Cultura

Papa: atenção à tristeza, é como um verme que corrói o coração





 Há uma tristeza "que nos leva à salvação", mas há também aquela que pode se transformar "em um estado de espírito maligno". Francisco ao refletir na Audiência Geral desta quarta-feira, 07/02, sobre o vício da tristeza, advertiu: "é preciso combater esse demônio perverso e isso pode ser feito pensando em Jesus, que nos traz sempre a alegria da ressurreição".

"Entendida como um abatimento da alma, uma aflição constante que impede o homem de sentir alegria em sua própria existência." Com estas palavras, o Papa Francisco introduziu o tema de sua reflexão dedicada à tristeza nesta quarta-feira, 7 de fevereiro. Esta é a sétima catequese do itinerário sobre os vícios e as virtudes.

O Santo Padre recordou logo no início que, em relação à tristeza, os Padres do deserto desenvolveram uma distinção importante: "existe uma tristeza que é própria da vida cristã e que com a graça de Deus se transforma em alegria: esta, obviamente, não deve ser rejeitada e faz parte do caminho de conversão. Mas há também um segundo tipo de tristeza que se infiltra na alma e a prostra em um estado de desânimo; este segundo deve ser combatido.

Uma tristeza amiga

Ao sublinhar que existe "uma tristeza amiga, que nos leva à salvação" o Santo Padre trouxe como exemplo o filho pródigo da parábola, quando chega ao fundo da sua degeneração, sente uma grande amargura, e isso o leva a voltar a si mesmo e a decidir voltar para a casa do pai (cf. Lc 15, 11-20).

"É uma graça sentir dor pelos nossos pecados, lembrar o estado de graça do qual caímos, chorar porque perdemos a pureza na qual Deus nos sonhou."

A tristeza está ligada à vivência da perda e da frustração

"Mas há uma segunda tristeza, que é antes uma doença da alma", continuou o Papa, "este vício nasce no coração do homem quando desaparece um desejo ou uma esperança". Ao se referir à história dos discípulos de Emaús, presente no Evangelho de Lucas, Francisco recorda que "aqueles dois discípulos saem de Jerusalém com o coração desiludido" e, a certa altura, confidenciam ao "desconhecido" que se junta a eles a experiência triste que estavam sentindo com a morte daquele que era o Salvador: 

"A dinâmica da tristeza está ligada à vivência da perda. No coração do homem surgem esperanças que às vezes são frustradas. Pode ser o desejo de possuir algo que não pode ser obtido; mas também algo importante, como uma perda emocional. Quando isso acontece, é como se o coração do homem caísse num precipício, e os sentimentos que ele experimenta são desânimo, fraqueza de espírito, depressão, angústia".

O sentimento de melancolia adoece o coração

O Papa enfatizou que "todos nós passamos por provações que nos geram tristeza, pois a vida nos faz conceber sonhos que depois desmoronam". Nesta situação, alguns, depois de um período de turbulência, confiam na esperança, mas outros se afundam na melancolia, permitindo que ela gangrene os seus corações, e assim ficam felizes por um fato que não aconteceu, é como comer uma bala amarga, sem açúcar: "a tristeza é um prazer do não prazer", disse o Pontífice.

"Certos lutos prolongados, em que uma pessoa continua a ampliar o vazio daqueles que já não estão mais lá, não são próprios da vida no Espírito. Certas amarguras rancorosas, pelas quais uma pessoa sempre tem em mente uma reivindicação que a faz assumir as roupas da vítima, não produzem em nós uma vida saudável, e muito menos cristã. Há algo no passado de todos que precisa ser curado".

“A tristeza pode transformar-se de uma emoção natural num estado de humor maligno. É um demônio sorrateiro, o da tristeza. Os Padres do deserto o descreviam como um verme do coração, que corrói e esvazia aquele que o hospedou.”

Por fim, o Papa convidou os fiéis a estarem atentos ao vício da tristeza e a recordarem sempre que Jesus traz a alegria da Ressurreição. E de modo concreto, com algumas perguntas, falou o que pode-se fazer quando vem o sentimento de tristeza:

"Pare e reflita: essa tristeza é boa? Essa tristeza não é boa? E reaja de acordo com a natureza da tristeza. Não se esqueça de que a tristeza pode ser uma coisa muito ruim que nos leva ao pessimismo, que nos leva a um egoísmo que dificilmente pode ser curado", concluiu Francisco.

