Cultura

Papa: o Natal também é vítima do modelo comercial e consumista





O Papa Francisco recebeu na manhã deste sábado na ante câmara da Sala Paulo VI, cerca de 135 artistas que darão vida ao Concerto de Natal do Vaticano neste ano.

Depois de dar as boas-vindas aos artistas que se apresentarão no Concerto de Natal neste sábado, Francisco saudou o bispo Tighe e os organizadores dessa iniciativa, patrocinada pela Fundação Pontifícia Gravissimum Educationis - Cultura para a Educação.

O Papa recordou então que as canções folclóricas são parte integrante das culturas. Desde os tempos mais remotos, os seres humanos têm transmitido contos e orações em forma de canto. E isso ainda acontece hoje, especialmente em algumas populações nativas. Mas também encontramos esse fenômeno nas sociedades modernas: pensemos em quantos adolescentes sabem de cor as músicas de seus cantores favoritos, porque essas palavras combinadas com a música despertam neles uma mistura de emoções e significados.

Francisco então recordou que o “Natal é talvez a festa mais rica em canções populares. Na Itália, há uma que todos conhecem e que, em sua simplicidade, é uma obra-prima de teologia e harmonia: "Tu scendi dalle stelle" (Tu desces das estrelas). Não foi à toa que um santo bispo, Alfonso Maria de' Liguori, a compôs.

Dirigindo então seu pensamento aos presentes disse que também eles, de certa forma, fazem parte dessa tradição: emprestam suas vozes a famosas melodias de Natal; e cada um traz sua própria originalidade, seu próprio "timbre". Isso é lindo: há uma mensagem antiga e sempre nova, a do nascimento de Jesus, o Salvador, e há diferentes vozes, de diferentes partes do mundo, unindo-se para fazer essa mensagem ressoar. E elas fazem isso com estilos diferentes, em culturas e idiomas diferentes. Porque o Evangelho do Natal é único, mas não pode ser cantado de maneira uniforme.

Em vez disso, - continuou o Papa - a tendência do modelo tecnocrático é homogeneizar, padronizar. Sabemos, infelizmente, - disse o Papa - que o Natal também é vítima desse modelo comercial e consumista. Mas que as canções de Natal pelo menos preservem a poesia e a espontaneidade que lhes dão tanta vida. Ajude-nos a defendê-lo desse abuso.

O Papa encerrou sua breve saudação dizendo: “sei que hoje vocês também cantarão pensando naqueles que vivem nestes dias com dor e medo por causa da guerra. Tantas guerras. Infelizmente, também na Terra onde Jesus nasceu. Por isso, também, eu lhes agradeço e os abençoo. Feliz concerto e Feliz Natal, para vocês e seus entes queridos!” E concluiu: “por favor, não se esqueçam de rezar por mim”.

 

 

-Papa: sofrimento de Belém, ferida aberta para o Oriente Médio e para o mundo inteiro

Aos 2.500 figurantes do Presépio Vivo da Basílica Santa Maria Maior, Francisco recordou que o objetivo do presépio é "despertar no coração o estupor diante do mistério de Deus que se fez criança", pedindo que este seja encenado e vivido "em solidariedade" com os irmãos e irmãs da Belém de hoje que tanto sofrem pela guerra e suas consequências.

Na manhã deste sábado, o Papa recebeu na Sala Paulo VI cerca de 2.500 figurantes do Presépio Vivo da Basílica Santa Maria Maior, que lhe é tão cara e onde deseja ser sepultado, como revelou na entrevista concedida à jornalista Valentina Alazraki, da emissora mexicana N+, no dia em que o México celebrava Nossa Senhora de Guadalupe. 

Trajados com vestes ambientadas na região onde nasceu Jesus, os figurantes chamavam a atenção de quem passava cedo pelas cercanias do Vaticano e conferiram uma particular atmosfera natalina à Grande Sala Paulo VI. Mas essa peculiaridade também chamou a atenção de Francisco, que começou agradecendo ao cardeal, ao monsenhor Makrickas, pelo envolvimento de um número tão grande de pessoas nessa "bela iniciativa"

O Papa recordou que na Basílica de Santa Maria Maior está a relíquia do berço de Jesus, "e por isso tem uma ligação muito particular com Belém e o presépio", bem como um "conjunto escultórico de Arnolfo di Cambio, desejado pelo Papa Nicolau IV, "considerado o primeiro presépio da história da arte".

Nesse sentido, compartilhou com os presentes dois pensamentos para acompanhá-los ao longo do dia, a começar por São Francisco:

O presépio vivo, o sabemos, foi inventado por ele, em Greccio, há 800 anos. Mas é importante recordar o porquê dessa sua invenção, compreender o seu significado, para não reduzi-lo apenas a um fato folclórico. Francisco queria representar ao vivo o nascimento de Jesus para suscitar nos frades e nas pessoas a comoção, a ternura diante do mistério de Deus nascido de Maria em um estábulo e colocado em uma manjedoura. Queria dar concretude à representação: não uma pintura, não estátuas, mas pessoas de carne e osso, que ressaltassem a realidade da Encarnação."

"Portanto - enfatizou Francisco - o primeiro pensamento que deixo com vocês é este: a finalidade do presépio vivo é despertar no coração o estupor diante do mistério de Deus que se fez criança."

O segundo pensamento do Santo Padre é dirigido então aos "nossos irmãos e irmãs de Belém, a Belém de hoje", e "naturalmente se estende a todos os habitantes da Terra onde Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou":

Sabemos qual é a situação, devido à guerra, consequência de um conflito que já dura décadas. Então a encenação de vocês deve ser vivida em solidariedade com estes irmãos e irmãs que tanto sofrem. Para eles se pré-anuncia um Natal de dor, de luto, sem peregrinos, sem celebrações. Não queremos deixá-los sozinhos. Estamos próximos a eles com a oração, com a ajuda concreta e também com o Presépio Vivo de vocês, que recorda a todos como o sofrimento de Belém é uma ferida aberta para o Médio Oriente e para o mundo inteiro. Neste Natal pensemos, pensemos na Terra Santa.

Ao concluir, Francisco fez votos aos presentes que "vivam este dia com fé e alegria; que seja um testemunho do Evangelho!". Abençoou a todos de coração, e pediu: "Não se esqueçam de rezar por mim. Feliz Natal!"

 

Fonte: Vatican News