Cultura

O Papa: que as formas de inteligência artificial sirvam a causa da fraternidade e da paz





Divulgada a Mensagem de Francisco para o Dia Mundial da Paz que será celebrado em 1º de janeiro, sobre o tema das novas tecnologias: "Os avanços tecnológicos que não conduzem a uma melhoria da qualidade de vida da humanidade inteira, nunca poderão ser considerados um verdadeiro progresso". O apelo à Comunidade Internacional para que adote "um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas".

Foi divulgada, nesta quinta-feira (14/12), a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz que será celebrado em 1º de janeiro próximo, sobre o tema "Inteligência Artificial e Paz".

"A inteligência é expressão da dignidade que nos foi dada pelo Criador, que nos fez à sua imagem e semelhança e nos tornou capazes, através da liberdade e do conhecimento, de responder ao seu amor. Esta qualidade fundamentalmente relacional da inteligência humana manifesta-se de modo particular na ciência e na tecnologia, que são produtos extraordinários do seu potencial criativo", escreve Francisco na mensagem.

Segundo o Papa, "o progresso da ciência e da técnica – na medida em que contribui para uma melhor organização da sociedade humana, para o aumento da liberdade e da comunhão fraterna – leva ao aperfeiçoamento do homem e à transformação do mundo".

Francisco ressalta que "os progressos técnico-científicos, que permitem exercer um controle – até agora inédito – sobre a realidade, colocam nas mãos do homem um vasto leque de possibilidades, algumas das quais podem constituir um risco para a sobrevivência humana e um perigo para a Casa comum".

Prossecução da paz e do bem comum

"Os progressos da informática e o desenvolvimento das tecnologias digitais, nas últimas décadas, começaram já a produzir profundas transformações na sociedade global e nas suas dinâmicas. Os novos instrumentos digitais estão mudando a fisionomia das comunicações, da administração pública, da instrução, do consumo, dos intercâmbios pessoais e de inúmeros outros aspectos da vida diária", escreve ainda o Papa.

Segundo Francisco, "a imensa expansão da tecnologia deve ser acompanhada por uma adequada formação da responsabilidade pelo seu desenvolvimento. A liberdade e a convivência pacífica ficam ameaçadas, quando os seres humanos cedem à tentação do egoísmo, do interesse próprio, da ânsia de lucro e da sede de poder".

"Por isso, temos o dever de alargar o olhar e orientar a pesquisa técnico-científica para a prossecução da paz e do bem comum, ao serviço do desenvolvimento integral do homem e da comunidade", ressalta o Santo Padre.

Progresso digital, respeito pela justiça e pela causa da paz

"A dignidade intrínseca de cada pessoa e a fraternidade que nos une como membros da única família humana devem estar na base do desenvolvimento de novas tecnologias e servir como critérios indiscutíveis para as avaliar antes da sua utilização, para que o progresso digital possa verificar-se no respeito pela justiça e contribuir para a causa da pazOs avanços tecnológicos que não conduzem a uma melhoria da qualidade de vida da humanidade inteira, mas pelo contrário agravam as desigualdades e os conflitos, nunca poderão ser considerados um verdadeiro progresso", destaca o Papa.

Francisco chama a atenção para quando "a inteligência artificial é utilizada em campanhas de desinformação que espalham notícias falsas e levam a uma desconfiança crescente relativamente aos meios de comunicação".

Segundo a mensagem do Papa, "a grande quantidade de dados analisados pelas inteligências artificiais não é, por si só, garantia de imparcialidade. Quando os algoritmos extrapolam informações, correm sempre o risco de as distorcer, replicando as injustiças e os preconceitos dos ambientes onde têm origem. Quanto mais rápidos e complexos eles se tornam, mais difícil é compreender por que produziram um determinado resultado".

A propósito das máquinas inteligentes, elas "podem desempenhar as tarefas que lhes são atribuídas com uma eficiência cada vez maior, mas a finalidade e o significado das suas operações continuarão sendo determinados ou capacitados por seres humanos com o seu próprio universo de valores".

De acordo com o Papa, "não se deve permitir que os algoritmos determinem o modo como entendemos os direitos humanos, ponham de lado os valores essenciais da compaixão, da misericórdia e do perdão, ou eliminem a possibilidade de um indivíduo mudar e deixar para trás o passado".

Inteligência Artificial e desenvolvimento humano integral

No texto, Francisco considera "o impacto das novas tecnologias no âmbito do trabalho: trabalhos, que outrora eram prerrogativa exclusiva da mão-de-obra humana, acabam rapidamente absorvidos pelas aplicações industriais da inteligência artificial. Também neste caso, há substancialmente o risco de uma vantagem desproporcionada para poucos à custa do empobrecimento de muitos.  A Comunidade Internacional, ao ver como tais formas de tecnologia penetram cada vez mais profundamente nos locais de trabalho, deveria considerar como alta prioridade o respeito pela dignidade dos trabalhadores e a importância do emprego para o bem-estar econômico das pessoas, das famílias e das sociedades, a estabilidade dos empregos e a equidade dos salários".

