Cultura

Papa: Quaresma ajuda a entrar no deserto interior, em contato com a verdade





Os "animais selvagens" que temos no coração, ou seja, as paixões desordenadas de vários tipos, podem levar ao risco de sermos dilacerados interiormente; enquanto os anjos recordam as boas inspirações divinas que "acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, o sabor do Céu".

Ir ao deserto para perceber a presença dos "animais selvagens"  e anjos em nosso coração, e com o silêncio e a oração captar os pensamentos e sentimentos inspirados por Deus.

Em síntese, esse foi o convite do Papa aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro em um dia ensolarado e temperatura amena, para o Angelus neste I Domingo da Quaresma.

"Animais selvagens e anjos", companhias de Jesus no deserto e também nossas 

O Evangelho de Marcos - que inspirou a reflexão de Francisco - narra que Jesus «ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás», e também nós - observou o Papa - "somos convidados na Quaresma a “entrar no deserto”, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, em contato com a verdade"

A leitura narra que "animais selvagens e anjos" eram a companhia de Jesus no deserto. Mas, em um sentido simbólico - explicou o Papa - "são também a nossa companhia: quando entramos no deserto interior, de fato, podemos encontrar ali animais selvagens e anjos."

E explica então, o sentido desses "animais selvagens":

Na vida espiritual podemos pensar neles como as paixões desordenadas que dividem o nosso coração, tentando possuir o coração. Elas nos sugestionam, parecem sedutoras, mas, se não estivermos atentos, levam ao risco de nos dilacerar.

Os "animais" alojados em nossa alma

E  Francisco diz  ainda que podemos dar nomes a esses “animais” da alma:

Os vários vícios, a ganância de riqueza, que aprisiona no cálculo e na insatisfação, a vaidade do prazer, que condena à inquietação e à solidão, e ainda também a avidez pela fama, que gera insegurança e uma necessidade contínua de confirmação e protagonismo.  É interessante: não se esquecer dessas coisas que podemos encontrar dentro de nós: ganância, vaidade e avidez. São como animais “selvagens” e como tais devem ser domesticados e combatidos: caso contrário, devorarão a nossa liberdade. E a Quaresma nos ajuda a entrar no deserto interior para corrigir essas coisas.

O "serviço" em oposição à "posse" 

Mas junto com Jesus no deserto, além dos "animais selvagens", estavam também os anjos, "mensageiros de Deus, que nos ajudam, nos fazem bem". E segundo o Evangelho, sua característica "é o serviço":

Exatamente o contrário da posse, típica das paixões. Serviço em oposição à posse. Os espíritos angélicos, em vez disso, recordam os pensamentos e bons sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo. Enquanto as tentações nos dilaceram, as boas inspirações divinas unificam-nos e fazem-nos entrar em harmonia: acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, infundem “o sabor do Céu”. E para captar a inspiração de Deus e entender bem, é preciso entrar no silêncio e oração. E a Quaresma é tempo para fazer isso. Sigamos em frente.

Retirar-se ao deserto e ouvir Deus que fala no coração 

Assim, ao darmos os primeiros passos no caminho quaresmal, o Papa propõe que façamo-nos duas perguntas:

Primeiro: quais são as paixões desordenadas, os “animais selvagens” que se agitam no meu coração? Segundo: para permitir que a voz de Deus fale ao meu coração e o guarde no bem, penso retirar-me um pouco para o “deserto”, ou procuro dedicar durante o dia algum espaço para repensar isso?

Ao concluir, o Papa pediu "que a Virgem Santa, que guardou a Palavra e não se deixou tocar pelas tentações do Maligno, nos ajude no tempo da Quaresma."

 

 

- Papa: rezemos sem nos cansar, a oração é eficaz e populações estão exaustas pelas guerras

Depois de rezar o Angelus, os apelos de Francisco pela paz no Sudão, Moçambique, Ucrânia, Palestina: "A guerra é sempre uma derrota!", reiterou.

Depois de rezar o Angelus, com o olhar voltado para os tantos conflitos em várias partes do mundo que martirizam populações indefesas e causam destruição, o Papa reiterou que "a oração é eficaz", e devemos "pedir ao Senhor o dom de mentes e corações que se dediquem à paz".

Sudão 

Como já havia feito no Angelus de 17 de novembro, quando pediu para não fosse esquecido este país em guerra, Francisco voltou a lançar um apelo pela paz no "querido Sudão":

Já passaram dez meses desde a eclosão do conflito armado no Sudão, que causou uma situação humanitária muito grave. Peço novamente às partes em conflito que parem com esta guerra, que provoca tanto mal às pessoas e ao futuro do país. Rezemos para que em breve sejam encontrados caminhos de paz para construir o futuro do querido Sudão.

