Cultura

Papa aos seminaristas: trabalhem a maturidade afetiva e humana, essencial para a vocação





"A formação sacerdotal é um canteiro de obras no qual cada é chamado a se dedicar através da verdade, para permitir que seja Deus quem construa ao longo dos anos a sua obra", afirma Francisco aos futuros sacerdotes da arquidiocese italiana de Nápoles.

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (16/02), na Sala Clementina, no Vaticano, os bispos, superiores, formadores e seminaristas do Seminário arquiepiscopal de Nápoles "Alessio Ascalesi", por ocasião do 90º aniversário da sua inauguração.

Ao saudar todos os presentes, o Papa entregou o discurso preparado e falou espontaneamente. No texto, o Santo Padre inicia com um agradecimento à equipe de colaboradores que atuam no seminário, de forma especial, aos casais, “cuja presença é um sinal importante”, e recorda a importância da complementaridade entre a ordem sagrada e o sacramento do matrimônio: “Na formação sacerdotal, precisamos da contribuição daqueles que escolheram a vocação do casamento. Obrigado pelo que fazem!”, enfatiza o Pontífice.

Formação contínua 

A seguir, Francisco se dirige diretamente aos seminaristas, expressando sua gratidão “por terem respondido ao chamado do Senhor e pela disponibilidade em servir à sua Igreja”:

“Vos encorajo a cultivar a beleza da fidelidade a cada dia, com entusiasmo e dedicação, entregando as vossas vidas ao contínuo trabalho do Espírito Santo, que vos ajuda a assumir a forma de Cristo. Lembrem-se disto: a formação nunca termina, dura toda a vida, e se for interrompida, não permanecemos onde estávamos, mas retrocedemos.”

Seminário: um canteiro de obras

“Pensando precisamente neste trabalho interior contínuo que é a formação sacerdotal e no aniversário do vosso Seminário” continua o Papa. “vem-me à mente a imagem de um canteiro de obras”:

“A Igreja é, antes de tudo, um canteiro de obras sempre aberto. Ela permanece constantemente em movimento, aberta à novidade do Espírito, vencendo a tentação de preservar a si mesma e seus próprios interesses.”

Segundo Francisco, esta é a mesma dinâmica do caminho sinodal: “ouvir o Espírito e os homens do nosso tempo”, e deste modo, os ministros sacerdotais nos dias de hoje são, antes de tudo, servos “que sabem adotar um estilo de discernimento pastoral em cada situação, sabendo que todos, clérigos e leigos, estão em marcha em direção à plenitude e são operários do mesmo canteiro em construção”. 

“Não podemos oferecer respostas rígidas e pré-fabricadas à complexa realidade de hoje, mas devemos investir nossas energias anunciando o essencial, que é a misericórdia de Deus, e manifestando-a através da proximidade, da paternidade, da mansidão, refinando a arte do discernimento.”

Uma vida no estilo de Jesus

Sobre o caminho de formação para o presbiterado, o Pontífice indica aos seminaristas que é necessário estar atento para não cometer o erro de se sentir superior e de se considerar pronto diante dos desafios:

 “A formação sacerdotal é um canteiro de obras no qual cada um de vocês é chamado a se dedicar através da verdade, para permitir que seja Deus quem construa ao longo dos anos a sua obra”, portanto, completa Francisco, “não tenham medo de permitir que o Senhor aja em suas vidas, o Espírito virá primeiro para demolir aqueles aspectos, aquelas convicções, aquele estilo e até mesmo aquelas ideias incoerentes sobre a fé e o ministério que impedem o vosso crescimento segundo o Evangelho, então o mesmo Espírito, depois de limpar as falsidades interiores, lhes dará um coração novo, construirá as suas vidas no estilo de Jesus, os fará tornar-se novas criaturas e discípulos missionários”. 

Maturidade afetiva e humana

O Papa recorda que o verdadeiro amadurecimento é aquele que acontece através da cruz, “como foi para os Apóstolos”, e pede aos formandos que não tenham medo: “certamente pode ser um trabalho árduo, porém se permanecerem dóceis e verdadeiros, disponíveis à ação do Espírito sem se enrijecerem e se defenderem, descobrirão a ternura do Senhor dentro das vossas fraquezas e na alegria pura do serviço”. 

Um verdadeiro percurso formativo acontece através da sinceridade, “cultivando a vida interior, meditando na Palavra, aprofundando no estudo as questões do nosso tempo e as questões teológicas e pastorais. E permitam-me recomendar-lhes uma coisa: trabalhem a maturidade afetiva e humana. Sem isso, não se vai a lugar algum!”, exorta Francisco. 

Sobriedade e fraternidade

Na conclusão do texto, o Pontífice ressalta que os itinerários de formação estão passando por muitas transformações, e avaliou como positivas essas novidades. E ao recordar do período quaresmal, Francisco afirma que este é um "tempo de pequenas e grandes escolhas contra a corrente e de repensar nos estilos de vida". 

