Não são apenas os mísseis e os horríveis massacres contra as pessoas, inermes, os tanques que avançam e disparam nos enormes espaços da Ucrânia ou nas ruinas de um bairro em Gaza. Há "outro grande perigo", o clima, que ameaça o mundo, que exige máxima atenção e, acima de tudo, comprometimento. Isso é o que o Papa está se preparando para pedir aos líderes mundiais no próximo fim de semana, quando ele voará a Dubai para falar na COP28, a cúpula da ONU dedicada a esse tema.
As mudanças climáticas “colocam em risco a vida na Terra, especialmente as gerações futuras”, reitera Francisco no pós Angelus, tomando emprestada a voz do chefe de escritório da Secretaria de Estado, monsenhor Paolo Braida, que o ajuda na leitura dos textos antes e depois da oração mariana, devido aos estado gripal que cansa o Papa: “portanto, no próximo fim de semana irei aos Emirados Árabes Unidos para falar no sábado, na COP28 em Dubai. Agradeço a todos aqueles que acompanharão nesta viagem com a oração e com o compromisso de levar a sério a proteção da nossa Casa comum”.
Entre os pensamentos deste domingo não falta aquele para os jovens que celebram a 38ª Jornada Mundial da Juventude em todo o mundo, em nível das Igrejas particulares. O tema, recorda Francisco, é “Alegres na esperança”, em continuidade com a JMJ de Lisboa, e do Papa vai um “abraço aos jovens, presente e futuro do mundo” e um encorajamento “a serem alegres protagonistas da vida da Igreja”.
-Em Dubai, o olhar de Francisco à Criação
O Papa Francisco será o primeiro Pontífice a se dirigir à plateia de Chefes de Estado e de Governo reunidos para a Cop28, a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, programada de 30 de novembro a 12 de dezembro, em Dubai. O evento histórico ocorrerá na manhã de sábado, 2 de dezembro, quando o Papa será recebido pelo secretário geral da ONU, Antonio Guterres, na entrada da Expo City, o novo distrito verde da cidade do emirado que sediará a Cop28.
Esta não é a primeira vez que o Papa visita os Emirados Árabes Unidos. Isso já havia acontecido em fevereiro de 2019, por ocasião da assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Coexistência Comum, assinado juntamente com o Grande Imã de al-Azhar Ahmad al-Tayyeb. Francisco, o primeiro Pontífice a visitar os Emirados, está se preparando para um novo recorde como o primeiro Papa a discursar na Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas. Um evento internacionalmente muito aguardado, precedido pela Exortação Apostólica 'Laudate Deum' de 4 de outubro. Com seu discurso, o Papa - explicou hoje, 28 de novembro, o diretor da Sala de Imprensa vaticana, Matteo Bruni - oferecerá um olhar profundamente cristão sobre o homem e a Criação.
No próprio sábado, imediatamente após seu aguardado discurso, o Pontífice iniciará uma intensa série de encontros bilaterais com pelo menos vinte líderes mundiais e dezenas de outras realidades comprometidas com o combate às mudanças climáticas e com a redução das emissões responsáveis pelo aquecimento global. Um contexto que oferecerá a oportunidade de abordar as muitas questões internacionais atuais que o próprio Papa Francisco vincula com urgência, embora em níveis diferentes, à grave crise climática em curso.
Embora a viagem apostólica aos Emirados Árabes Unidos seja desprovida de compromissos puramente pastorais, no domingo, 3 de dezembro, o Papa participará da inauguração do Faith Pavilion (Pavilhão da Fé), também na área da Expo City. Um evento que o verá novamente junto com o Grande Imã de al Azar, Ahmad al-Tayyeb, e na presença do presidente dos Emirados Árabes Unidos. O pavilhão foi montado pelo Interfaith Center for Sustainable Development (Centro Inter-religioso para o Desenvolvimento Sustentável) em conjunto com o Muslim Council of Elders (Conselho Muçulmano de Anciãos), é o primeiro pavilhão desse tipo na história das Conferências Cop da ONU e serve como uma plataforma global para promover o engajamento religioso e o diálogo inter-religioso na implementação de medidas eficazes para enfrentar a crise climática. No final da cerimônia, Francisco assinará a Declaração “Confluence of Conscience” (Confluência de Consciências).
- Celebrações presididas pelo Papa Francisco no Tempo do Natal
No domingo, 24 de dezembro, a Missa da noite de Natal será presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro às 19h30min locais. O Calendário das Celebrações Litúrgicas Pontifícias foi publicado esta terça-feira, 28 de novembro, pela Sala de Imprensa da Santa Sé. Também este ano o Pontífice manterá, portanto, o horário antecipado que foi adotado em 2020, devido às restrições impostas pela Covid, depois confirmado também em 2021 e 2022.
