Cultura

Papa: capacidade de estupor, segredo para seguir bem em família





"Saber-se maravilhar antes de tudo com Deus", mas também com o próprio cônjuge, com os filhos, com a sabedoria dos avós e com a própria história. No último Angelus de 2023, o Papa recordou o que a Sagrada Família, "especialista em sofrimentos", tem a dizer às famílias.

A família de Nazaré era "especialista em sofrimentos", e justo por isso, tem muito a nos dizer. Seguindo o seu modelo, devemos pedir a Virgem Maria a capacidade de "maravilhar-nos a cada dia com o bem e a saber ensinar aos outros a beleza do estupor", disse o Papa em sua alocução, antes de rezar o Angelus na Festa da Sagrada Família.

Peregrinos e turistas de várias partes do mundo lotam as ruas de Roma nestes dias. O tempo instável não impediu que milhares deles  - 20 mil segundo a Gendarmaria - fossem à Praça São Pedro para o tradicional encontro dominical com Francisco, o último de 2023. E precisamente dirigindo-se a eles, recordou que o Evangelho de Lucas (Lc 2,22-40) apresenta a Sagrada Família de Jesus, Maria e José no templo de Jerusalém para a apresentação do Menino ao Senhor.

"Vemos que a Sagrada Família chega ao templo e leva como presente a oferta mais humilde e simples entre aquelas previstas, o testemunho da sua pobreza. São Pobres", disse Francisco, recordando que Maria recebeu uma profecia: “Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”:

Chegam na pobreza e saem com uma carga de sofrimento. Isto suscita surpresa: mas como, a Família de Jesus, a única família na história que pode vangloriar-se da presença de Deus em carne e osso, em vez de ser rica é pobre! Em vez de ser facilitada, parece obstada! Em vez de estar privada do cansaço, está imersa em grandes dores!

E o que essa situação diz às nossas famílias? -, pergunta o Santo Padre. "Uma coisa muito bonita", responde, para então explicar:

Deus, que muitas vezes imaginamos estar além dos problemas, veio habitar a nossa vida com seus problemas. Ele nos salvou assim, vivendo em meio a nós, não veio já adulto, mas muito pequeno; viveu em família, filho de uma mãe e de um pai; lá passou a maior parte de seu tempo, crescendo, aprendendo, em uma vida feita de cotidianidade, escondimento e silêncio. E não evitou as dificuldades, antes pelo contrário, ao escolher uma família, uma família “especialista em sofrimento”, diz às nossas famílias

“Se vocês se encontrarem em dificuldades, sei bem o que vocês sentem, eu já vivi isso: eu, minha mãe e meu pai vivemos isso para dizer também à sua família: vocês não estão sozinhos!”

José e Maria "estavam admirados com o que diziam a respeito dele”,  e esta "capacidade de admirar-se" foi destacada pelo Papa, que disse ser "um segredo para seguir em frente bem em família", que não devemos nos habituar à banalidade das coisas, "mas deixar-se antes de tudo maravilhar por Deus, que nos acompanha.

Esta mesma admiração também é bela quando acontece na família, quando um dos cônjuges pega o outro pela mão, olha em seus olhos por alguns instantes, com ternura:

“A admiração te leva à ternura, sempre. É bela a ternura no casamento.”

Mas não só entre o casal, maravilhar-se também com o milagre da vida, dos filhos, encontrando tempo para brincar com eles e ouvi-los:

Eu pergunto a vocês, pais e mães: vocês encontram tempo para brincar com seus filhos? Para levá-los para passear? Ontem falei com uma pessoa ao telefone e perguntei-lhe: “Onde você está?” – “Eh, estou na praça, trouxe meus filhos para passear”. Esta é uma bela paternidade e maternidade.

E depois, maravilhar-se também com a sabedoria dos avós:

Tantas vezes tiramos os avós fora da vida. Não: os avós são fontes de sabedoria. Aprendamos a nos maravilhar com a sabedoria dos nossos avós, com a sua história.