"Nestes dias, contemplando o mundo que nos rodeia, não se pode ignorar as graves questões éticas relacionadas ao setor dos armamentos", escreve ainda o Papa. "A possibilidade de efetuar operações militares através de sistemas de controle remoto levou a uma percepção menor da devastação por eles causada e da responsabilidade da sua utilização, contribuindo para uma abordagem ainda mais fria e destacada da imensa tragédia da guerra", ressalta.

"Numa ótica mais positiva, se a inteligência artificial fosse utilizada para promover o desenvolvimento humano integral, poderia introduzir inovações importantes na agricultura, na instrução e na cultura, uma melhoria do nível de vida de inteiras nações e povos, o crescimento da fraternidade humana e da amizade social. Em última análise, a forma como a utilizamos para incluir os últimos, isto é, os irmãos e irmãs mais frágeis e necessitados, é a medida reveladora da nossa humanidade", sublinha Francisco.

Discernimento no uso de dados e conteúdos da internet 

A seguir, o Pontífice recorda que "os jovens estão crescendo em ambientes culturais impregnados de tecnologia, o que não pode deixar de pôr em causa os métodos de ensino e formação". "É necessário que os jovens desenvolvam uma capacidade de discernimento no uso de dados e conteúdos recolhidos na internet ou produzidos por sistemas de inteligência artificial. As escolas, as universidades e as sociedades científicas são chamadas a ajudar os estudantes e profissionais a assumir os aspectos sociais e éticos do progresso e da utilização da tecnologia".

O Papa exorta "a Comunidade das Nações a trabalhar unida para adotar um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas". Segundo ele, "nos debates sobre a regulamentação da inteligência artificial, deve ser levada em conta as vozes de todas as partes interessadas, incluindo os pobres, os marginalizados e outros que muitas vezes permanecem ignorados nos processos de decisão globais".

Francisco conclui a mensagem, desejando que "os progressos no desenvolvimento de formas de inteligência artificial sirvam, em última análise, a causa da fraternidade humana e da paz", e espera "que o rápido desenvolvimento de formas de inteligência artificial não aumente as já demasiadas desigualdades e injustiças presentes no mundo, mas contribua para pôr fim às guerras e conflitos e para aliviar muitas formas de sofrimento que afligem a família humana".

 

- Papa: diante do sofrimento, as palavras devem dar espaço aos gestos de ternura

Francisco recebeu em audiência os membros da União Nacional Italiana de Transporte de Doentes a Lourdes e aos Santuários Internacionais, por ocasião dos 120 anos de fundação. O Papa recordou a Igreja como "um hospital de campanha que, à semelhança do Bom Samaritano, se aproxima daqueles que sofrem com compaixão e cura suas feridas"

Na manhã desta quinta-feira (14/12), na Sala Paulo VI, no Vaticano, uma audiência com o Papa marcou a celebração dos 120 anos da União Nacional Italiana para o Transporte de Doentes a Lourdes e aos Santuários Internacionais (UNITALSI). Francisco, ao receber os membros e diversos representantes da associação, sublinhou a gratidão profunda pela dedicação e serviço prestado pela UNITALSI.

Dirigindo-se aos presentes, entre eles, doentes, pessoas com deficiência, voluntários, profissionais da saúde, consagrados, sacerdotes e inúmeros leigos, o Papa reconheceu a beleza de uma Igreja que não só acompanha e cuida, mas também proclama o Evangelho através da caridade ativa. "Obrigado pelo que vocês fazem!", expressou Francisco, ressaltando a importância de "ir contra a maré em um mundo que muitas vezes marginaliza e descarta os mais vulneráveis".

Acolhida, hospitalidade e solidariedade

Ao fazer referência aos símbolos presentes no logo comemorativo de 120 anos da união italiana - o bastão, as sandálias e a imagem da Virgem -, o Pontífice destacou a essência da peregrinação, um elemento central no trabalho da associação, e relembrou a história de Giovanni Battista Tomassi, fundador da UNITALSI, cuja viagem a Lourdes transformou sua vida, dando-lhe força na fé e propósito para criar essa organização que hoje acolhe e acompanha tantos em peregrinações.

“A experiência da peregrinação traz em si os valores da acolhida, da hospitalidade, da solidariedade e, em suas iniciativas, vocês colocam no mesmo caminho pessoas saudáveis e doentes, idosos e jovens, consagrados e leigos; assim, torna-se um sinal vivo de uma Igreja que caminha junto, que apóia aqueles que não podem ir e que não quer deixar ninguém para trás.”

