O mundo, hoje, precisa de alianças que não sejam contra alguém, mas a favor de todos. É uma das passagens prementes da mensagem em vídeo do Santo Padre, este domingo, 3 de dezembro, por ocasião da inauguração do Pavilhão da Fé, em Dubai, na qual Francisco diz lamentar profundamente não poder estar presente e ressalta ter confiado ao cardeal secretário de Estado Pietro Parolin as palavras que gostaria de dirigir nesta ocasião.
Quero dizer-vos: “Obrigado”! Obrigado porque realizastes, pela primeira vez, um pavilhão religioso no âmbito duma COP. E obrigado porque isso é testemunho da vontade que tendes de trabalhar juntos. O mundo, hoje, precisa de alianças que não sejam contra alguém, mas a favor de todos.
Nesse sentido, o Pontífice evoca o papel relevante que as religiões são chamadas a desempenhar trabalhando juntas em favor da paz e do cuidado da casa comum, para o bem de todos.
Urge que as religiões, sem cair na armadilha do sincretismo, deem o bom exemplo de trabalharem juntas, não para os próprios interesses nem para os interesses duma parte, mas para os interesses do nosso mundo. Entre estes, os mais importantes hoje são a paz e o clima.
Demos o exemplo como representantes religiosos, exorta por fim Francisco, para manifestar que é possível uma mudança, para testemunhar estilos de vida respeitosos e sustentáveis, e peçamos em alto e bom som aos responsáveis das nações que seja preservada a casa comum.
O Papa conclui destacando isso nos é pedido, em particular, pelos pequenos e os pobres, cujas orações chegam ao trono do Altíssimo. Em prol do futuro deles e de todos, salvaguardemos a criação e protejamos a casa comum; vivamos em paz e promovamos a paz!
-O Papa: salvaguardar a paz é tarefa também das religiões
Sabemos como estão interdependentes a paz e a salvaguarda da criação: salta aos olhos de todos como guerras e conflitos danificam o ambiente e dividem as nações, dificultando um empenho compartilhado em temas comuns como a salvaguarda do planeta. Foi o que disse o Pontífice na saudação de inauguração do “Pavilhão da Fé na Expo City em Dubai, este domingo, 3 de dezembro, cujo texto foi lido pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, que preside a delegação vaticana na Cop28.
Na saudação inicial, o agradecimento do Papa, entre outros, ao grão-imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, que lhe manifestou sua solidariedade, e a todos os parceiros que organizaram e promoveram este pavilhão religioso.
Francisco observou tratar-se do primeiro do gênero no coração de uma COP e mostra que todo o credo religioso autêntico é fonte de encontro e de ação. Em sua saudação, o Bispo de Roma concentrou-se particularmente em ambos, tecendo algumas considerações.
Primeiramente, fonte de encontro. Neste ponto, Francisco falou das religiões como consciência da humanidade. É importante encontrarmo-nos, mais além das nossas diferenças, como irmãos e irmãs em humanidade e sobretudo como crentes, para nos recordarmos a nós e ao mundo que, como peregrinos com a própria tenda nesta terra, somos obrigados a salvaguardar a nossa Casa Comum.
As religiões, como consciência da humanidade, lembram-nos que somos criaturas finitas, habitadas pela necessidade de infinito. Sim, somos mortais, somos limitados, e salvaguardar a vida significa também opor-nos ao delírio de onipotência voraz que está a devastando o planeta. Aquele surge quando o homem se considera senhor do mundo; quando, vivendo como se Deus não existisse, se deixa cativar pelas coisas que passam.
O ser humano, frisou o Pontífice, em vez de dispor da tecnologia, deixa-se dominar por ela, comporta-se como mercadoria e torna-se indiferente: incapaz de chorar e compadecer-se, fica sozinho consigo mesmo e, sobrepondo-se à moral e à prudência, chega até mesmo a destruir o que lhe permite viver.
É por isso que a tragédia climática é também uma tragédia religiosa: pois a sua raiz está na presunção de autossuficiência da criatura. Mas, “sem o Criador, a criatura não subsiste”, lembrou o Papa.
Francisco fez votos de que este Pavilhão da Fé possa ser um lugar de encontro, e as religiões revelarem-se sempre “lugares hospitaleiros” que deem profeticamente testemunho da necessidade da transcendência, falem ao mundo de fraternidade, de respeito e de cuidado uns dos outros, sem de modo algum justificar os maus-tratos da criação.
Isto leva-nos ao outro tema-chave deste pavilhão e do credo religioso: a ação. É urgente agir em prol do ambiente, mas utilizar mais recursos econômicos não basta: torna-se necessário mudar o modo de viver e, por conseguinte, educar para estilos de vida sóbrios e fraternos. Trata-se duma ação irrenunciável para as religiões, chamadas também a educar para a contemplação, porque a criação é um dom a acolher, e não apenas um sistema a preservar.
Um mundo pobre em contemplação será um mundo poluído na alma, frisou o Santo Padre, que continuará a descartar pessoas e a produzir resíduos; um mundo sem oração dirá muitas palavras, mas, desprovido de compaixão e de lágrimas, viverá apenas dum materialismo feito de dinheiro e de armas.
Uma casa só é habitável por todos, se reinar no seu interior um clima de paz, acrescentou Francisco. O mesmo acontece, observou ele, com a nossa Terra, cujo solo parece unir-se ao grito das crianças e dos pobres para fazer chegar ao céu a mesma e única súplica: paz!
Salvaguardar a paz é tarefa também das religiões. Nisto, por favor, não haja incoerências. Não se negue com os fatos aquilo que se diz com os lábios: não se limite a falar de paz, mas tome-se claramente posição contra quem, declarando-se crente, alimenta o ódio e não se opõe à violência. Recordo as palavras de Francisco de Assis: “A paz que proclamais com os vossos lábios, tende-a ainda mais abundante nos vossos corações”.
Que o Altíssimo abençoe os nossos corações para podermos, juntos, ser construtores de paz e guardiões da criação, concluiu o Santo Padre
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Fonte: Vatican News