Eis um belo programa para o Advento: encontrar Jesus que vem em cada irmão e irmã que precisa de nós e compartilhar com eles o que pudermos: escuta, tempo, ajuda concreta. Foi a exortação do Papa no Angelus deste domingo, 3 de dezembro, início do Advento, tempo de preparação para o Natal que se aproxima.
Como no domingo anterior, a oração mariana foi rezada da Casa Santa Marta, para não expor o Santo Padre a mudanças bruscas de temperatura, vez que que está se recuperando de uma inflamação pulmonar que o acometeu há mais de uma semana. O texto foi lido por monsenhor Paolo Braida, chefe de escritório na Secretaria de Estado.
Na alocução que precedeu a oração mariana, Francisco destacou que no breve Evangelho que a liturgia nos propõe neste I Domingo do Advento Jesus nos dirige três vezes uma exortação simples e direta. Vigiai. Portanto, o tema é vigilância.
Como devemos entendê-la? – perguntou o Pontífice, acrescentando: às vezes, pensamos nessa virtude como uma atitude motivada pelo medo de um castigo iminente, como se um meteorito estivesse prestes a cair do céu e ameaçasse, se não o evitássemos a tempo, nos esmagar. Mas esse certamente não é o significado da vigilância cristã!
Jesus ilustra isso com uma parábola, falando de um senhor que está voltando e de seus servos que o estão esperando. Na Bíblia, o servo é a "pessoa de confiança" do patrão, com quem muitas vezes há uma relação de cooperação e afeto. Pensemos, por exemplo, que Moisés é definido servo de Deus e que também Maria diz de si mesma: "Eis aqui a serva do Senhor".
Portanto, observou, a vigilância dos servos não é de medo, mas de anseio, esperando encontrar seu senhor que vem. Eles se mantêm prontos para seu retorno porque lhe querem bem, porque têm em mente que, quando ele chegar, encontrará uma casa acolhedora e organizada.
“É com essa expectativa cheia de afeto que também queremos nos preparar para receber Jesus: no Natal, que celebraremos daqui a algumas semanas; no fim dos tempos, quando voltará em glória; todos os dias, quando Ele vier ao nosso encontro na Eucaristia, em sua Palavra, em nossos irmãos e irmãs, especialmente os mais necessitados.”
De modo especial durante essas semanas, exortou Francisco, preparemos cuidadosamente a casa do coração, para que ela seja organizada e hospitaleira. A vigilância, de fato, significa manter o coração preparado. É a atitude do vigia que, durante a noite, não se deixa tentar pelo cansaço, não adormece, mas permanece acordado na expectativa da luz que se aproxima.
O Senhor é a nossa luz e é bom preparar o coração para recebê-lo com a oração e hospedá-lo com a caridade, os dois preparativos que, por assim dizer, o deixam confortável. A esse respeito, diz-se que São Martinho de Tours, um homem de oração, depois de dar metade de seu manto a um pobre, sonhou com Jesus vestido exatamente com aquela parte do manto que ele havia dado.
“Queridos, é bom nos perguntarmos hoje como podemos preparar um coração acolhedor para o Senhor. Podemos fazer isso nos aproximando de seu Perdão, de sua Palavra, de sua Mesa, encontrando espaço para a oração, acolhendo-o naqueles que precisam.”
Cultivemos sua espera sem nos distrairmos com tantas coisas inúteis e sem reclamar o tempo todo, mas mantendo nosso coração alerta, ou seja, ansioso por Ele, desperto e pronto, impaciente para encontrá-Lo. Que a Virgem Maria, mulher da espera, nos ajude a receber seu Filho que vem, concluiu.
- Francisco: trégua rompida em Gaza significa morte, urgente um novo cessar-fogo
"Morte, destruição, miséria". É isso que significa para o Papa a ruptura da trégua entre Israel e o Hamas e a retomada dos combates que, de acordo com informações divulgadas pelas autoridades da Faixa de Gaza, mataram 700 cidadãos palestinos em vinte e quatro horas. Após a recitação do Angelus, ainda na Casa Santa Marta por causa da bronquite infecciosa que o acometeu há mais de uma semana, o Papa - embora ele mesmo não tenha lido o apelo após a oração mariana - deu a conhecer sua profunda dor pelo Oriente Médio, onde "a situação é grave", juntamente com a esperança de um restabelecimento imediato de um acordo para uma trégua.
É triste que a trégua tenha sido rompida, isso significa morte, destruição e miséria.
