Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: Reflexão para a Solenidade da Epifania do Senhor





Reflexão para a Solenidade da Epifania do Senhor| 07 de Janeiro de 2024 – Ano “B” 

Essas palavras foram usadas na propaganda de uma famosa firma internacional para atrair os compradores a participar de um dos maiores “Black Friday” de uma grande cidade ainda nos meses passados. Também nos dias antes do Natal e do Ano Novo, muitas pessoas foram às compras. 

De repente, parece que em nossa casa esteja faltando tudo: eletrodomésticos, celulares, roupa, sapatos e assim por diante. Ninguém quer perder as “loucas” ou “insensatas” promoções. Mas a nossa “alegria” vai depender mesmo das ofertas do mercado e do nosso consumo correspondente? De qual alegria estamos falando? Em geral, mas nem sempre, ficamos alegres quando realizamos, finalmente, algum desejo. No entanto, no conjunto de tantos sonhos e projetos, grandes e pequenos, parece que nunca ficamos realmente satisfeitos. 

A euforia passa, as emoções desvanecem, as luzes se apagam. Os bons momentos ficam na lembrança. Percebemos que a alegria é algo mais complexo, misterioso. Experimentamos situações únicas que nos deixam o gosto de um “quero mais” e, ao mesmo tempo, compreendemos que sempre nos faltará algo. Será essa a sede que todos temos de uma alegria plena e verdadeira?

No domingo da Epifania encontramos a bem conhecida página do evangelho de Mateus que, de forma narrativa, fala-nos de uns Magos do Oriente que guiados por uma estrela procuraram até encontrar o menino Jesus. A imaginação popular e dos artistas deu nome e cores a esses Magos. Até o número deles parece determinado pelos dons que ofereceram: ouro, incenso e mirra. De fato, pouco ou nada sabemos deles.

Igualmente difícil é saber como essa “tradição” entrou a fazer parte do evangelho de Mateus. No entanto, basta lembrar a acolhida da fé cristã por parte de pessoas que vinham do paganismo e, vice-versa, a rejeição de Jesus, articulada pelas autoridades dos judeus, para entender quem os Magos representam. Eles parecem entender e confiar nas profecias das Escrituras mais que os próprios sumos sacerdotes e mestres da Lei reunidos pelo rei Herodes. Mais tarde, serão esses últimos a planejar a morte de Jesus.

Continua “misteriosa” a estrela que tinha guiado os Magos e que os conduz ao “lugar onde estava o menino”. É justamente neste momento que, diz o evangelho, os Magos “sentiram uma alegria muito grande” (Mt 2,9-10). Foi por causa dessa alegria diferente que se ajoelharam e adoraram o Menino. Foi naquele momento de alegria que: “abriram os seus cofres e ofereceram presentes…”. Não pediram, ofereceram. Talvez, juntando sentimentos e gestos descobriremos de onde pode vir, se acreditarmos, a verdadeira alegria. Primeiramente, trata-se de um dom. Não vamos encontrá-la ficando fechados em nós mesmos, nas coisas que acumulamos ou no sucesso que alcançamos.

 Devemos procurar a fonte dessa alegria. Ela está lá, de onde vem a vida, de onde vem tudo o que somos e temos. Se entendemos que tudo é dom aprendemos a agradecer, a adorar Aquele que nos ama sempre, aquele Deus Pai de todos que “deu o seu Filho único” (Jo 3,16)). É a alegria de quem se sente agraciado sem merecê-lo, sem ciúme ou inveja dos irmãos. Esta é a alegria de quem recebe e reconhece o dom. Mas tem também a alegria de doar. 

Os Magos ofereceram presentes. Como não lembrar das palavras do Senhor Jesus relatadas por Paulo em Atos dos Apóstolos 20,35: “Há mais felicidade em dar, do que em receber”? A fonte da verdadeira alegria que nunca acaba só pode estar no amor acolhido e oferecido gratuitamente. Precisamos reconhecer e agradecer a quem nos ama sem pedir nada em troca, a quem nos “aguenta” todos os dias e toda hora, a quem nos perdoa e parece não enxergar a nossa insensibilidade e ingratidão. 

Esse alguém é Deus, com o amor dele sempre “em oferta especial”, mas, talvez, também alguém bem perto de nós e que raramente lembramos. Mas, depois disso, sabemos doar algo de nós e fazer felizes aqueles que encontramos nos caminhos da vida? O amor verdadeiro só funciona nos dois sentidos. Recebemos a vida para doar vida, para torná-la mais alegre e luminosa. Somente seguindo a “estrela” do amor generoso encontraremos a “grande alegria”: Deus Amor.

Por Dom Pedro José Conti

 

Fonte: Diocese de Macapá