"Uma erva daninha venenosa que aflige a nossa sociedade e que deve ser eliminada pela raiz". É assim que o Papa Francisco define a violência contra as mulheres em uma mensagem dirigida aos promotores da iniciativa "Uma grande onda contra a violência masculina sobre as mulheres", organizada pelo sistema público de rádio italiano, a Radio1Rai, e pela rede Cadmi D.I.Re. (Donne in Rete contro la Violenza), uma rede de 82 organizações que administram 100 centros de antiviolência em toda Itália. O bispo de Roma pede que sejam cortadas as raízes culturais e mentais que "crescem no solo do preconceito, da posse, da injustiça".
O apelo é para "não ficar indiferente", para "agir imediatamente, em todos os níveis, com determinação, urgência e coragem" para dar voz às "nossas irmãs sem voz". "A maneira como tratamos uma mulher revela nosso grau de humanidade", escreve o Papa, pensando nas muitas mulheres "maltratadas, abusadas, escravizadas, vítimas da arrogância daqueles que pensam que podem dispor de seus corpos e de suas vidas, forçadas a se render à ganância dos homens".
"Em muitos lugares e situações", observa ele, "as mulheres são colocadas em segundo plano", consideradas "inferiores", como objetos. Quando "uma pessoa é reduzida a uma coisa, sua dignidade não é mais vista", diz a mensagem, "ela é considerada apenas uma propriedade que pode ser descartada em tudo, até mesmo a ponto de ser suprimida".
Francisco destaca o papel ambíguo desempenhado pelos meios de comunicação de massa que, por um lado, favorecem a promoção da mulher, mas, por outro, "transmitem mensagens marcadas pelo hedonismo e pelo consumismo, cujos modelos, masculinos e femininos, obedecem aos critérios do sucesso, da autoafirmação, da competição, do poder de atrair os outros e dominá-los". No entanto", observa o Pontífice, "onde há dominação, há abuso", enquanto "o Senhor nos quer livres e em plena dignidade".
Por isso, segundo o Papa, é urgente "uma ação educativa que, a partir da família, coloque no centro a pessoa com sua dignidade" e favoreça "relações justas e equilibradas, baseadas no respeito e no reconhecimento mútuos".
- O Papa: a terra de Jesus dilacerada por terríveis sofrimentos, imploramos a paz
O Papa Francisco recebeu, nesta quinta-feira (09/11), no Vaticano, os membros da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. O Pontífice recordou a Terra Santa, dilacerada pela violência e por um conflito que já causou milhares de mortes. As palavras do Papa soam quase como um choro: “Infelizmente, somos testemunhas de uma tragédia que se realiza nos lugares onde o Senhor viveu, onde nos ensinou através da sua humanidade a amar, a perdoar e a fazer o bem a todos. Os vemos dilacerados por um sofrimento terrível que afeta sobretudo muitas pessoas inocentes, muitos inocentes mortos”.
Francisco expressou sua tristeza pela situação na Terra Santa durante a audiência com os participantes da Consulta da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, que reuniu, em Roma, cavaleiros, damas, lugar-tenentes, delegados magistrados e este ano também bispos grão-priores.
Estou espiritualmente unido a vocês, que certamente vivem este encontro da Consulta, compartilhando a grande dor da Igreja Mãe de Jerusalém e implorando o dom da paz.
O discurso de Francisco centrou-se no tema da Consulta, a formação. A formação para os aspirantes a ingressar na Ordem; formação permanente para quem já participa da sua vida e missão; a formação de quem ocupa cargos de responsabilidade do ponto de vista espiritual, “na consciência do elevado compromisso moral assumido perante o Altar”, e o relativo à organização das atividades e administração dos recursos, “para satisfazer de maneira continuativa e adequada às necessidades da Terra Santa”.
São quatro as orientações indicadas pelo Papa: “Formação inicial e permanente, prática e espiritual”. Quatro linhas representadas no sinal da Cruz, que se destaca claramente nos mantos dos membros da Ordem. A cruz, diz ele, com o seu braço horizontal “recorda o compromisso de fazer com que a dedicação a Cristo crucificado e ressuscitado abrace toda a sua vida, e na caridade os torne próximos de cada irmão e irmã”. Já na vertical, “lembra a complementaridade indispensável, no seu caminho, entre vida de oração e de serviço aos irmãos, atenta, qualificada, bem enraizada nas realidades em que trabalha, visando o bem total da pessoa".
Neste sentido, recordando os Estatutos que “constituem o caminho principal” para caminhar como Ordem laical, Francisco exortou a “associar homens e mulheres comprometidos com uma participação mais plena na vida da Igreja”, a partir do “Igreja Mãe” de Jerusalém e abrindo-se ao mundo inteiro.
Com essa visão universal, vocês são chamados a ser uma Ordem que, forte em sua própria identidade, participa do mistério da caridade da maneira mais bonita, aberta e disponível, pronta para assumir os serviços que o Senhor pede através das necessidades dos irmãos: desde a educação das crianças nas escolas até a solidariedade concreta com as categorias mais frágeis, como os idosos, os doentes e os refugiados.
