O desejo de Francisco ao criar esse organismo vaticano, há nove anos, com o Motu Proprio Fidelis dispensator et prudens era lançar algumas reformas econômicas, em continuidade com o trabalho já iniciado pelo Papa Bento XVI.
Um órgão cujas funções foram então melhor definidas nos Estatutos subsequentes e reafirmadas na Constituição Apostólica Praedicate Evangelium.
O Papa Francisco no seu discurso entregue aos presentes dentre os vários aspectos e valores que caracterizam esse Escritório, recordou brevemente três: independência, atenção às práticas internacionais e profissionalismo.
Em primeiro lugar, a independência. O Escritório do Auditor Geral não depende hierarquicamente de outros órgãos. Entretanto, longe de significar arbitrariedade, isso implica a responsabilidade de uma ação sempre bem pensada e inspirada no mais alto princípio da caridade. É importante que o espírito de correção fraterna sempre o guie, mesmo quando for necessário apontar práticas contábeis e administrativas que não estejam de acordo com as regras e situações a serem corrigidas.
A Palavra de Deus – escreveu o Papa - nos ensina que "o Senhor corrige aqueles a quem ama, como um pai corrige seu filho amado" (Pr 3:12). Lembremo-nos dessas palavras que acompanham a correção: amor e paternidade, sempre, sem ceder à tentação do protagonismo fácil.
A esse respeito Francisco diz que é bom recordar, com espírito sinodal, a importância da colaboração do Escritório com os outros Dicastérios da Cúria e, em particular, com os organismos econômicos, evitando "competições" que podem facilmente se transformar em rivalidade, também em nível pessoal.
Em segundo lugar, atenção às práticas internacionais. É importante promover a aplicação das melhores práticas, promover a justiça e estar alinhado com o restante da comunidade internacional, desde que, é claro, os padrões não contradigam os ensinamentos da Igreja.
Terceiro lugar: profissionalismo. Referindo-se aos presentes salientou que eles têm um histórico profissional considerável, adquirido em organizações importantes. Em alguns casos, isso significa décadas de experiência trabalhando em alto nível, e o Papa agradeceu-lhes por terem decidido colocar tudo isso a serviço da Santa Sé.
“Sei que, para manter altos padrões profissionais, o senhor investe muito em treinamento, e isso é bom. O Papa Francisco recordou então que o “Escritório do Auditor Geral também é uma das Autoridades Anticorrupção de acordo com a Convenção de Mérida, à qual a Santa Sé aderiu em 2016 também em nome do Estado da Cidade do Vaticano.
“Certamente, - acrescentou o Papa - aqueles que trabalham na Santa Sé e no Estado da Cidade do Vaticano o fazem com fidelidade e honestidade, mas a tentação da corrupção é tão perigosa que precisamos estar muito atentos”.
“Sei que os senhores dedicam muita atenção a isso, com um trabalho que é administrado com firmeza e misericordiosa discrição, porque, sujeito à necessidade de transparência absoluta em todas as ações, os escândalos servem mais para encher as páginas dos jornais do que para corrigir em profundidade comportamentos”. “Convido-os, - disse Francisco - além disso, a ajudar os responsáveis pela administração dos bens da Santa Sé a criar salvaguardas que possam impedir, "no início", que a própria insidiosidade da corrupção se concretize”.
O Papa concluiu seu discurso dizendo que sabe que alguns dos presentes servem no refeitório da Caritas. “É uma coisa bonita, e eu lhes digo: façam isso com o coração aberto, com simplicidade e gratuidade, e encontrem tempo para conversar com essas pessoas e ouvir suas histórias. Muitas vezes se encontram pessoas que precisam de amizade, mas que são deixadas sozinhas. Muitas vezes, um sorriso e uma palavra valem ainda mais do que um prato de macarrão”.
- O Papa aos prefeitos italianos: sem integração dos migrantes, nascem os perigos
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (11/12), na Sala Clementina, no Vaticano, os prefeitos da República Italiana.
"Para cumprir esta tarefa, os senhores atuam como intermediários entre o Estado e o território, ligando constantemente o todo com as partes, o centro com as periferias, o bem comum com atenção aos indivíduos", disse Francisco em seu discurso.
O prefeito realiza «a capacidade diária de alargar o […] círculo», sublinhou ainda o Papa, citando um trecho de sua Encíclica Fratelli tutti, "através da qual cada cidadão, especialmente quem se encontra em situações difíceis, experimenta, na presença do Estado, a proximidade concreta da comunidade civil". "Portanto, vocês assumem vários desafios, como a segurança e a ordem pública num determinado território, vários serviços às pessoas e às comunidades", destacou.
A seguir, o Papa se deteve em três desafios: a ordem pública, as questões ambientais críticas e a gestão dos fluxos migratórios.
