A fé nos permite viver esta hora de forma diferente de uma mentalidade mundana. A fé em Jesus Cristo, Deus encarnado, nascido da Virgem Maria, dá uma nova maneira de perceber o tempo e a vida. Eu o resumiria em duas palavras: gratidão e esperança.
Alguém poderia dizer: “Mas não é o que todos fazem nesta última noite do ano? Todos agradecem, todos esperam, crentes ou não crentes”. Talvez possa parecer que seja assim, e quem sabe o seja! Mas, na realidade, a gratidão mundana, a esperança mundana são aparentes; falta-lhes a dimensão essencial que é a da relação com o Outro e com os outros, com Deus e com os irmãos. Estão focados no eu, nos seus interesses e assim tem o fôlego curto, não vão além da satisfação e do otimismo.
Pelo contrário, nesta Liturgia, que culmina com o grande hino Te Deum laudamus, respira-se uma atmosfera completamente diferente: a do louvor, da admiração, da gratidão. E isto acontece não pela grandiosidade da Basílica, não pelas luzes e cantos - estas coisas são antes a consequência -, mas pelo Mistério que a antífona do primeiro salmo assim expressou: «Admirável intercâmbio! O Criador da humanidade assumindo corpo e alma, quis nascer de uma virgem; […] nos dou sua própria divindade."
A liturgia nos faz entrar nos sentimentos da Igreja; e a Igreja, por assim dizer, aprende-os com a Virgem Mãe.
Pensemos em qual teria sido a gratidão no coração de Maria enquanto olhava para Jesus recém-nascido. É uma experiência que somente uma mãe pode fazer, e que, todavia, nela, na Mãe de Deus, tem uma profundidade única, incomparável. Maria sabe, ela sozinha junto com José, de onde vem aquele Menino. Mas está ali, respira, chora, tem necessidade de comer, de ser coberto, cuidado. O Mistério dá espaço à gratidão, que aflora na contemplação do dom, na gratuidade, enquanto sufoca na ansiedade de ter e de aparecer.
A Igreja aprende a gratidão da Virgem Mãe. E aprende também a esperança.Poderíamos pensar que Deus a escolheu, Maria de Nazaré, porque no seu coração viu refletida a própria esperança. Aquela que Ele mesmo havia infundido nela com seu Espírito. Maria sempre foi repleta de amor, cheia de graça, e por isso é também cheia de confiança e de esperança.
O de Maria e da Igreja não é otimismo, é outra coisa: é fé no Deus fiel às suas promessas (cf. Lc 1,55); e esta fé assume a forma da esperança na dimensão do tempo, poderíamos dizer “em caminho”. O cristão, como Maria, é um peregrino de esperança. E precisamente este será o tema do Jubileu de 2025: “Peregrinos de Esperança”.
Queridos irmãos e irmãs, podemos perguntar-nos: Roma está se preparando para tornar-se no Ano Santo uma “cidade de esperança”? Todos sabemos que a organização do Jubileu já está em curso há algum tempo. Mas compreendemos bem que, na perspectiva que aqui assumimos, não se trata principalmente disso; trata-se antes do testemunho da comunidade eclesial e civil; testemunho que, mais do que nos eventos, consiste no estilo de vida, na qualidade ética e espiritual da convivência. E então a pergunta pode ser formulada assim: estamos trabalhando, cada um no próprio âmbito, para que esta cidade seja um sinal de esperança para quem nela vive e para quem a visita?
Um exemplo. Entrar na Praça de São Pedro e ver que, no abraço da Colunata, circulam livre e serenamente pessoas de todas as nacionalidades, culturas e religiões, é uma experiência que traz esperança; mas é importante que seja confirmado por uma boa acolhida durante a visita à Basílica, bem como nos serviços de informação. Outro exemplo: o fascínio do centro histórico de Roma é perene e universal; mas é preciso que também os idosos ou pessoas com alguma deficiência motora também possam desfrutá-lo; e é preciso que à “grande beleza” correspondam o simples decoro e a normal funcionalidade nos lugares e situações da vida ordinária, cotidiana. Porque uma cidade mais habitável para os seus cidadãos é também mais acolhedora para todos.
Queridos irmãos e irmãs, uma peregrinação, especialmente se for empenhativa, exige uma boa preparação. É por isso que o próximo ano, que antecede o Jubileu, será dedicado à oração. E que melhor mestra poderíamos ter do que a nossa Santa Mãe? Coloquemo-nos na sua escola: aprendamos dela a viver cada dia, cada momento, cada ocupação com o olhar interior voltado para Jesus. alegrias e tristezas, satisfações e problemas. Tudo na presença e com a graça de Jesus, o Senhor. Tudo com gratidão e esperança.
Fonte: Vatican News