O Papa Francisco participou da Congregação Geral da tarde deste sábado (28) da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos naquele que foi o último dia após quatro semanas de trabalho. Dia também de leitura e aprovação do Relatório de Síntese, que passou por votação eletrônica e secreta, com apresentação do documento de 40 páginas - em versão oficial em italiano e inglês - em coletiva de imprensa. Essa foi a primeira vez que os não bispos tiveram o direito de voto, como as mulheres.
A conclusão dos trabalhos do Sínodo foi feita pelo próprio Papa Francisco na noite deste sábado (28), na Sala Paulo VI. Em espanhol, agradeceu pela dedicação de todos e disse:
"Quero recordar que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. Sugiro que levem consigo os textos de São Basílio, que nos preparou o Padre Davide Piras, e continuem meditando-o, porque isso pode ajudá-los. Quero agradecer o trabalho de todos e de cada um: cardeal Grech, não dormiu à noite; cardeal Hollerich, mestre dos noviços; Nathalie Becquart e Luis Marín de San Martín, Giacomo Costa, Riccardo Battocchio, Giuseppe Bonfrate, Irmã Maria Grazia Angelini, Timothy Radcliffe, que nos manifestaram um saber espiritual conosco, e aos escondidos, aqueles que estão aqui atrás, que não vemos e que possibilitaram tudo isso. Obrigadao de coração a todos. Muchas gracias."
Já o encerramento solene do Sínodo dos Bispos será realizado com missa presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro. A cerimônia deste domingo (29), com transmissão ao vivo e comentários em português pelos canais do Vatican News, está marcada para às 10h na Itália. Com o término do horário de verão na Europa neste final de semana, a missa começa às 6h no horário de Brasília. O próprio Papa Francisco, após a oração na conclusão dos trabalhos aos padres e mães sinodais, recordou todos para atrasar os ponteiros dos relógios em uma hora.
- O Relatório de Síntese: uma Igreja que envolve todos e está próxima das feridas do mundo
Mulheres e leigos, diaconato, ministério e magistério, paz e meio ambiente, pobres e migrantes, ecumenismo e identidade, novas linguagens e estruturas renovadas, antigas e novas missões (também digitais), ouvir todos e aprofundar - não superficialmente - sobre tudo, mesmo as questões mais "polêmicas". Há um olhar renovado sobre o mundo e a Igreja e e às suas instâncias, no Relatório de Síntese aprovado e publicado neste sábado (28) pelaXVI Assembleia Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade. Após quatro semanas de trabalho, que começaram em 4 de outubro na Sala Paulo VI, o evento eclesial conclui neste sábado (28), no Vaticano, a sua primeira sessão.
Cerca de 40 as páginas do documento, fruto do trabalho da assembleia que "se realizou enquanto velhas e novas guerras assolam o mundo, com o drama absurdo de inúmeras vítimas". "O grito dos pobres, dos que são obrigados a migrar, dos que sofrem violência ou sofrem as consequências devastadoras das mudanças climáticas ressoou entre nós, não só através da mídia, mas também das vozes de muitos, pessoalmente envolvidos com suas famílias e povos nesses trágicos acontecimentos", diz o documento (Premissa).
A esse desafio e a muitos outros, a Igreja universal tentou oferecer uma resposta nos Círculos Menores e nas intervenções. Tudo foi reunido no Relatório de Síntese, dividido em três partes, que traça o caminho para o trabalho a ser realizado na segunda sessão em 2024.
Como na Carta ao Povo de Deus, a assembleia sinodal reafirmou "a abertura para ouvir e acompanhar todos, inclusive aqueles que sofreram abusos e ferimentos na Igreja" (1 e). Ao longo do caminho a ser percorrido "rumo à reconciliação e à justiça", "é preciso abordar as condições estruturais que permitiram tais abusos e fazer gestos concretos de penitência".
