Um projeto "profético" que não devemos nos cansar de levar adiante com coragem e criatividade, "coragem para ir em frente e criatividade para renová-lo sempre", porque a Igreja, mas também a sociedade italiana, precisa disso: foi assim que o Papa Francisco deu as boas-vindas à delegação da Associação Nacional de San Paolo Italia (Anspi), recebida hoje, 07 de dezembro, no Vaticano por ocasião do 60º ano de sua fundação, no contexto do Concílio, a pedido de dom Battista Belloli, apoiado pelo então arcebispo Montini, o futuro Paulo VI, que dá nome à associação.
"Em um momento em que o mundo está envolvido pelas espirais da violência, por sentimentos de prevaricação e ódio, não parem de trabalhar pela educação, para apoiar a família, para comunicar a beleza da fraternidade."
Ao recordar como as propostas recreativas, culturais e artísticas da Anspi sempre colocaram a pessoa no centro, o Papa enfatizou a necessidade de "ter no coração a pessoa em sua totalidade, em todas as suas dimensões: afetiva, psicológica, espiritual, intelectual e física". O Santo Padre citou então São João Bosco, para o santo dos jovens era necessário formar "bons cristãos e honestos cidadãos", com a consciência de que a educação não pode se desenvolver em compartimentos rígidos.
"O aspecto Eclesial e civil são dois lados da mesma moeda, não pode haver antítese, porque ambos contribuem para o bem do indivíduo e da comunidade."
"Para educar uma criança é preciso uma vila inteira". Francisco evocou esse antigo provérbio africano para destacar a necessidade, mais relevante do que nunca, de criar alianças "para formar pessoas maduras" e "reconstruir o tecido das relações para uma humanidade mais fraterna". Em seguida, o Papa enumerou as várias realidades da Anspi nas quais essa colaboração se realiza: a rede de oratórios, as atividades de verão, as atividades pós-escolares, que, graças a muitos voluntários, constituem um "laboratório de acolhida e integração".
"Suas atividades são "pontes" com as famílias, com o território, com a comunidade eclesial e com a sociedade. Mantenham suas portas abertas, mas, acima de tudo, seus braços e corações: não é fácil, mas sabemos que o outro é sempre um tesouro, que deve ser apreciado e valorizado."
Ao encerrar seu discurso, o Pontífice inspirou-se nas palavras de São Filipe Neri, que gostava de repetir: " Alegrai-vos, alegrai-vos". A alegria é o maior remédio. Quando uma pessoa perde a capacidade de se alegrar, há algo de ruim dentro dela", disse o Papa, ressaltando que "os cristãos não podem ser tristes" porque "o Evangelho é alegria, esperança, luz, anúncio de salvação". A isso o Santo Padre vinculou "a experiência da gratuidade", da doação, do dom de si mesmo, que é um testemunho da alegria, às vezes barulhenta, dos filhos de Deus.
"O barulho das crianças é o som de seus sonhos, de seu entusiasmo, de seu desejo de serem protagonistas e de mudar o mundo, de sua capacidade de transformar em música as notas desafinadas deste tempo."
- Papa à Arquieparquia siro-malabar de Ernakulam: não se transformem em uma seita
Colocar um fim às lutas, oposições e também violências - que não faltaram em mais de uma ocasião -, evitar transformar-se em uma “seita” e não forçá-lo a chegar a “sanções”.
Com uma mensagem em vídeo à Arqueparquia de Ernakulam-Angamaly, onde muitos rejeitam a forma litúrgica estabelecida pelo Sínodo Siro-Malabar, o Papa Francisco fala com firmeza sobre a divisão vivida nesta Igreja de Rito Oriental. A maior e mais antiga Igreja da Índia, “fonte de alegria e orgulho para a Igreja universal”, está internamente dilacerada por uma disputa que parece centrada na direção para a qual a Missa é celebrada pelos sacerdotes ou seja, se ela é dirigida para a comunidade ou para o altar. Mas Francisco esclarece que as verdadeiras razões são outras.
Sei que existem razões de oposição que nada têm a ver com a celebração da Eucaristia nem com a Liturgia. São razões mundanas. Eles não vêm do Espírito Santo. Se não vêm do Espírito Santo, vêm de outro lugar.
Então seu sincero apelo àqueles que se rebelam contra as decisões do Sínodo:
Por favor, não continuem a ferir o corpo de Cristo! Não se separem mais dele! E mesmo que tenha havido erros em relação a vocês, perdoem-nos generosamente.