“Formar e formar-se”, portanto, “numa caridade universal e inclusiva”, afirmou o Papa. Nesta perspectiva, disse ele, é necessário estudar a história da Ordem e, “num contexto de escuta e de oração”, esforçar-se para adquirir competências para responder às necessidades do próximo: “Este é um grande serviço que vocês podem prestar hoje à Igreja e ao mundo”, sublinhou o Pontífice.
Em todas as épocas, mesmo na nossa marcada pelo paradigma tecnocrático, há grande necessidade de pessoas que pratiquem a caridade com inteligência e imaginação.
- Papa encontra brasileiros no Vaticano e conhece iniciativas de inclusão através do futebol
Os "Amigos dos Museus do Vaticano", provenientes de 10 países da América, Europa e Ásia que atuam na captação de recursos para a preservação e aprimoramento do patrimônio pontifício de arte, encontraram o Papa Francisco nesta quinta-feira (9). Entre eles, dois brasileiros: o Padre Omar Raposo, reitor do Santuário do Cristo Redentor e pároco da Paróquia São José da Lagoa, e Pedro Trengrouse, assessor jurídico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que fazem parte da Benfeitoria de Arte dos Museus do Vaticano, os chamados Patrons of the Art in the Vatican Museums, uma iniciativa de doação e patrocínio que nasceu há 40 anos nos Estados Unidos, num esforço conjunto da Califórnia e Nova York na década de 80 para restaurar a Capela Sistina.
Em entrevista a Silvonei José, Pedro comentou sobre a presença da CBF neste movimento de apoio aos Museus do Papa, uma "união para promover a arte como manifestação divina", e acrescentou:
"O Museu do Vaticano reúne obras importantes para humanidade. É um grande exemplo na manutenção, na restauração, no cuidado com a história da humanidade que é contada através da arte. É uma alegria poder ajudar o Museu do Vaticano na condição de um dos patronos."
Na audiência no Vaticano na manhã desta quinta (9), a dupla, representando a torcida do Fluminense, entregou uma flâmula e uma camiseta da equipe tricolor ao Papa Francisco. O time brasileiro de futebol, que tem como padroeiro João Paulo II, é o mais novo campeão da Copa Libertadores da América, ao conquistar o seu primeiro título na competição diante do Boca Juniors, da Argentina.
O Papa Francisco também recebeu uma carta do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues Gomes. No texto, o entusiasmo "com a possibilidade do esporte ser tema da Campanha da Fraternidade em 2026", segundo ideia apresentada pelo secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers, em evento realizado em setembro pelo Comitê Olímpico do Brasil, em São Paulo.
Ainda na carta, o presidente afirma que "a Confederação Brasileira de Futebol está à disposição para colaborar no que for preciso" com a campanha. Um apoio que poderá ajudar a "mobilizar toda a sociedade brasileira como expressão da caridade e da solidariedade em favor da dignidade da pessoa humana, com objetivos de despertar o espírito comunitário, educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, e renovar a consciência da responsabilidade de todos na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária". E o assessor jurídico da CBF acrescentou:
"O presidente da CBF mandou uma carta para o Papa Francisco elogiando essa possibilidade que a CNBB aventou através da participação de dom Ricardo nesse evento do Comitê Olímpico, dizendo que a CBF está à disposição para colaborar como for preciso nessa campanha e também enviando o relatório de gestão do ano passado, onde o presidente Ednaldo mostra que, inspirado na Declaração Esporte para Todos, a CBF já vem tomando uma série de medidas."
De fato, Ednaldo Rodrigues Gomes encontrou o Papa Francisco no Vaticano no final de setembro de 2022, quando assinou a Declaração do Esporte para Todos ao final de uma cúpula internacional organizada pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, e pelo Dicastério para a Cultura e a Educação. O documento foi um convite concreto às 200 pessoas do mundo do esporte presentes no Vaticano a se comprometerem com ações dentro dos três elementos que fazem parte da declaração: a coesão, a acessibilidade e o esporte ser adaptável a todos.
Segundo o assessor jurídico da CBF, Pedro Trengrouse, o documento tem inspirado e repercutido muito no Brasil e servido de base para a atuação nesse campo de diversas organizações esportivas. Como a própria Confederação Brasileira de Futebol que tem apoiado, por exemplo, a Seleção Brasileira de Nanismo, iniciativas de combate ao racismo e acordos de cooperação com o Cristo Redentor. De fato, junto à carta entregue ao Papa Francisco nesta quinta-feira (9), foi entregue um relatório de atividades explicando essas e outras iniciativas de inclusão através do futebol, a partir da Declaração do Esporte para Todos.
A entrevista completa dos brasileiros a Silvonei José, da Rádio Vaticano
Fonte: Vatican News