Moçambique

O olhar do Santo Padre voltou-se então à "martirizada região" de Cabo Delgado, em Moçambique:

A violência contra populações indefesas, a destruição de infra-estruturas e a insegurança voltam a espalhar-se na província de Cabo Delgado, em Moçambique, onde também nos últimos dias foi incendiada a missão católica de Nossa Senhora da África em Mazeze. Rezemos para que a paz volte àquela martirizada região.

A guerra é sempre uma derrota. Não se cansar de rezar

O Papa pediu ainda para não esquecermos "os muitos outros conflitos que ensanguentam o continente africano e muitas partes do mundo: também a Europa, a Palestina, a Ucrânia... Não esqueçamos: a guerra é sempre uma derrota, sempre!":

Onde quer que haja combates, as populações estão exaustas, estão cansadas da guerra, que como sempre é inútil e inconclusiva, e trará  somente morte, somente destruição, e nunca levará à solução do problema. Em vez disso, rezemos sem nos cansar, porque a oração é eficaz, e peçamos ao Senhor o dom de mentes e de corações que se dediquem concretamente à paz.

Depois de saudar os diversos grupos presentes na Praça São Pedro, o Papa se despediu com o tradicional: 'Desejo a todos um bom domingo. Por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e até logo".

 

- A dor do Papa pelas vítimas de desabamento em Florença

O Papa, em telegrama assinado pelo secretário de Estado Parolin e dirigido ao cardeal Betori, arcebispo metropolitano da capital toscana, expressa a sua proximidade às famílias das vítimas e convida “a um maior compromisso daqueles que têm a responsabilidade de proteger os trabalhadores”.

Sentimentos de proximidade e as condolências às famílias das vítimas da tragédia ocorrida em uma obra em Florença, mas também o apelo à segurança no trabalho, foram expressos pelo Papa em telegrama assinado pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin , e dirigido ao cardeal Giuseppe Betori, arcebispo metropolitano de Florença.

No texto é feita referência ao “trágico acidente” ocorrido na sexta-feira, 16 de fevereiro, no canteiro de obras de um supermercado na capital toscana, quando a queda de um dos pilares de sustentação provocou um desabamento que matou quatro pessoas e feriu três, enquanto um quinto trabalhador ainda está desaparecido.

O apelo à segurança no trabalho

Francisco, além de manifestar a sua “mais profunda participação na dor de todos os cidadãos”, renova “o apelo à segurança no local de trabalho, fazendo votos de um maior compromisso por parte daqueles que têm a responsabilidade de proteger os trabalhadores”.

O Papa agradece também a todos os que “trabalham nas operações de resgate”, assegurando “sua paterna oração” e enviando “a todos a bênção apostólica como sinal de proximidade espiritual”.

 

- Exercícios Espirituais do Papa e Cúria romana iniciam na tarde deste domingo

"Esta tarde, juntamente com os colaboradores da Cúria, iniciaremos os Exercícios Espirituais. Convido as comunidades e os fiéis a dedicarem, durante este tempo de Quaresma e ao longo deste ano de preparação ao Jubileu, que é o “Ano da Oração”, momentos específicos para recolher-se na presença do Senhor."

“Não tenhamos medo de nos despojar dos revestimentos mundanos e voltar ao coração, ao essencial”, havia exortado o Papa em sua homilia na Missa celebrada na Quarta-feira de Cinzas na Basílica de Santa Sabina. E para tal, o convite feito em sua alocução antes de rezar o Angelus neste I Domingo da Quaresma, para ir ao deserto e ali perceber a presença dos “animais selvagens” e anjos que temos no coração e “captar os pensamentos e sentimentos inspirados por Deus”.

Depois da oração do Angelus, em consonância com o início dos Exercícios Espirituais para a Cúria na tarde deste domingo, o convite aos fiéis a dedicarem na Quaresma e ao longo do ano, momentos específicos para estar na presença do Senhor:

Esta tarde, juntamente com os colaboradores da Cúria, iniciaremos os Exercícios Espirituais. Convido as comunidades e os fiéis a dedicarem, durante este tempo de Quaresma e ao longo deste ano de preparação ao Jubileu, que é o “Ano da Oração”, momentos específicos para recolher-se na presença do Senhor.

Assim, no início deste “tempo forte” por excelência, o Santo Padre, os cardeais residentes em Roma, os chefes dos dicastérios e os superiores da Cúria Romana passam a viver o início desta fase do ano litúrgico de forma pessoal, por meio de um período de exercícios espirituais. Durante essa semana, todos os compromissos do Papa estão suspensos, incluindo a Audiência Geral de quarta-feira, 21 de fevereiro.

Como tem acontecido desde a pandemia de 2020, repete-se assim a modalidade pessoal do retiro quaresmal, diferentemente dos anos anteriores e desde o início do pontificado de Francisco, com os Exercícios Espirituais sendo vividos comunitariamente pelo Papa e seus colaboradores da Cúria na Casa Divino Mestre, na localidade de Ariccia, dirigida pelos Paulinos.

 

Fonte: Vatican News