A discussão já se arrasta há décadas nesta antiga Igreja Oriental - a segunda mais unida em Roma depois daquela ucraniana - desde que, com a progressiva latinização, a liturgia tornou-se mais próxima daquela ocidental e o rito siríaco oriental original (voltado para o altar) foi em parte substituído por uma forma voltada para a comunidade. Em 1934, Pio XI havia pedido uma reaproximação com o antigo rito, abandonado por séculos; nos anos 80, foram publicados os novos textos para o Santo Qurbana, a Missa de rito siro-malabar. E desde então surgiram problemas.
O Sínodo da Igreja arquiepiscopal maior siro-malabar, celebrado em 2021, buscou uma solução de compromisso segundo a qual a primeira parte da função, ou seja, a Liturgia da Palavra, e a parte conclusiva sejam celebradas pelo sacerdote voltado para o povo, enquanto a parte central, a liturgia eucarística, seja celebrada pelo sacerdote voltado para o Oriente, olhando para o altar.
A decisão do Sínodo foi aprovada pela Santa Sé, mas não aceita por todos. No dia 28 de novembro de 2021, data escolhida para a implementação do Santo Qurban, 34 eparquias decidiram implementar a decisão sinodal, enquanto na Arqueparquia de Ernakulam-Angamaly muitos sacerdotes e fiéis continuaram a afirmar a própria “particularidade litúrgica”, com o celebrante sempre voltado para a assembleia, em contraste com o resto da Igreja Siro-Malabar.
A diatribe atingiu tons tão exasperados que o arcebispo Cyril Vasil', enviado pelo Papa em agosto passado para “resolver a situação” da arqueparquia, “assegurando a implementação da reforma litúrgica” aprovada pelo Sínodo, sofreu atos de agressão, sendo atingido por ovos e outros objetos.
Em toda esta difícil situação, portanto, chega agora a palavra de Francisco de uma forma que ele mesmo reconhece como “um pouco inusitada”, uma mensagem em vídeo, mas o objetivo – afirma – é que “ninguém mais tenha dúvidas sobre o que pensa o Papa".
Já no passado, de fato, o Pontífice havia se dirigido a esta antiga Igreja indiana por meio de duas cartas: uma em julho de 2021 dirigida a bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, que Francisco exortava a “caminhar juntos com o povo de Deus porque a unidade supera todos os conflitos”; a outra, em abril de 2022, enviada à Arqueparquia de Ernakulam-Angamaly, na qual foi reiterado o convite para aderir às decisões do Sínodo da Igreja Siro-Malabar sobre a forma celebrativa do Qurbana.
As cartas parecem não ter surtido o efeito desejado, como observa o próprio Papa: “Já vos escrevi várias vezes no passado, mas sei que nem todos leram as minhas cartas”, diz no vídeo em que, entre outras coisas, pede a obediência às decisões do Sínodo, de não seguir aqueles - entre os quais sacerdotes - que incentivam a dissidência e de fazer, portanto, alguns "sacrifícios" para preservar a comunhão, sem a qual - afirma - "não há Igreja” e corre-se o risco de se transformar em “uma seita”.
Peço-vos para estarem atentos! Estejam atentos para que o diabo não vos induza a transformar-vos em uma seita. Sejam Igreja, não se tornem uma seita. Não obriguem a Autoridade eclesiástica competente a constatar que saístes da Igreja, porque já não estais em comunhão com os vossos pastores e com o Sucessor do Apóstolo Pedro, chamado a confirmar todos os irmãos e irmãs na fé e a preservá-los na unidade da Igreja. Com grande dor, então, deverão ser tomadas as relativas sanções. Eu não quero ter que chegar a isso.
O Papa se concetra depois na decisão do Sínodo que, “depois de um longo e cansativo trabalho, chegou a um acordo sobre a forma de celebrar o Santo Qurban. A caridade e o amor à comunhão levaram os seus membros a dar este passo, mesmo que alguns deles não considerem a ideal esta forma de celebração”. “Eu sei – explica Francisco – que há anos, alguns que deveriam ser exemplos e verdadeiros mestres de comunhão, sobretudo presbíteros, vos incentivam a desobedecer e se opor às decisões do Sínodo. Irmãos e irmãs, não os sigam!”. O Papa recorda com dor que foram registradas violências, “especialmente contra aqueles que querem permanecer em comunhão” e celebrar como o Sínodo estabeleceu.