 

- Papa Francisco: não nos esqueçamos das guerras. Precisamos de paz

No final da Audiência Geral, Francisco fez um novo apelo pela paz na Ucrânia, Israel e Palestina. Lembrou-se também dos Rohingya e das muitas guerras espalhadas pelo mundo. Nas últimas horas, a conversa do Pontífice com o patriarca Pizzaballa sobre a situação na paróquia de Gaza.

Na saudação aos fiéis de língua italiana, no final da Audiência Geral desta quarta-feira (07/02), o Papa Francisco fez novamente um apelo pela paz.

Não nos esqueçamos das guerras, não nos esqueçamos da martirizada Ucrânia, da Palestina, de Israel, dos Rohingya, das muitas, muitas guerras que estão por toda parte. Rezemos pela paz. A guerra é sempre uma derrota, sempre. Rezemos pela paz. Precisamos de paz.

A seguir Francisco, saudou as Pias Discípulas do Divino Mestre "que estão celebrando o Centenário de sua fundação".

Que este aniversário seja um estímulo para fortalecer os ideais religiosos e para expressar a dedicação a Deus e aos irmãos de forma cada vez mais generosa.

Francisco saudou também os sacerdotes, acompanhados por dom Giovanni Tani, arcebispo emérito de Urbino - Urbania - Sant'Angelo em Vado, que estão celebrando o 25º aniversário de sua Ordenação. "Espero que o jubileu sacerdotal seja para cada um uma fonte de renovada dedicação a Cristo e à Igreja", disse o Papa.

Na saudação aos fiéis de língua espanhola, Francisco recordou que no próximo domingo, 11 de fevereiro, celebra-se o Dia Mundial do Enfermo.

Peçamos a Maria, Saúde dos enfermos, por todos os que sofrem, para que saibam depositar sua confiança em Deus, experimentando a alegria de saber que são amados por Ele. Que Jesus os abençoe e a Virgem Santa os proteja.

Contato com Cardeal Pizzaballa

A oração do Bispo de Roma é incessante. Assim como a atenção às áreas afetadas por conflitos é constante, graças às informações recebidas de seus representantes ou através de contatos feitos pessoalmente. Telefonemas, cartas, encontros. Hoje, o Pontífice telefonou ao Patriarca Latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa. Uma das numerosas conversas telefônicas entre Francisco e o cardeal italiano, focadas principalmente na situação da paróquia católica da Sagrada Família em Gaza.

Aquela pequena igreja, onde atualmente faltam alimentos, água e medicamentos, e onde se luta contra a falta de aquecimento e as rígidas temperaturas do inverno, é o lugar onde são acolhidas centenas de pessoas que perderam tudo. O Papa – como ele mesmo admitiu – telefona quase diariamente ao pároco padre Gabriel Romanelli e sobretudo ao vice-pároco padre Youssef Assad para se informar sobre a situação. E pede a todos que continuem garantindo o apoio a essas pessoas. Esta manhã, ele o fez com o Patriarca de Jerusalém, agradecendo-lhe pela proximidade demonstrada desde o início da guerra.

 

-Papa: O coração da Fiducia Supplicans é a acolhida, não se nega a bênção a ninguém

Em uma entrevista à revista italiana Credere, que será publicada amanhã, 08/02, Francisco volta a abordar a questão das bênçãos a casais homossexuais: "Ninguém se escandaliza se eu abençoo um empresário que explora as pessoas, enquanto se escandaliza se eu abençoo um homossexual". Do Pontífice, um novo incentivo para uma maior presença feminina na Igreja: "A ministerialidade não é a coisa mais importante. Haverá novas nomeações de mulheres na Cúria, elas trabalham melhor do que os homens".