No dia seguinte, segunda-feira, 25 de dezembro, Natal do Senhor, o Papa concederá a bênção Urbi et Orbi da sacada central da Basílica de São Pedro às 12 horas. No domingo, 31 de dezembro, às 17 horas, na Basílica Vaticana, o Santo Padre presidirá a celebração das Primeiras Vésperas e do Te Deum em ação de graças pelo ano transcorrido.
Na segunda-feira, 1º de janeiro, que também é o LVII Dia Mundial da Paz, Francisco celebrará a Missa na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, novamente na Basílica Vaticana, às 10h. Também na Basílica de São Pedro, no dia 6 de janeiro, celebrará a Missa na Solenidade da Epifania, às 10h. Por fim, no dia 7 de janeiro, o Pontífice presidirá, às 9h30, uma celebração na Capela Sistina na festa do Batismo do Senhor, durante a qual batizará algumas crianças.
Todas as cerimônias se somam àquelas já anunciadas pelo mestre das Celebrações Litúrgicas para o mês de dezembro: no dia 8 de dezembro, às 16h, Francisco presidirá a cerimônia com o tradicional Ato de Veneração à Imaculada Conceição em frente à estátua na Praça de Espanha, em Roma. Em seguida, na terça-feira, 12 de dezembro, às 18h, o Papa presidirá a Missa na Basílica de São Pedro, no dia em que a Igreja celebra a memória da Bem-Aventurada Virgem Maria de Guadalupe, Padroeira da América Latina, uma festa que o Papa começou a celebrar dessa forma em 2014.
- Francisco à IDLO: a justiça e o estado de direito constroem um mundo de paz
A Santa Sé "está ao lado daqueles que se esforçam para fortalecer o estado de direito, os direitos humanos e a justiça social, para que seus esforços possam revelar novos caminhos de esperança em direção a um futuro mais solidário, justo e sereno para todas as nações da Terra". Isso foi enfatizado pelo Papa Francisco em uma mensagem à Assembleia das Partes da IDLO, a Organização Internacional de Direito para o Desenvolvimento, reunida em Roma 40 anos após sua fundação. O objetivo da instituição intergovernamental, lembra o Papa, é promover o estado de direito "a fim de avançar em direção da paz e do desenvolvimento sustentável, incentivando diferentes iniciativas a garantir que a justiça seja acessível a todos, especialmente aos mais desfavorecidos da sociedade".
A justiça, de fato, lembra o Papa, é "a conditio sine qua non para alcançar a harmonia social e a fraternidade universal de que tanto precisamos hoje" e é "a virtude necessária para a construção de um mundo em que os conflitos sejam resolvidos apenas de forma pacífica, sem que prevaleça a lei do mais forte, mas a força da lei". "Infelizmente", continuou Francisco, "estamos longe de alcançar esse objetivo". O aumento da violência no mundo, as consequências das mudanças climáticas, a corrupção e a desigualdade, de fato, não justificam a "mínima exceção, nem mesmo em tempos de crise" à aplicação do estado de direito, que está "a serviço da pessoa humana e pretende proteger sua dignidade, e isso não admite exceções". Além disso, uma concepção errônea da pessoa está se espalhando nas democracias, o que "enfraquece sua própria proteção e abre progressivamente a porta para abusos graves sob a aparência do bem".
O estado de direito deve ser garantido pelas autoridades "independentemente dos interesses políticos prevalecentes" e, quando se baseia em valores universais, "as pessoas têm acesso à justiça e as sociedades são mais estáveis e prósperas". Por essa razão, enfatiza o Papa, "ele pode desempenhar um papel essencial na resolução de crises globais, renovando a confiança e a legitimidade da governança pública, combatendo as desigualdades, promovendo o bem-estar das pessoas, fomentando a proteção de seus direitos fundamentais, incentivando sua participação adequada na tomada de decisões e facilitando o desenvolvimento de leis e políticas que atendam às suas necessidades reais, contribuindo assim para a criação de um mundo no qual todos os seres humanos sejam tratados com dignidade e respeito".
