A língua mais falada no mundo é “o falar à toa”, falar por falar. Bilhões de palavras, a cada dia, chegam-nos de qualquer lado e nos sufocam. Para que o ser humano não fale bobagens demais, Deus nos deu dez dedos para que possamos lembrar alguns sábios conselhos: “Que a tua primeira palavra seja boa. Que a tua segunda palavra seja verdadeira. Que a tua terceira palavra seja justa. Que a tua quarta palavra seja generosa. Que a tua quinta palavra seja corajosa. Que a tua sexta palavra seja tenra. Que a tua sétima palavra seja consolante. Que a tua oitava palavra seja acolhedora. Que a tua nona palavra seja respeitosa E a tua décima palavra seja sábia. Depois pode ficar calado”.
No Terceiro Domingo de Advento, deixamos o evangelho de Marcos para proclamar um trecho do primeiro capítulo do evangelho de João. Novamente, no centro, está a figura de João Batista que é questionado por sacerdotes e levitas sobre a própria identidade. Eles perguntam: “Quem és tu?”. Inicia, assim, um diálogo entre os enviados de Jerusalém e o Batista. Ele sabe muito bem quem não é: não é o Messias, nem Elias, nem o Profeta. Apesar das expectativas e do sucesso da sua pregação, não será ele a realizar as antigas promessas. No final, ele responde que é somente “a voz que grita no deserto: “Aplainai o caminho do Senhor” (Jo 1,23).
No entanto, desde o início do trecho proclamado, nós já tomamos conhecimento que João Batista era um homem “enviado por Deus”. Ele não era a luz, mas “veio para dar testemunho da luz”. A pregação de João devia servir “para que todos chegassem à fé por meio dele”. A fé que aqui está em jogo é, evidentemente, aquela que ainda hoje somos convidados a estar “com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição” como lemos na carta aos Hebreus 12,2.
O silêncio, sobre o qual refletimos domingo passado, não significa nos omitirmos do testemunho, do anúncio corajoso da nossa fé. Jesus mesmo disse: “O que vos digo no escuro, dizei-o à luz do dia; o que vos é sussurrado ao ouvido, proclamai-o sobre os telhados!” (Mt 10,27). A dinâmica do testemunho cristão é feita de escuta e de proclamação. Se não escutarmos bem o que o Senhor nos diz, podemos falar aos nossos irmãos, aos quais somos enviados, de nós mesmos, das nossas ideias, dos nossos gostos.
Por outro lado, precisamos comunicar a alegria da nossa fé, não podemos manter escondida a luz que encontramos. É mais forte do que nós. De novo, é questão de palavras, mas também de gestos e atitudes. Testemunhamos a nossa fé com todo o nosso jeito de viver, incluindo as nossas fraquezas, limitações e até pecados. Somos companheiros de caminhada com a humanidade toda e buscamos acertar os passos. O que vale é nunca desistir. Se cairmos, ao levantarmos anunciemos a misericórdia do Pai.
Se espalhamos um pouco de luz e de paz, procuremos sustentar o nosso ânimo mais na bondade do Senhor do que nas nossas próprias forças. Se formos chamados a explicar o sentido da nossa fé, lembremos as palavras de Jesus que prometeu que será o Espírito do Pai a falar através de nós (Mt 10, 19-20). É possível falar bem da nossa fé e da nossa Igreja sem falar mal dos outros? Devemos tomar cuidado para não usar o nome de Deus em vão, como se ele fosse obrigado a confirmar tudo o que nós dizemos, sobretudo quando esquecemos do seu perdão e da sua infinita bondade.
Nas conversas, devemos lembrar que não estamos falando de uma doutrina, mas de uma pessoa, Jesus, que surpreendeu a todos com sua vida, seu amor, sua Páscoa de cruz e ressurreição. Nunca podemos deixar de conhecer mais e melhor Jesus. Vale para nós também a resposta que João Batista deu aos que o questionavam: “Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que não conheceis, e que vem depois de mim” (Jo 1,26-27). Saber reconhecer Jesus, que está sempre no meio de nós, é um grande dom. Dar testemunho da luz do Senhor é compromisso de todo batizado. Talvez começando a falar com as dez palavras que, afinal, são dez santas virtudes. De Jesus não se deve falar “à toa”.
Por Dom Pedro José Conti
Fonte: Diocese de Macapá