A sinodalidade é um primeiro passo. Um termo que os próprios participantes do Sínodo admitem ser "desconhecido para muitos membros do Povo de Deus" e "desperta confusão e preocupação em alguns" (1 f), entre aqueles que temem um afastamento da tradição, um rebaixamento da natureza hierárquica da Igreja (1 g), uma perda de poder ou, ao contrário, imobilidade e falta de coragem para mudar. Em vez disso, "sinodal" e "sinodalidade" são termos que "indicam um modo de ser Igreja que articula comunhão, missão e participação". Portanto, uma maneira de viver a Igreja, valorizando as diferenças e desenvolvendo o envolvimento ativo de todos. Começando pelos presbíteros e bispos: "uma Igreja sinodal não pode prescindir de suas vozes" (1 n), se lê no documento. "Precisamos entender as razões da resistência à sinodalidade por parte de alguns deles".
A sinodalidade anda de mãos dadas com a missão, portanto, é necessário que "as comunidades cristãs compartilhem a fraternidade com homens e mulheres de outras religiões, convicções e culturas, evitando, por um lado, o risco da autorreferencialidade e da autopreservação e, por outro, o da perda de identidade" (2 e). Nesse novo "estilo pastoral", parece importante para muitos tornar "a linguagem litúrgica mais acessível aos fiéis e mais incorporada à diversidade de culturas" (3 l).
Um amplo espaço no Relatório é dedicado aos pobres, que pedem à Igreja "amor" entendido como "respeito, acolhimento e reconhecimento" (4 a). "Para a Igreja, a opção pelos pobres e descartados é uma categoria teológica antes de ser cultural, sociológica, política ou filosófica" (4 b), reitera o documento, identificando como pobres também os migrantes, os indígenas, as vítimas de violência, de abusos (especialmente mulheres), de racismo e tráfico, pessoas com vícios, minorias, idosos abandonados, trabalhadores explorados (4 c). "Os mais vulneráveis dos vulneráveis, para os quais é necessária uma defesa constante, são as crianças no ventre materno e suas mães", diz o texto da assembleia, que afirma estar "ciente do grito dos 'novos pobres' produzido pelas guerras e pelo terrorismo, também causado por 'sistemas políticos e econômicos corruptos'".
Nesse sentido, exorta-se um comprometimento da Igreja tanto com a "denúncia pública das injustiças" perpetradas por indivíduos, governos e empresas quanto com o engajamento ativo na política, nas associações, nos sindicatos e nos movimentos populares (4g). Sem descuidar da ação consolidada da Igreja nos campos da educação, da saúde e da assistência social, "sem qualquer discriminação ou exclusão de quem quer que seja" (4 k).
O foco se concentra nos migrantes e refugiados, "muitos dos quais carregam as feridas do desenraizamento, da guerra e da violência". Eles "se tornam uma fonte de renovação e enriquecimento para as comunidades que os acolhem e uma oportunidade de estabelecer um vínculo direto com Igrejas geograficamente distantes" (5d). Diante de atitudes cada vez mais hostis em relação a eles, o Sínodo convida "a praticar uma acolhida aberta, a acompanhá-los na construção de um novo projeto de vida e a construir uma verdadeira comunhão intercultural entre os povos". Fundamental nesse sentido é o "respeito às tradições litúrgicas e às práticas religiosas", bem como à linguagem.
Por exemplo, uma palavra como "missão", nos contextos em que "a proclamação do Evangelho tem sido associada à colonização e até mesmo ao genocídio", está carregada de "um doloroso legado histórico" e dificulta a comunhão (5 e). "Evangelizar nesses contextos requer o reconhecimento dos erros cometidos, aprendendo uma nova sensibilidade para essas questões", afirma o documento.
Pede-se igual empenho e cuidado da Igreja "em educar para uma cultura do diálogo e do encontro, combatendo o racismo e a xenofobia, especialmente nos programas de formação pastoral" (5 p). Também é urgente "identificar os sistemas que criam ou mantêm a injustiça racial dentro da Igreja e combatê-los" (5 q).
