportunidades, algo que para mim ressalta bastante é que o Papa nos pede, cada vez mais, enquanto Igreja, enquanto sociedade, enquanto todas as instituições, é de ajudar as pessoas a ter um pensamento crítico, formar pessoas que tenham a capacidade de reflexão da realidade apresentada. Não negar, mas também não totalmente tornar-se submisso. Mas, de uma certa forma, criarmos essa capacidade de refletir sobre o tema e, principalmente, a partir daí, criar também mecanismos que possam integrar cada vez mais as pessoas dentro dessa realidade, tornando essa realidade cada vez mais humana de forma que possa proporcionar ao mundo e à sociedade um espaço, um ambiente realmente de diálogo e de encontro, possibilitando a comunicação plenamente humana - como o Papa fala do coração."
"Neste tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade", escreve o Papa na mensagem, o texto aborda a importância da comunicação feita através da sabedoria do coração e orientada para uma vida mais plena da pessoa humana. E o Pe. Arnaldo conclui a reflexão da mensagem de Francisco, "muito atual para a Igreja e o mundo inteiro", buscando as palavras do próprio Pontífice:
"Ele diz que quando decidimos com o coração, quando as nossas decisões partem daquilo que é o fundamental do ser humano, nós temos duas possibilidades. Porque ele disse que não existe uma resposta definitiva agora para tudo. Tudo depende de nós. E aí ele fala que ao recordar que cada coisa, elas estão em nossas mãos, nós devemos recordar os perigos e as oportunidades. Porque, segundo a orientação do nosso coração, cada prolongamento técnico do homem ele pode ser tanto um instrumento de amoroso serviço ou de um domínio hostil."
Enfim, o Papa "nos pede realmente um compromisso cada vez maior que não é somente a partir da fala dele, se nós pensarmos exatamente lá no documento Inter mirifica da comunicação, do decreto conciliar, que nos pede exatamente para sermos uma presença viva dentro desses novos meios de tecnologia. Lá no número 3, do Inter mirifica, diz que devemos vivificar com Espírito humano e cristão esses meios, a fim de que correspondam à grande esperança do gênero humano".
Fonte: Vatican News