Evangelização e apostolado

O Papa comparou a atuação da UNITALSI a um "hospital de campanha", que segue o exemplo do Bom Samaritano, ao buscar aliviar o sofrimento com compaixão e cuidado, "tudo em silêncio e com discrição, porque, diante do sofrimento, as palavras devem deixar espaço para a proximidade e os gestos de ternura. Peço-lhes: que esse seja sempre o seu estilo".

"Esta Associação, difundida e enraizada em toda a Itália, garante um ponto de referência para famílias e comunidades, desempenhando uma função de guardiã da vida em situação de fragilidade. Ao mesmo tempo, realiza um trabalho de evangelização e apostolado. Faz "sine glossa", como diria São Francisco, ou seja, com fatos, com exemplos, com uma proclamação que tem o sabor da concretude. Essa é uma linguagem que pode falar a todos, como vemos no Evangelho, quando as pessoas buscavam Jesus porque nele sentiam o poder de Deus que cura, perdoa, consola, dá esperança."

Confiar em Maria

Por fim, o Papa encorajou a manter a confiança em Maria, a quem muitas das peregrinações são dedicadas. Francisco expressou sua gratidão pelo gesto simbólico de levar a imagem peregrina de Nossa Senhora de Lourdes a várias instituições na Itália, lembrando a importância da confiança e entrega à Mãe de Deus.

“Nestes dias que antecedem o Natal, a figura de Maria nos parece ainda mais familiar, mais próxima: olhemos para ela e nos deixemos olhar por ela, para aprender a dizer "sim", a acolher sem medo os planos de Deus e a cuidar dos menores e dos mais indefesos.”

 

- Promulgados Decretos relativos a 8 novos Beatos e 3 novos Veneráveis

Nesta quinta-feira, durante a Audiência concedida a Sua Eminência Reverendíssima o cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, o Sumo Pontífice autorizou o mesmo Dicastério a promulgar os Decretos relativos a 8 novos Beatos e 3 novos Veneráveis.

Decretos relativos aos novos Beatos:

- o milagre atribuído à intercessão do Venerável Servo de Deus Moisés Lira Serafín, sacerdote professo dos Missionários do Espírito Santo, fundador da Congregação das Missionárias da Caridade de Maria Imaculada, nascido em Zacatlán (México) em 16 de setembro de 1893 e falecido na Cidade do México (México) em 25 de junho de 1950;

- o milagre atribuído à intercessão da Venerável Serva de Deus Anna de Jesus (nascida Anna de Lobera y Torres), monja professa da Ordem das Carmelitas Descalças; nascida em Medina del Campo (Espanha) em 25 de novembro de 1545 e falecida em Bruxelas (Bélgica) em 4 de março de 1621;

- o martírio do Servo de Deus Giuseppe Rossi, sacerdote diocesano; nascido em 3 de novembro de 1912 em Varallo Pombia (Itália) e morto por ódio à fé em 26 de fevereiro de 1945 perto de Castiglione Ossola (Itália)

- o martírio dos Servos de Deus Luigi Carrara e Giovanni Didonè, sacerdotes professos da Pia Sociedade de São Francisco Xavier para as Missões Estrangeiras, Vittorio Faccin, religioso professo da mesma Pia Sociedade, e Albert Joubert, sacerdote diocesano; mortos por ódio à fé em 28 de novembro de 1964 em Baraka e Fizi (República Democrática do Congo);

- o martírio do Servo de Deus Ján Havlík, seminarista da Sociedade dos Missionários de São Vicente de Paulo; nascido em 12 de fevereiro de 1928 em Vlčkovany (Eslováquia) e morto em ódio à fé em 27 de dezembro de 1965 em Skalica (Eslováquia)

Os decretos referentes aos novos 3 Veneráveis:

- as virtudes heroicas do Servo de Deus Alberto Beretta (no século: Enrico), sacerdote professo da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos; nascido em 28 de agosto de 1916 em Milão (Itália) e falecido em 10 de agosto de 2001 em Bergamo (Itália)

- as virtudes heroicas do Servo de Deus Ernesto Guglielmo Cofiño Ubico, fiel leigo e pai de família; nascido em 5 de junho de 1899 em Ciudad de Guatemala (Guatemala) e falecido em 17 de outubro de 1991

- as virtudes heroicas da Serva de Deus Francesca Lancellotti, fiel leiga e mãe de família; nascida em 7 de julho de 1917 em Oppido Lucano (Itália) e falecida em 4 de setembro de 2008 em Roma (Itália).

Fonte: Vatican News