Ainda sobre o tema da migração, o olhar vai para a Europa Oriental e os recentes conflitos que causaram o fluxo de numerosos fiéis do Oriente católico para territórios de maioria latina. "É necessário", diz o pedido dos padres, "que as Igrejas locais de rito latino, em nome da sinodalidade, ajudem os fiéis orientais que emigraram a preservar a sua identidade", sem passar por "processos de assimilação" (6c).
No que diz respeito ao ecumenismo, fala-se de uma "renovação espiritual" que requer "processos de arrependimento" e "cura da memória" (7c); em seguida, cita a expressão do Papa de um "ecumenismo do sangue", ou seja, "cristãos de diferentes pertenças que juntos dão a vida pela fé em Cristo" (7d) e se relança a proposta de um martirológio ecumênico (7o). O Relatório também reitera que a "colaboração entre todos os cristãos" é um recurso "para curar a cultura do ódio, da divisão e da guerra que coloca grupos, povos e nações uns contra os outros". Ele não esquece a questão dos chamados casamentos mistos, que são realidades nas quais "podemos evangelizar uns aos outros" (7 f).
"Os leigos e as leigas, os consagrados e as consagradas, e os ministros ordenados têm igual dignidade" (8 b): esse pressuposto é reiterado com força no Relatório de Síntese, que lembra como os fiéis leigos "estão cada vez mais presentes e ativos também no serviço dentro das comunidades cristãs" (8 e). Educadores na fé, teólogos, formadores, animadores espirituais e catequistas, ativos na salvaguarda e na administração: sua contribuição é "indispensável para a missão da Igreja" (8 e). Os diferentes carismas devem, portanto, ser "evidenciados, reconhecidos e plenamente valorizados" (8 f), e não menosprezados, apenas suprindo a falta de sacerdotes, ou pior, ignorados, subutilizados e "clericalizados" (8 f).
Forte é o compromisso pedido à Igreja, então, para o acompanhamento e a compreensão das mulheres em todos os aspectos de suas vidas, incluindo os pastorais e sacramentais. As mulheres, diz o documento, "exigem justiça em uma sociedade marcada pela violência sexual e desigualdades econômicas, e pela tendência de tratá-las como objetos" (9 c). "O acompanhamento e a forte promoção das mulheres andam de mãos dadas".
Muitas mulheres presentes no Sínodo "expressaram profunda gratidão pelo trabalho dos padres e bispos, mas também falaram de uma Igreja que fere" (9f). "O clericalismo, o machismo e o uso inadequado da autoridade continuam a marcar a face da Igreja e a prejudicar a comunhão". É necessária uma "profunda conversão espiritual e mudanças estruturais", bem como "um diálogo entre homens e mulheres sem subordinação, exclusão ou competição" (9 h).
As opiniões variam sobre o acesso das mulheres ao diaconato (9 j): para alguns, é um passo "inaceitável", "em descontinuidade com a Tradição"; para outros, restauraria uma prática da Igreja primitiva; outros ainda o veem como "uma resposta apropriada e necessária aos sinais dos tempos" para "renovar a vitalidade e a energia da Igreja". Há ainda aqueles que expressam "o temor de que esse pedido seja a expressão de uma perigosa confusão antropológica, aceitando que a Igreja se alinhe com o espírito dos tempos".
Os padres e as mães do Sínodo pedem para continuar "a pesquisa teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconato", usando os resultados das comissões especialmente criadas pelo Papa e a pesquisa teológica, histórica e exegética já realizada: "se possível, os resultados devem ser apresentados na próxima sessão da Assembleia" (9 n).