Francisco voltou seu pensamento para os reféns, ainda nas mãos do Hamas após o dramático 7 de outubro. Muitos foram libertados, mas muitos ainda estão em Gaza. "Pensemos neles e em suas famílias, que viram uma luz, uma esperança de reencontrar seus entes queridos", exortou o Pontífice.
Em seguida, seu olhar se voltou para Gaza, onde, enfatizou, "há tanto sofrimento, faltam bens de primeiras necessidades". Além de comida e água, os equipamentos necessários para emergências militares estão cada vez mais em falta. Um navio da Marinha partiu este domingo da Itália para o Egito com salas de cirurgia e clínicas a bordo para tratar os feridos. A situação, no entanto, está piorando a cada hora. O Papa então lançou seu apelo.
Espero que todos os envolvidos possam chegar a um novo acordo de cessar-fogo o mais rápido possível e encontrar soluções que não sejam as armas, tentando seguir caminhos corajosos para a paz.
Na última quinta-feira, Israel concordou em estender a trégua na Faixa de Gaza por um oitavo dia, em um acordo que visava à libertação de mais dez reféns, principalmente mulheres e crianças. No entanto, enquanto os EUA, o Egito e o Catar se reuniam em Doha para tentar chegar a um acordo sobre uma nova prorrogação, as Forças Armadas de Israel anunciaram que haviam lançado ataques aéreos contra locais no território palestino, sem fornecer mais detalhes. Imagens transmitidas pela emissora pan-árabe "al Jazeera" mostram colunas de fumaça cinza saindo de áreas povoadas de Gaza, acompanhadas pelo barulho de bombardeios e tiros.
Com a mesma apreensão, Francisco assegurou suas orações pelas vítimas do atentado ocorrido na manhã deste domingo nas Filipinas, no Estado de Mindanao, em Marawi, uma área no sul do país, onde uma bomba explodiu no ginásio de uma universidade enquanto uma Missa estava sendo celebrada. O Papa se faz próximo das famílias dos mortos - quatro, incluindo três mulheres - e dos mais de 40 feridos, bem como dos habitantes de Mindanao, uma cidade que no passado foi palco de uma batalha entre as forças do governo e militantes ligados ao Estado islâmico.
Faço-me próximo das famílias, do povo de Mindanao, que já sofreu tanto.
- Cop28, Papa: necessária conversão ecológica global, comprometer-se todos agora
Postagens no X, mensagens em vídeo e discursos (lidos pelo cardeal Pietro Parolin, chefe da delegação da Santa Sé em Dubai), mas o Papa ainda faz questão de enfatizar sua proximidade com o trabalho da Cop28, o evento da Onu sobre clima no qual ele deveria estar presente - o primeiro Pontífice a fazê-lo - de 1º a 3 de dezembro. Impossibilitado de sair devido a uma bronquite aguda da qual está se recuperando lentamente, Francisco, no Angelus, recitado este domingo no salão da Casa Santa Marta, dirigiu um novo pensamento juntamente com um apelo para esse encontro internacional que - como escreveu na exortação Laudate Deum - ele espera que possa ser "um ponto de virada" para uma ação global eficaz contra a crise climática.
Embora à distância, estou acompanhando de perto os trabalhos da Cop28 em Dubai. Renovo meu apelo para que as mudanças climáticas sejam enfrentadas com mudanças políticas concretas.
O Papa - entre os signatários este domingo de uma declaração de todos os líderes religiosos que convidam os diferentes credos a se unirem para "curar o nosso mundo ferido" - renova o convite já expresso no longo discurso que ele deveria proferir no terceiro dia de trabalhos da Cop e que foi lido este sábado pelo secretário de Estado Parolin. O convite, isto é, para sair dos "estreitos limites do particularismo e do nacionalismo", que são "padrões do passado" e que representaram, em alguns casos, um obstáculo para conter a ganância, a exploração e as ilusões de onipotência.
Vamos abraçar uma visão comum, comprometendo-nos todos e agora, sem demora, com uma necessária conversão ecológica global.
O Bispo de Roma também pediu um compromisso coletivo para uma maior inclusão das pessoas com deficiência, no dia em que celebramos o Dia internacional dedicado a elas. "Acolher e incluir aqueles que vivem essa condição ajuda toda a sociedade a se tornar mais humana", assegurou Francisco.
Nas famílias, nas paróquias, nas escolas, no trabalho, no esporte, aprendamos a valorizar cada pessoa com suas qualidades e habilidades e a não excluir ninguém.
Fonte: Vatican News