Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: O que estais procurando?





Reflexão para o 2º Domingo do Tempo Comum| 14 de Janeiro de 2024 – Ano “B” 

Um homem encontrou o seu vizinho ajoelhado e procurando alguma coisa no chão. 

O que o senhor está procurando? – perguntou. 

– Minha chave perdida – respondeu o vizinho. Então,  puseram-se os dois, de joelhos, a procurar a chave. Depois de algum tempo, o homem perguntou: 

– Onde foi que o senhor perdeu a chave? 

– Na minha casa – respondeu o vizinho. 

– Mas, santo Deus, porque a procura aqui? 

– Porque aqui há mais luz. Foi a resposta.

Chegando ao Segundo Domingo do Tempo Comum, encontramos um trecho do evangelho de João. É uma página cheia de afirmações, perguntas e respostas, uma mais intrigante que a outra. Tudo começa com uma declaração de João Batista que, ao ver Jesus passar, diz: “Eis o Cordeiro de Deus”, palavras carregadas da lembrança de tantas profecias. Seguem duas perguntas. 

A primeira é do próprio Jesus para os dois discípulos de João que começaram a segui-lo: “O que estais procurando?” Por sua vez, os dois indagam: “Mestre onde moras?”. Em resposta Jesus os convida: “Vinde ver”. Eles foram e “permaneceram com ele”. Nenhum detalhe, nenhum endereço, só uma das ações “chave” na linguagem do evangelho de João: permanecer. 

Não é o lugar que vale, casa ou templo que seja, o importante é entrar na intimidade com Jesus, ao ponto de lembrar o horário do início daquela nova aventura: as quatro da tarde. As consequências são imediatas. André, um dos dois que tinham seguido Jesus vai atrás do seu irmão Simão para conduzi-lo ao Mestre e lhe diz: “Encontramos o Messias”, o Cristo, o Ungido, o Esperado. Por sua vez, Jesus olha bem para Simão e troca o nome dele. Será chamado Cefas, pedra. Um nome novo, como nas grandes vocações do Antigo Testamento.

Depois dos Tempos litúrgicos do Advento e do Natal, temos alguns domingos antes da Quaresma. Através das leituras, a Igreja quer nos ajudar a nos aproximar de Jesus para conhecê-lo melhor e, assim, decidirmo-nos a segui-lo de verdade. Na realidade, não somos nós a escolher Jesus, é ele que nos chama como Deus chamou, por exemplo, o profeta Samuel (primeira leitura). 

A iniciativa é sempre dele, também se, como vimos no evangelho, se serve de intermediários, neste caso João Batista e André. Jesus respeita a nossa liberdade, não quer ser o Mestre de quem nunca encontra tempo para estar junto  com ele. Por isso, pergunta também a cada um de nós o que estamos procurando. Ele quer nos ajudar a descobrir e a reconhecer aquilo que mais nos interessa, aquilo para o qual estamos dispostos a gastar a nossa vida. É na “casa”, na convivência, na veracidade e espontaneidade das perguntas e respostas que conhecemos as pessoas. Sem a preocupação de cumprir papeis oficiais, sem aparências a serem preservadas, sem outros interesses que não sejam a verdade e o bem. 

O Mestre Jesus se deixa encontrar e reconhecer por quem o procura com coração limpo e livre. Quem quer fazer negócios, quem quer usá-lo para algum lucro ou vantagem própria, quem ainda não sabe o que procura na vida, pode ir atrás de outros mestres. Tem de sobra. Sempre terá muitos oferecendo felicidade, recompensas e prosperidade neste mundo ou no outro. Talvez falem de perdão, de fraternidade e de paz. Provavelmente ninguém falará de amar os inimigos, de fazer o bem aos perseguidores, de perdoar quem está crucificando um inocente, de construir unidade para que o mundo creia que somente ele, o Messias, pode anunciar a ressurreição e a vida plena. 

É possível começar a seguir a Jesus quando admitirmos que é ele mesmo que estamos procurando, quando temos fome e sede de justiça, quando não ficamos mais satisfeitos com as nossas conquistas individuais e nos sentimos chamados a servir a um projeto maior de vida, dignidade e respeito para todos. Hoje é fácil perder o entusiasmo da fé, a paciência da esperança, a energia do amor. Onde, como, quando perdemos tudo isso? 

Não será aproveitando de qualquer meia luz por aí que conseguiremos reencontrar o sentido grande da nossa curta existência humana. Não tenhamos medo de nos repetir uns aos outros: encontramos o Cristo e não queremos nunca mais perdê-lo. 

Por Dom Pedro José Conti

 

Fonte: Diocese de Macapá