O convite final do Papa aos seminaristas é para que percorram, em comunidade, a estrada da conversão e da renovação: 

“Deixem-se conquistar por Deus com renovado estupor, fundamento da vocação que se acolhe e redescobre especialmente na adoração e em contato com a Palavra; vivam com alegria a escolha pela sobriedade, e aprendam um estilo de vida que vos capacitará a serem sacerdotes capazes de se doar aos outros e de estarem atentos aos mais pobres; não se deixando enganar pelo culto da imagem e da aparência, mas cuidando da vida interior, vivendo na paz e na concórdia, superando as divisões e aprendendo a viver na fraternidade com humildade. E a fraternidade é, especialmente hoje, uma das maiores testemunhas que podemos oferecer ao mundo.”

 

- Rabinos e estudiosos agradecem ao Papa: semeou amizade onde havia rivalidade

Em uma carta, gratidão a Francisco por sua "mão estendida aos judeus de todo o mundo": o compromisso da Igreja "transformou nossas comunidades", apreciamos "seu compromisso de se opor ativamente ao antissemitismo e ao antijudaísmo".

"O esforço da Igreja para cultivar a compreensão onde antes havia rivalidade, a amizade onde antes havia animosidade e a empatia onde antes havia desprezo, transformou nossas comunidades e deixou uma marca duradoura em nossas histórias. Em sua carta, Sua Santidade, encontramos uma confirmação desse compromisso, que assume uma importância ainda maior nestes tempos em que a instabilidade ameaça até mesmo os relacionamentos cultivados ao longo de muitas décadas". Essa é a passagem central de uma carta enviada ao Papa Francisco por vários rabinos e estudiosos do diálogo judaico-cristão, cujos signatários são os rabinos Jehoshua Ahrens (Frankfurt/Berna), Yitz Greenberg (Jerusalém/Nova York) e David Meyer (Paris/Roma), bem como Karma Ben Johanan (Jerusalém) e Malka Zeiger Simkovich (Chicago).

O mesmo grupo já havia escrito ao Santo Padre em novembro passado para pedir uma aproximação renovada entre judeus e cristãos após o massacre de 7 de outubro e os recrudescimentos de antissemitismo e antijudaísmo registrados em várias partes do mundo.

O Papa Francisco enviou então uma carta em 2 de fevereiro "aos irmãos e irmãs judeus de Israel", na qual assegurou a solidariedade de toda a Igreja para com o povo judeu e, ao mesmo tempo, pediu uma rápida pacificação entre todos os povos de todas as etnias e denominações religiosas que habitam a Terra Santa.

Na quarta-feira, chegou este novo texto de estudiosos judeus agradecendo ao Papa por suas palavras de apreço. "Conforta-nos o fato de que o senhor tenha estendido a mão aos judeus do mundo e, em particular, aos de Israel, neste momento de grande sofrimento", escrevem, apreciando "também seu compromisso de se opor ativamente ao antissemitismo e ao antijudaísmo, que nos últimos tempos assumiram dimensões desconhecidas para a maioria de nós durante nossa vida".

"As palavras que vêm do coração entram no coração", eles escrevem com gratidão, citando o rabino Moshe Ibn Ezra. Eles continuam: "estamos vivendo em um momento histórico que exige perseverança, esperança e coragem. O poder transformador de Nostra Aetate é uma inspiração para nós, pois mostra que a fraternidade pode ser recuperada mesmo no conflito mais difícil". Portanto, concluem, "nos unimos a nossos irmãos e irmãs católicos em sua convicção de que as religiões podem ser forças criativas, imbuídas do poder de abrir caminhos que, de outra forma, permaneceriam fechados".

O professor Karma Ben Johanan, coordenador do grupo de signatários, confirma ao jornal da Santa Sé 'L'Osservatore Romano': "acolhemos a carta do Papa como um convite para aprofundar o diálogo entre nossas comunidades. Quase 60 anos se passaram desde que o Concílio Vaticano II lançou uma nova era de relações entre judeus e cristãos. Hoje devemos renovar nossas relações em meio às tribulações deste triste período". E acrescentou: "apesar das tensões atuais, estamos convencidos de que nossas relações são fortes o suficiente para superá-las e seguir em frente, mas ainda há muito trabalho a ser feito".

A carta termina lembrando que "a dor dos habitantes desta terra, sejam judeus, cristãos, muçulmanos ou outros, afeta nossas vidas e nosso futuro" e "nos unimos ao senhor Santo Padre em orações pela paz, pelo fim do terror, pela cura dos feridos e pelo consolo de todos os que estão na aflição e no lamento".

 

Fonte: Vatican News