"Todos, todos, todos". O Papa disse isso em Lisboa e repetiu em várias outras ocasiões para reafirmar o princípio de acolhimento que fundamenta a missão pastoral da Igreja e enquadrar também as bênçãos a casais "irregulares", incluindo os homossexuais, conforme proposto pelo documento doutrinal Fiducia Supplicans. Também na revista Credere, publicada pelo Grupo San Paolo à qual concedeu uma entrevista que será publicada no dia 8 de fevereiro, Francisco volta à questão das bênçãos - que geraram diversas reações e polêmicas - e repete o que já havia mencionado durante uma audiência ao Dicastério para a Doutrina da Fé que elaborou a declaração: "Eu não abençoo um 'casamento homossexual', abençoo duas pessoas que se amam e também peço que rezem por mim", explica o Pontífice na conversa com o diretor, padre Vincenzo Vitale. "Sempre nas confissões, quando essas situações surgem, pessoas homossexuais, pessoas divorciadas, eu sempre rezo e abençoo. A bênção não deve ser negada a ninguém. Todos, todos, todos. Atenção, estou falando de pessoas: de quem é capaz de receber o Batismo".

"Os pecados mais graves - acrescenta o Papa - são aqueles que se disfarçam com uma aparência mais 'angelical'. Ninguém se escandaliza se eu abençoo um empresário que talvez explore as pessoas: e isso é um pecado muito grave. Enquanto se escandaliza se eu abençoo um homossexual... Isso é hipocrisia! Devemos respeitar a todos. Todos! O cerne do documento é a acolhida".

Os Movimentos eclesiais são bons quando estão inseridos na Igreja 

Na entrevista à revista semanal, que celebra os dez anos de sua fundação, justamente por ocasião da eleição de Jorge Mario Bergoglio em 2013, o Papa relembra os anos de seu pontificado entre confidências pessoais, como seus diálogos com os idosos ou as memórias de Buenos Aires, e temas da atualidade, incluindo o Jubileu, um "evento de graça" no qual é necessário "redescobrir o valor e a necessidade da oração".

Francisco também fala sobre os movimentos eclesiais e o envolvimento dos jovens em experiências pastorais, como aquelas em países do Terceiro Mundo ou latino-americanos, onde as pessoas são abordadas com uma linguagem "simples". "Há também realidades 'sofisticadas', que não alcançam, são movimentos um pouco 'exóticos'", diz Francisco, ou seja, "refinados". Esses grupos, afirma, "tendem a formar uma 'igrejinha', de pessoas que se sentem superiores. Isso não é o santo povo fiel de Deus. O povo de Deus é composto por fiéis que sabem que são pecadores e seguem em frente. Não tenho nada contra os movimentos, que fazem muito bem". "O movimento - explica o Pontífice - é bom quando te insere na Igreja real, mas se são seletivos, se te separam da Igreja, se te levam a pensar que você é um cristão especial, isso não é cristão".

O importante é a presença das mulheres, não a ministerialidade

A resposta do Papa sobre o papel das mulheres é clara, à luz dos contínuos apelos para devolver um "rosto feminino" à Igreja ou, o mais recente, para "desmasculinizar" a Igreja. Francisco reitera a diferença entre o princípio petrino e o princípio mariano: "A Igreja é mulher, é esposa. Pedro não é mulher, não é esposa. É mais importante a Igreja-esposa do que Pedro-ministro!". O Santo Padre então acrescenta que "abrir o trabalho na Cúria às mulheres é importante", destacando como as mulheres "auxiliam no ministério". Basta olhar para as pequenas cidades onde não há padre e as freiras conduzem paróquias, batizam, dão a Comunhão, realizam funerais. "Não é a ministerialidade da mulher o mais importante, mas a presença das mulheres é fundamental", conclui o Papa.

Novas futuras nomeações na Cúria Romana

E olhando para a Cúria Romana, onde ao longo dos anos várias nomeações femininas têm ocorrido, ele afirma: "Agora há várias mulheres e haverá mais, porque elas se saem melhor do que nós homens em certos cargos". Papa Francisco cita a secretária do Governatorato, irmã Raffaella Petrini, "as mulheres presentes no Dicastério para eleger os bispos" (a própria Petrini, além de Ir. Yvonne Reungoat, ex-superiora geral das salesianas, e Maria Lía Zervino, presidente da Umofc), irmã Alessandra Smerilli, secretária do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, entre outras: "São todos cargos que precisam de mulheres".

Por fim, quando questionado se tem consciência de que iniciou "uma mudança histórica" a partir desse ponto de vista, o Papa respondeu: " Na verdade, não! No entanto me dizem isso .... Eu vou em frente como posso".

 

Fonte: Vatican News