A ordem pública "é o aspecto prioritário e mais delicado do seu trabalho, porque exige, muitas vezes em situações imprevisíveis e de emergência, combinar o respeito pela lei com a atenção ao ser humano", disse Francisco, relembrando aos prefeitos italianos "uma antiga máxima que se refere à ordem da vida pessoal: “serva ordinem et ordo servabit te”, “sirva a ordem e a ordem o salvará”; o protegerá".
Essa é uma afirmação sábia, pois não se pode administrar a ordem pública sem a ordem pessoal e interior. Mas quando existe essa ordem, a responsabilidade pela ordem pública é sentida como um chamado a criar aquele clima de convivência harmoniosa graças ao qual as dificuldades podem ser enfrentadas e resolvidas.
A seguir, o Papa se deteve no segundo desafio: as questões ambientais críticas. "Embora não sejam da sua competência direta, os problemas hidrogeológicos são hoje, infelizmente, emergências frequentes e envolvem todos; ligados a fenômenos atmosféricos que deveriam ser incomuns e extraordinários, tornaram-se habituais devido às mudanças climáticas. Testemunhamos isto nos últimos tempos: pensemos, para citar alguns, nos recentes desastres na Emília Romagna, na Toscana e na Sicília. É importante e urgente, tanto no presente quanto no futuro, unir esforços para proteger a nossa Casa comum, em tempo hábil e com previsão".
Por fim, o último desafio: a gestão dos fluxos migratórios. "Esta tarefa também não é fácil, porque confia ao seu cuidado as pessoas feridas e vulneráveis". Os migrantes "são rostos, e não números: pessoas que não podem ser simplesmente classificadas, mas que devem ser abraçadas; irmãos e irmãs que precisam ser libertados dos tentáculos das organizações criminosas, capazes de especular sem piedade sobre as suas desgraças", disse ainda o Pontífice.
Ficamos sabendo dos campos de concentração em alguns países do Norte da África, onde aqueles que querem vir para a Europa são tratados como escravos, torturados e até mortos.
Segundo o Papa, os prefeitos têm "a árdua tarefa de organizar um acolhimento ordenado dos migrantes, baseado na integração e na inserção construtiva no tecido local". Mas não podem "ser deixados sozinhos nesta tarefa de apoiá-los nas suas necessidades essenciais e ao mesmo tempo ouvir as apreensões e tensões que podem ser geradas nos moradores", mas também intervir naturalmente quando surgem situações de desordem e violência.
Devemos prestar atenção. Os migrantes devem ser recebidos, acompanhados, promovidos e integrados. Se não houver isso, há perigo; se não houver este caminho para a integração, há perigo.
Os migrantes ajudam, acrescentou o Pontífice, deixando ainda o discurso escrito, “quando são bem integrados. Mas é uma terra (Itália) onde faltam crianças, hein! E os migrantes vêm".
Estou preocupado com o problema da baixa taxa de natalidade aqui na Itália. Eles não têm filhos. Os italianos têm a responsabilidade de ter filhos para crescer e também de receber os migrantes como filhos.
Junto com os seus melhores votos para o próximo Natal, o Papa renovou o seu agradecimento aos prefeitos italianos “pelo compromisso que assumem todos os dias em favor do bem comum. Obrigado, por trabalharem pela convivência pacífica nos mais variados territórios da nossa Itália, rica de tradições e valores que falam de coesão, acolhimento e solidariedade”.
-O Papa recorda os 60 anos de relações entre a Santa Sé e a República da Coreia
Foi no ano da publicação da Pacem in terris de João XXIII que a Santa Sé e a República da Coreia assinaram oficialmente acordos diplomáticos, em uma terra onde, ainda antes, alguns mártires entre os séculos XVIII e XIX haviam "lançado as sementes do que se tornou uma Igreja florescente e fervorosa". Em um telegrama enviado ao bispo de Suwon, Matthias Ri Iong-Hoon, presidente dos bispos coreanos, o Papa recorda os 60 anos de relações entre o Vaticano e Seul, alargando o olhar para o que foi construído pela "difusão do Evangelho" e pelo "crescimento da Igreja local", com sua contribuição para o bem-estar da sociedade coreana".
Recordando a viagem apostólica ao país em agosto de 2014, que culminou com a beatificação de mais de cem mártires, Francisco expressa a esperança de que a presença da Igreja "continue a dar frutos culturais e espirituais, especialmente para aqueles que são marginalizados, empobrecidos e sem esperança". Outro desejo é dirigido aos jovens, "herdeiros - escreve - desse grande testemunho de fé", para que eles "possam levar adiante esse precioso testemunho de Cristo enquanto se preparam para as celebrações da Jornada Mundial da Juventude a ser realizada em 2027". O último pensamento, que também é uma esperança, é que "as boas relações entre a República da Coreia e a Santa Sé continuem a florescer enquanto trabalhamos juntos - conclui o Papa - em assuntos de interesse comum, particularmente a paz e a reconciliação na península coreana".
Fonte: Vatican News