E por fim, maravilhar-nos com a nossa própria história de amor:

Cada um de nós tem a sua e o Senhor nos fez caminhar com amor: maravilhar-se com isto. E também, a nossa vida certamente tem aspectos negativos, mas maravilhar-se também com a bondade de Deus em caminhar conosco, mesmo que sejamos tão inexperientes.

Que Maria, Rainha da família - disse ao concluir - nos ajude a maravilhar-nos: "Peçamos hoje a graça do estupor. Que Nossa Senhora nos ajude a maravilhar-nos cada dia com o bem e a saber ensinar aos outros a beleza do estupor.

 

- Apelo do Papa: continuemos a rezar por quem sofre pelas guerras

Francisco, nas suas saudações após o último Angelus de 2023, volta a falar do sofrimento de quem vive em países devastados pela violência: “Quem tem interesse nestes conflitos ouça a voz da consciência”. O seu pensamento vai então para Bento XVI, um ano após a sua morte, “para ele muito carinho e gratidão”, e para a família “célula fundamental da sociedade, deve ser defendida e apoiada”.

A guerra e os horrores dos conflitos que marcaram o ano de 2023 fluem nas palavras de Francisco que, da janela do Palácio Apostólico, oferece a sua última saudação deste ano que está prestes a terminar. As suas palavras são dramáticas, a começar pela violência do Natal na Nigéria, onde em vários locais do Estado de Plateau, na parte central do país, pelo menos 170 pessoas foram mortas em ataques de grupos armados:

Infelizmente, a celebração do Natal na Nigéria foi marcada por graves violências no Estado de Plateau, com muitas vítimas. Rezo por eles e suas famílias. Que Deus livre a Nigéria destes horrores!

Francisco menciona ainda o dramático acidente ocorrido na Libéria, onde mais de 40 pessoas morreram devido à explosão de um navio-tanque. As suas palavras dirigem-se então a todos aqueles povos que vivem conflitos dramáticos:

Continuamos a rezar pelos povos que sofrem por causa das guerras: o martirizado povo ucraniano, os povos palestiniano e israelense, o povo sudanês e muitos outros. Ao final de um ano, se tenha a coragem de perguntar: quantas vidas humanas foram perdidas em conflitos armados? Quantos mortos? E quantas destruições, quanto sofrimento, quanta pobreza? Quem tem interesse nestes conflitos, ouça a voz da consciência. E não esqueçamos os martirizados Rohingya!

Há um ano faleceu Bento XVI, e por ele Francisco, recordando o seu grande amor pela Igreja, pede aplausos:

Há um ano o Papa Bento XVI concluía seu caminho terreno, depois de ter servido a Igreja com amor e sabedoria. Temos por ele tanto afeto,, tanta gratidão, tanta admiração. Do Céu nos abençoe e nos acompanhe. E um aplauso para Bento XVI!

Ao saudar os peregrinos presentes na Praça de São Pedro, Francisco dirige finalmente uma mensagem especial a todas as famílias, quer na praça como aquelas que o acompanham partir de casa, para reiterar seu insubstituível papel na sociedade.

Não esqueçamos que a família é a célula fundamental da sociedade: devemos sempre defendê-la e apoiá-la, sempre!

 

Um ano da morte de Bento XVI

Hoje (31) faz um ano que Bento XVI morreu aos 95 anos no Mosteiro Mater Ecclesiae do Vaticano, onde passou seus últimos dias dedicado à leitura e à oração, depois de renunciar ao pontificado em 2013.

Suas últimas palavras

"Signore, ti amo!" (Senhor, eu te amo!) foram as últimas palavras de Bento XVI.

Ele disse isso por volta das três da manhã e em italiano, com uma voz fraca, mas clara, poucas horas antes de sua morte e na presença de um enfermeiro.

Segundo o seu secretário pessoal, o arcebispo Georg Gänswein, estas foram as suas últimas palavras compreensíveis, “porque sucessivamente não foi mais capaz de se expressar”.

“Permanecei firme na fé!”