“Como pode ser a Eucaristia se a comunhão é rompida, se há falta de respeito pelo Santíssimo Sacramento, entre lutas e rixas?”, pergunta então o Papa na mensagem em vídeo.
O Pontífice dirige-se, portanto, diretamente ao povo fiel de Deus, ao clero, aos religiosos e às religiosas e sobretudo aos “queridos fiéis leigos” que, diz ele, têm tanta fé no Senhor e amam a Igreja:
Em nome do Senhor, pelo bem espiritual da vossa Igreja, da nossa Igreja, peço-vos que recompor esta ruptura. É a vossa Igreja, é a nossa Igreja. Restabeleçam a comunhão, permaneçam na Igreja Católica!
Aos presbíteros, o Bispo de Roma pede que não se separem do caminho da própria Igreja, mas que caminhem juntos com os seus bispos: “Aceitem colocar em prática o que o vosso Sínodo estabeleceu... Não veem que assim a Igreja fica bloqueada e muitas iniciativas já não podem ser praticadas a serviço do povo santo de Deus, a serviço da santificação do povo de Deus?”.
Olhando para o próximo Natal, Francisco faz votos que a arquidiocese “concorde humilde e fielmente" de caminhar com o resto da Igreja, respeitando todas as indicações do Sínodo. A indicação é clara: “Para o próximo Natal, portanto, na Arquieparquia de Ernakulam-Angamaly, como em toda a Igreja Siro-Malabar, seja celebrado o Qurbana em comunhão, seguindo as indicações do Sínodo”. Assim, diz o Papa, "será Natal para todo o vosso povo, para todos".
Disto uma recomendação final, citando São Paulo na primeira Carta aos Coríntios: “Que a Eucaristia seja o modelo da vossa unidade. Não destruam o Corpo de Cristo que é a Igreja, para não comer e beber a vossa condenação”.
-Papa: é urgente uma diplomacia multilateral que ofereça respostas aos problemas da humanidade
Na manhã desta quinta-feira (07/12), o Papa recebeu em audiência uma comissão composta por seis novos embaixadores que representam o Kuwait, Nova Zelândia, Malawi, Guiné, Suécia e Chade junto à Santa Sé. Durante seu discurso, Francisco enfatizou a importância de uma "reconfiguração da diplomacia multilateral" e de "negociações em escala internacional", especialmente num momento marcado por uma multiplicação de conflitos armados. O Pontífice referiu-se novamente a essa situação como "uma terceira guerra mundial em pedaços".
"À luz do escopo global dos conflitos atuais", afirmou Francisco, "a comunidade internacional se vê obrigada a enfrentar, por meio dos instrumentos pacíficos da diplomacia, o desafio de buscar soluções abrangentes para as graves injustiças que tantas vezes os causam". O Papa prossegue citando a Laudate Deum: uma diplomacia multilateral deve procurar "fornecer respostas concretas aos problemas emergentes e conceber mecanismos globais capazes de lidar com as mudanças ambientais, sanitárias, culturais e sociais atualmente em curso".
"O nobre e paciente trabalho diplomático, ao qual vocês se dedicam, não deve buscar apenas prevenir e resolver conflitos, mas também consolidar a coexistência pacífica e o desenvolvimento humano dos povos, promovendo o respeito à dignidade humana, defendendo os direitos inalienáveis de cada homem, mulher e criança, além de promover modelos de desenvolvimento econômico e humano integral."
Ao refletir sobre os elementos primordiais do trabalho diplomático, o Papa destacou a gestão das mudanças climáticas, tema de seu recente discurso na Cop28, em Dubai, proposto aos participantes pela voz de seu enviado, o cardeal Pietro Parolin. A esperança reiterada por Francisco é que a cúpula "possa constituir um passo histórico para responder com sabedoria e clarividência às claras e presentes ameaças ao bem comum universal”.
“O futuro de todos depende do presente que escolhermos. Rezemos para que os líderes das nações se unam e tomem medidas concretas para entregar às gerações futuras um mundo mais parecido com o jardim fértil que o Criador confiou aos nossos cuidados e administração.”
- O Papa aos Focolarinos: sejam testemunhas e construtores da paz de Cristo
Agradeço-lhes por terem vindo celebrar o 80º aniversário da fundação do Movimento dos Focolares, também conhecido como Obra de Maria. Foram as palavras com as quais o Santo Padre agradeceu aos focolarinos na manhã desta quinta-feira, 7 de dezembro, ao recebê-los na Sala do Consistório, no Vaticano, por ocasião dos 80 anos de fundação do Movimento.