A mudança climática "também é uma questão de justiça internacional", porque a degradação do planeta não só impede a coexistência pacífica e harmoniosa no presente, mas também compromete em grande parte o progresso integral das gerações futuras". "Ao aplicar uma abordagem de justiça à ação climática", acrescenta o Pontífice, "podemos fornecer respostas holísticas, inclusivas e equitativas". A corrupção, portanto, "corrói os próprios fundamentos da sociedade", razão pela qual é necessário, desde cedo, "promover campanhas de conscientização que incentivem maior transparência, responsabilidade e integridade em todos os lugares". Finalmente, conclui o Papa, "é essencial continuar a tomar medidas para alcançar os mais pobres, marginalizados e vulneráveis, que muitas vezes não têm ninguém para falar em seu nome e se veem descartados e excluídos".
-Papa: Igreja e sociedade promovam a inclusão de portadores de deficiência
“Entre os mais frágeis no meio de nós, estão as pessoas portadoras de deficiência.”
Essas são as primeiras palavras de Francisco no vídeo para o mês de dezembro, produzido pela Rede Mundial de Oração do Papa, ao recordar das pessoas com deficiência. No mundo atual, denuncia o Papa Francisco, muitas delas “sofrem rejeição" e o momento é de mudança na forma de pensar e de maior apoio a projetos que "favoreçam a inclusão”:
"Muitas delas sofrem rejeição, baseada na ignorância ou baseada nos preconceitos, que as transformam em marginalizadas. As instituições civis têm que apoiar seus projetos com acessibilidade à educação, ao emprego e aos espaços onde possam exprimir sua criatividade."
A intenção de oração de dezembro coincide com o mês em que a ONU estabeleceu o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência (que cai em 3 de dezembro) com o objetivo de promover os direitos e o bem estar. No vídeo, o Papa insiste no conceito de "capacidades diferentes" para reforçar a grande contribuição que as pessoas com deficiência podem dar à sociedade.
As próprias imagens que acompanham as palavras de Francisco no vídeo mostram essa possibilidade, ao contar sobre histórias diferentes, unidas pela capacidade de valorizar o talento das pessoas com deficiência. Desde os atletas paraolímpicos que desafiam com êxito os próprios limites nas competições até os amigos da Comunidade de Santo Egídio, em Roma, que pintam obras de arte ou servem as mesas de uma pizzaria. O vídeo, feito em colaboração com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé, ainda traz um jesuíta com deficiência visual, teólogo na Austrália, e uma religiosa com síndrome de down comprometida em Lourdes: os dois participaram da Assembleia Geral do Sínodo e estão comprometidos com a campanha #IamChurch do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.
"Há necessidade de programas e iniciativas que favoreçam a inclusão. Sobretudo há necessidade de grandes corações que queiram acompanhar. É mudar um pouco nossa mentalidade para abrirmo-nos às contribuições e aos talentos dessas pessoas com capacidades diferentes, tanto na sociedade como dentro da vida eclesial. E assim, criar uma paróquia plenamente acessível não significa somente eliminar as barreiras físicas, mas assumir também que temos de deixar de falar de 'eles' e passar a falar de 'nós'", ainda alerta o Papa.
O cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, comenta que "o convite do Papa para acolher as pessoas portadoras de deficiência na vida da Igreja e da sociedade é uma grande ajuda para reconhecer o mistério que é cada pessoa. Jesus se encontrou com pessoas marcadas pela fragilidade física, psíquica e espiritual, e viu nelas beleza e promessa. Assim, perceberam em Jesus o mistério divino, sentiram a presença daquele que salva, daquele que é Pai. Em um mundo onde a produtividade parece ser mais importante que o ser humano e a beleza se circunscreve dentro de padrões comerciais, a comunidade cristã que reza ganha um olhar mais profundo e livre. A Igreja não nega a ninguém a participação, a Palavra e os Sacramentos, mas partilha com cada pessoa o caminho adequado. Nossas sociedades, frequentemente pouco inclusivas, precisam assumir um compromisso comum e concreto para que, seguindo o exemplo de Jesus, possam respeitar a dignidade de todos para fazer crescer a fraternidade".
O Padre Frédéric Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, reforça a reflexão, afirmando que “o foco da intenção de oração do Papa deste mês é promover a participação ativa das pessoas com deficiência, construindo programas e iniciativas para que ninguém seja excluído, para que sejam apoiados, acolhidos, integrados e reconhecidos pela sociedade. É o que fazia Jesus, acolhia a todos e com Ele ninguém se sentia excluído. Nós sabemos disso, porém temos dificuldade em viver assim, por isso precisamos rezar, pedir uma mudança de mentalidade, de olhar, começando por nós mesmos". E o Papa finaliza:
“Rezemos para que as pessoas portadoras de deficiência estejam no centro de atenção da sociedade, e as instituições promovam programas de inclusão que valorizem a sua participação ativa.”
Fonte: Vatican News