Na tarde de 31 de dezembro, a Santa Sé publicou o testamento espiritual de Bento XVI, que pedia aos que compõem a Igreja Universal que permanecessem firmes na fé e não se deixassem confundir.

Depois de pedir perdão de coração “a todos aqueles a quem de algum modo tenha feito mal”, dirigiu-se “a todos aqueles que na Igreja foram confiados a meu serviço: permanecei firmes na fé! Não vos deixeis confundir!”

No final de seu testamento espiritual, Bento pediu orações por ele: "para que o Senhor, não obstante todos os meus pecados e insuficiências, me acolha na morada eterna. A todos aqueles que me estão confiados, dia a dia vai de coração minha oração".

O funeral e sepultamento de Bento XVI

Seu corpo foi levado para a basílica de São Pedro no dia 2 de janeiro e seu funeral,celebrado pelo papa Francisco, aconteceu no dia 5 de janeiro na praça de São Pedro, coberta por denso nevoeiro desde o início da manhã.

Na missa do funeral, o papa Francisco disse querer despedir-se do seu antecessor “com a mesma unção, sabedoria, delicadeza e dedicação que ele soube dispensar ao longo dos anos”.

Pouco antes de o caixão com o corpo de Bento XVI ser introduzido na Basílica de São Pedro a caminho das Grutas do Vaticano, o papa Francisco levantou-se para tocar no caixão e rezar.

Quando o arcebispo alemão Georg Gänswein beijou o a multidão gritava "Santo subito!" (Santo já).

O papa Bento XVI foi sepultado no Vaticano, no mesmo túmulo onde repousavam originalmente os restos mortais de são João Paulo II.

O primeiro papa a renunciar em 600 anos

Joseph Aloisius Ratzinger foi eleito papa em abril de 2005. Ele assumiu o nome de Bento XVI depois de décadas de serviço à Igreja Católica como teólogo, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal e um dos colaboradores mais próximos de são João Paulo II, a quem sucedeu no papado.

No dia 11 de fevereiro de 2013, Bento XVI, então com 85 anos, surpreendeu o mundo com o anúncio, em latim, da sua renúncia, tornando-se o primeiro papa a renunciar em 600 anos.

Disse que deu este passo porque a idade avançada e a falta de forças o tornavam inadequado para o cargo.

Um dos principais teólogos do século XX, Bento XVI teve um pontificado marcado por uma profunda compreensão dos desafios da Igreja, diante de crescente agressão ideológica e da perspectiva cada vez mais secular do Ocidente, dentro e fora da Igreja.

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Nascido na cidade bávara de Marktl am Inn, em 16 de abril de 1927, o futuro papa cresceu numa região da Alemanha conhecida pela sua piedade e grande devoção mariana.

Depois de um período forçado de dois meses no exército alemão no final da Segunda Guerra Mundial, Ratzinger e o seu irmão mais velho, Georg, retomaram os seus estudos para o sacerdócio, primeiro em Freising e depois em Munique.

Ordenado sacerdote junto com o seu irmão, em 29 de junho de 1951, Ratzinger completou seu doutorado em Teologia e tornou-se professor universitário e vice-presidente da prestigiada Universidade de Ratisbona, na Baviera.

Importante teólogo do século XX

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Sua reputação como intelectual levou o então arcebispo de Colônia, Alemanha, cardeal Joseph Frings, a convidá-lo para servir como especialista ou perito no Concílio Vaticano II. Ele rapidamente se destacou.

Em 1977, o papa São Paulo VI nomeou-o arcebispo de Munique e Freising. Mais tarde naquele mesmo ano, ele o criou cardeal.

Quatro anos depois, em 1981, o papa João Paulo II nomeou-o prefeito da então Congregação (agora Dicastério) para a Doutrina da Fé, o dicastério da Santa Sé dedicado a promover e defender a doutrina católica. Permaneceu no cargo até a morte de são João Paulo II em 2005.

Depois de sua renúncia ao pontificado em 2013, passou a morar no mosteiro Mater Ecclesiae, um pequeno convento construído em 1994 dentro do Vaticano.

 

Fonte: Vatican News