Um fazendeiro ganhou um casal de emas. Uma manhã, surpreendeu-se com alguns ovos dispersos no mato. Com receio de os ovos serem devorados por predadores, ele os recolheu no celeiro, esperando que a ema os chocasse ali. Dias se passaram sem que a fêmea fosse cuidar dos ovos que acabaram por se estragar.
Decepcionado com a perda, o homem resolveu consultar um amigo veterinário que lhe explicou o ocorrido. Ele disse: “Quando a ema vai chocar os seus ovos, primeiro põe alguns no mato, distribuídos ao redor do local onde fará o seu ninho. Esses ovos não serão chocados pois servirão, posteriormente, de alimento para os futuros filhotes. A mãe ema já sabe onde encontrar os ovos abandonados que, nesta altura, já estarão podres. Ela bica a casca dos ovos e espera a chegada de pequenos insetos, atraídos pelo cheiro. É nesse momento que os filhotes aproveitam para se alimentar dos bichinhos”.
Com esta explicação, o fazendeiro entendeu que a mãe ema não encontrando mais os ovos espalhados e prevendo a falta de alimento para os seus filhotes, não chocou mais ovo algum. Uma lição de planejamento da mãe natureza.
No 32º Domingo do Tempo Comum, continuamos a leitura do evangelho de Mateus e encontramos mais uma parábola sobre o Reino dos Céus. Como em outras páginas dos evangelhos, Jesus quer alertar os seus amigos sobre a volta do Filho do Homem para que fiquem atentos e vigilantes. No entanto, ele não define “o dia e nem a hora”.
Significa que a espera deve ser constante e ativa. Algo novo, porém, aparece na parábola das dez jovens que aguardam a chegada do noivo para acompanhá-lo na festa de casamento. Logo no início da parábola, diz-se que cinco daquelas jovens eram “previdentes” e levaram uma reserva de óleo em vasilhas. As cinco “imprevidentes” não se preocuparam com isso. Por causa da demora do noivo, todas cochilaram e dormiram. Finalmente, no meio da noite, o noivo chegou e as dez jovens prepararam as suas lâmpadas. Surpreendentemente, as jovens previdentes não partilharam o óleo que haviam trazido com as demais imprevidentes.
Para essas últimas, a única possibilidades era ir comprar o óleo que lhes faltava com os vendedores. Com isso, demoram e, quando elas voltam e querem participar da festa, a porta já está fechada, e escutam as palavras duras do noivo-Senhor: “Em verdade eu vos digo: ‘Não vos conheço!’
Podemos dizer, então, que o assunto desta parábola mais do que o fato de ficar vigiando – já que todas as moças dormem – é o “óleo” de reserva que algumas tinham pronto e as outras tiveram que ir atrás para conseguir. Um “óleo” que, misteriosamente, não é possível partilhar, porque ficaria “insuficiente” para todas as jovens.
O óleo da parábola pode nos dizer, simplesmente, que sempre nas questões da nossa fé e do nosso compromisso com Deus e com os irmãos tem algo muito pessoal, uma decisão somente nossa pela qual somos responsáveis e teremos que prestar conta. É muito fácil nos escondermos atrás dos outros ou até jogar a culpa de certas escolhas em quem nos mandou fazer, ensinou-nos, iludiu-nos e fez a nossa cabeça.
Com certeza podemos ter muitas desculpas e justificativas a respeito do nosso agir, mas, afinal, cada um de nós é um sujeito único, com personalidade e responsabilidade própria. Acreditamos que Deus dá a todos liberdade e capacidades suficientes para escolher o rumo da própria vida, os valores que considerar mais ou menos importantes, a possibilidade de decidir em quem confiar, a quem obedecer ou desobedecer.
A Palavra de Deus chama o conjunto desses saberes, conhecimentos e opções de “sabedoria” que, iluminada pela fé, constitui aquela “bagagem” pessoal que carregamos na viagem da vida. Todos somos tentados a trocar essa bagagem por outras diferentes, mais fáceis, mais atrativas, porque liberdade e responsabilidade pesam. “Vendedores” de pacotes já prontos de conselhos e soluções têm muitos.
Mas quando o noivo-Senhor chegar e abrir a porta teremos ainda a lâmpada acesa e, sobretudo, ele nos reconhecerá? Melhor planejar bem as coisas, como fez a mãe ema.
Por Dom Pedro José Conti
Fonte: Diocese de Macapá