Francisco lembrou que este aniversário coincide com o dia em que a Serva de Deus Chiara Lubich decidiu consagrar-se totalmente ao Senhor. A partir de uma inspiração recebida em um contexto de vida absolutamente ordinário - enquanto fazia compras para a família - surgiu um ato radical de doação a Deus, como resposta ao chamado que ela sentia doce e forte em seu coração.
Era 7 de dezembro de 1943, em Trento, no auge da guerra; na véspera da Solenidade da Imaculada Conceição, o "sim" de Maria se tornou o "sim" de Chiara, gerando uma onda de espiritualidade que se espalhou pelo mundo, para dizer a todos que é belo viver o Evangelho com uma simples palavra: unidade. Mas unidade também significa harmonia: unidade harmônica, observou o Pontífice.
Em seu discurso, Francisco reiterou o convite ao Movimento feito em fevereiro de 2021, ocasião em que ressaltou três atitudes que são importantes para seu caminho: viver com fidelidade dinâmica o seu carisma, acolher os momentos de crise como uma oportunidade de amadurecer, encarnar sua espiritualidade com coerência e realismo. E o fez para encorajá-los a vivê-los e promovê-los segundo três linhas: a maturidade eclesial, fidelidade ao carisma e compromisso com a paz.
A Maturidade eclesial. Convido-os a trabalhar para que o sonho de uma Igreja plenamente sinodal e missionária possa ser cada vez mais realizado. Comecem pelas suas comunidades, promovendo nelas um estilo de participação e de corresponsabilidade, também em nível de governo. Façam crescer os focolares dentro delas e difundam ao seu redor um clima de escuta recíproca e de calor familiar, no qual nos respeitemos e cuidemos uns dos outros, com particular atenção aos mais fracos e aos mais necessitados de apoio.
Para esse fim, apontou o Santo Padre, será útil que busquem caminhos de participação e consulta mútuas em todos os níveis, dando atenção especial à comunicação e ao diálogo sincero.
Com relação à segunda linha, fidelidade ao carisma, lembro-lhes de algumas palavras de sua Fundadora. Ela costumava dizer: "Deixem apenas o Evangelho para aqueles que os seguem. Se vocês fizerem isso, o ideal da unidade permanecerá (...). O que permanece e sempre permanecerá é o Evangelho, que não sofre o desgaste do tempo". Semeiem, por favor, a unidade levando o Evangelho, sem nunca perder de vista a obra da encarnação que Deus continua a querer realizar em nós e ao nosso redor por meio do seu Espírito, para que Jesus seja uma boa notícia para todos, sem excluir ninguém, e "para que todos sejam um".
E assim chegamos à terceira linha: o compromisso com a paz, tão importante hoje... Depois de dois milênios de cristianismo, de fato, o anseio de unidade continua a assumir, em muitas partes do mundo, a forma de um grito agonizante que exige uma resposta. Chiara o ouviu durante a tragédia da Segunda Guerra Mundial e decidiu doar toda a sua vida para que aquele "testamento de Jesus" pudesse ser realizado. Hoje, infelizmente, o mundo ainda é dilacerado por muitos conflitos e continua precisando de artesãos da fraternidade e da paz entre os povos e as nações.
Chiara dizia: "Ser amor e difundi-lo é o objetivo geral da Obra de Maria". "Ser amor e difundi-lo": esse é o objetivo principal. E sabemos que somente do amor nasce o fruto da paz. É por isso que peço a vocês que sejam testemunhas e construtores da paz que Cristo alcançou com sua cruz, vencendo a inimizade.
Antes de concluir, o Papa chamou a atenção para o fato de que desde o fim da Segunda Guerra Mundial até agora, as guerras não acabaram. E não temos consciência daquele drama da guerra. E a guerra não acaba. E na guerra todo mundo perde. Todos. Somente os fabricantes de armas ganham. E se as armas não fossem fabricadas em um ano, a fome no mundo acabaria... É terrível. Precisamos refletir sobre esse drama.
Antes de concluir, Francisco quis fazer um último convite, apropriado neste período de Advento: o da vigilância. A armadilha do mundanismo espiritual está sempre à espreita. Portanto, vocês também devem saber como reagir com decisão, coerência e realismo. Lembremo-nos de que a incoerência entre o que dizemos ser e o que realmente somos é o pior anti-testemunho: a incoerência. Por favor, tenham cuidado.