A Praça São Pedro, que na manhã deste 1° de novembro foi ponto de partida para a tradicional Corrida dos Santos já na sua décima quinta edição, também recebeu fiéis do mundo inteiro para rezar junto com o Papa Francisco a oração mariana do Angelus. Nesta quarta-feira (1) de Solenidade de Todos os Santos, o Pontífice propôs uma reflexão sobre a santidade, em particular, sobre duas características: a santidade como um dom, que "é um presente, não se pode comprar"; e ao mesmo tempo como um caminho.
"A santidade é um dom de Deus que recebemos no Batismo", disse o Papa, enaltecendo que, "se o deixarmos crescer, pode mudar completamente nossa vida" (cf. Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, 15) a ponto alcançar a plenitude da vida cristã. Portanto, "os santos não são heróis inalcançáveis ou distantes, mas são pessoas como nós", continuou Francisco, a partir do dom que cada um recebeu:
“De fato, se pensarmos bem, certamente já conhecemos alguns deles, alguns santos quotidianos: algumas pessoas justas, algumas pessoas que vivem a vida cristã com seriedade, com simplicidade... essas que eu gosto de chamar de 'os santos da porta ao lado', que vivem normalmente. A santidade é um dom oferecido a todos para uma vida feliz.”
Todo dom recebido, afirma o Papa, é motivo de comemoração e precisa ser acolhido, porque "traz consigo a responsabilidade de uma resposta, um 'obrigado'. Mas como se diz esse obrigado? É um convite para se esforçar para que não seja desperdiçado". É por isso que a santidade também se torna um caminho para "ser feito juntos, ajudando uns aos outros, unidos àqueles ótimos companheiros que são os Santos", aquele irmão ou irmã mais velho, "com os quais sempre podemos contar".
Francisco, então recomenda conhecer e se emocionar com a vida deles que são nosso apoio, corrigem quando é necessário, "desejam nosso bem": "em suas vidas encontramos um exemplo, em suas orações recebemos ajuda e, na comunhão com eles estamos ligados por um vínculo de amor fraterno", acrescenta o Papa, ao questionar:
“Eu me lembro de ter recebido o dom do Espírito Santo, que me chama à santidade e me ajuda a chegar lá? Agradeço a Ele por isso? Sinto os santos perto de mim e me dirijo a eles? Conheço a história de alguns deles? Faz-nos bem conhecermos a vida dos santos e nos emocionarmos com seus exemplos. Faz-nos muito bem recorrermos a eles na oração.”
- Francisco: continuemos a rezar pelas populações que sofrem
O Papa, nas saudações após o Angelus desta quarta-feira (01), volta a falar sobre as guerras que afligem o mundo de hoje, pedindo que não parem de rezar pelos povos que estão vivendo esses conflitos.
“E continuemos a rezar pelos povos que sofrem com as guerras de hoje. Não nos esqueçamos da martirizada Ucrânia, não nos esqueçamos da Palestina, não nos esqueçamos de Israel, não nos esqueçamos de tantas outras regiões onde a guerra ainda é muito forte.”
Francisco, dirigindo-se à multidão presente na Praça São Pedro, também saudou e agradeceu aos grupos de peregrinos presentes, entre eles os participantes da tradicional Corrida dos Santos promovida pela Fundação Missões Dom Bosco "para viver em uma dimensão de festa popular" a Solenidade de Todos os Santos. A corrida, que já está em sua 15ª edição, contou com a passagem dos participantes pelo centro de Roma.
O Papa então se despediu, lembrando que nesta quinta-feira (2), em memória aos fiéis falecidos, vai celebrar uma missa no Cemitério de Guerra de Roma, conhecido também como Cemitério Inglês. Todos os anos, Francisco escolhe um lugar simbólico de dor e de recordação para a data do Dia de Finados. A celebração começa às 10h na Itália, 6h no horário de Brasília, com transmissão ao vivo dos canais do Vatican News, com comentários em português, direto do cemitério que acolhe aqueles que morreram durante a Segunda Guerra Mundial.
- O Papa: a teologia deve ser capaz de interpretar o Evangelho no mundo de hoje
"Uma Igreja sinodal, missionária e 'em saída' só pode corresponder a uma teologia 'em saída'" que possa "interpretar profeticamente o presente" prevendo "novos itinerários para o futuro, à luz da Revelação". Nessa perspectiva, o Papa Francisco, com a Carta Apostólica na forma de Motu Proprio Ad theologiam promovendam, datada de 1º de novembro de 2023, decidiu atualizar os estatutos da Pontifícia Academia de Teologia. Instituída canonicamente por Clemente XI em 23 de abril de 1718, com o breve Inscrutabili, para "colocar a teologia a serviço da Igreja e do mundo", a Academia evoluiu ao longo dos anos como um "grupo de estudiosos chamados a investigar e aprofundar temas teológicos de particular relevância".
Agora, para o Pontífice, é hora de revisar as normas que regulam suas atividades "para torná-las mais adequadas à missão que nosso tempo impõe à teologia". Abrindo-se ao mundo e ao homem, "com seus problemas, suas feridas, seus desafios, suas potencialidades", a reflexão teológica deve abrir espaço para "um repensar epistemológico e metodológico", sendo, portanto, chamada a "uma corajosa revolução cultural". O que é necessário é "uma teologia fundamentalmente contextual", escreve o Papa, "capaz de ler e interpretar o Evangelho nas condições em que os homens e as mulheres vivem diariamente, nos diferentes ambientes geográficos, sociais e culturais".
A teologia deve "desenvolver-se em uma cultura do diálogo e do encontro entre as diversas tradições e os diversos saberes, entre as diversas confissões cristãs e as diversas religiões", especifica a Carta Apostólica, deve confrontar-se "abertamente com todos, crentes e não crentes". "É a abordagem da transdisciplinaridade", especifica Francisco, que deve ser pensada - esclarece a Constituição Apostólica Veritatis gaudium - "como a colocação e a fermentação de todo conhecimento no espaço de Luz e Vida oferecido pela Sabedoria que emana da Revelação de Deus". Por essa razão, a teologia deve "fazer uso de novas categorias desenvolvidas por outras formas de conhecimento, a fim de penetrar e comunicar as verdades da fé e transmitir o ensinamento de Jesus nas linguagens de hoje, com originalidade e consciência crítica".
Depois, há a contribuição que a teologia pode dar "ao debate atual de 'repensar o pensamento', mostrando-se ser um verdadeiro saber crítico na medida em que é um conhecimento sapiencial", um saber que não deve ser "abstrato e ideológico, mas espiritual", enfatiza Francisco, "elaborado de joelhos, grávido de adoração e oração; um saber transcendente e, ao mesmo tempo, atento à voz do povo". É uma "teologia popular" que o Papa pede, "misericordiosamente dirigida às feridas abertas da humanidade e da criação e dentro das dobras da história humana, para a qual profetiza a esperança de uma realização final". Na prática, para Francisco, a teologia, como um todo, deve assumir um "selo pastoral" e, portanto, a reflexão teológica deve partir "dos diferentes contextos e situações concretas em que os povos estão inseridos", colocando-se "a serviço da evangelização".
É uma nova missão, diz o presidente da Pontifícia Academia de Teologia, dom Antonio Staglianò, "promover, em todas as esferas do saber, o confronto e o diálogo para alcançar e envolver todo o povo de Deus na pesquisa teológica, de modo que a vida do povo possa se tornar vida teologal".
Fonte: Vatican News