Enquanto isso, a urgência de "garantir que as mulheres participem dos processos de tomada de decisão e assumam papéis de responsabilidade no cuidado pastoral e no ministério" é reiterada, e o Direito Canônico deve ser adaptado de acordo (9m). Os casos de discriminação no emprego e remuneração injusta também devem ser abordados, inclusive na Igreja, onde "as mulheres consagradas são frequentemente consideradas mão de obra barata" (9 o). Em vez disso, o acesso das mulheres à educação teológica e aos programas de formação deve ser ampliado (9 p), incluindo a promoção do uso de linguagem inclusiva em textos litúrgicos e documentos da Igreja (9 q).
Observando a riqueza e a variedade das diferentes formas de Vida Consagrada, se adverte contra a "persistência de um estilo autoritário, que não abre espaço para o diálogo fraterno". É aqui que se geram casos de abusos de vários tipos contra pessoas consagradas e membros de agregações leigas, especialmente mulheres. O problema "requer intervenções decisivas e apropriadas" (10 d).
A gratidão é então expressa aos diáconos "chamados a viver seu serviço ao Povo de Deus em uma atitude de proximidade com as pessoas, de acolhimento e de escuta de todos" (11 b). O perigo é sempre o clericalismo, uma "deformação do sacerdócio" a ser combatida "desde as primeiras etapas da formação", graças a "um contato vivo" com o povo e com os necessitados (11 c). Nessa linha, pede-se também que os seminários ou outros cursos de formação dos candidatos ao ministério estejam ligados à vida cotidiana das comunidades (11 e), a fim de evitar "os riscos do formalismo e da ideologia que levam a atitudes autoritárias e impedem o verdadeiro crescimento vocacional".
Foi mencionado o tema do celibato, que recebeu diferentes avaliações durante a assembleia. "Todos", pode-se ser no Relatório, "apreciam seu valor profético e o testemunho de conformação a Cristo; alguns se perguntam se sua adequação teológica com o ministério sacerdotal deve necessariamente se traduzir na Igreja latina em uma obrigação disciplinar, especialmente onde os contextos eclesiais e culturais o tornam mais difícil. Esse não é um tema novo, que precisa ser aprofundado".
Há uma ampla reflexão sobre a figura e o papel do bispo, que é chamado a ser "um exemplo de sinodalidade" (12 c) ao exercer a "corresponsabilidade", entendida como o envolvimento de outros atores dentro da diocese e do clero, de modo a aliviar a "sobrecarga de compromissos administrativos e jurídicos" que muitas vezes atrapalham sua missão (12 e). Juntamente com isso, o bispo "nem sempre encontra apoio humano e espiritual" e "a experiência dolorosa de certa solidão não é incomum" (12 e).
Sobre a questão dos abusos, que "coloca muitos bispos na dificuldade de conciliar o papel de pai e o de juiz" (12 i), sugere-se "considerar a possibilidade de confiar a tarefa judicial a outro órgão, a ser especificado canonicamente" (12 i).
Em seguida, pede-se uma "abordagem sinodal" para a formação, recomendando, antes de tudo, "aprofundar o tema da educação afetiva e sexual, acompanhar os jovens em seu caminho de crescimento e apoiar o amadurecimento afetivo daqueles que são chamados ao celibato e à castidade consagrada" (14 g). Pede-se que aprofunde o diálogo com as ciências humanas (14 h) de modo a desenvolver "questões que são controversas até mesmo dentro da Igreja" (15 b).
Ou seja, questões "relacionadas à identidade de gênero e à orientação sexual, ao fim da vida, a situações matrimoniais difíceis e a problemas éticos relacionados à inteligência artificial". Para a Igreja, essas "colocam questões novas" (15 g). "É importante dedicar o tempo necessário para essa reflexão e investir nela as melhores energias, sem ceder a julgamentos simplificadores que ferem as pessoas e o Corpo da Igreja", lembrando que "muitas indicações já são oferecidas pelo Magistério e estão esperando para serem traduzidas em iniciativas pastorais apropriadas".
Com a mesma preocupação, o convite é renovado para uma escuta "autêntica" das "pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas da Igreja, por causa de sua situação conjugal, identidade e sexualidade" e que "pedem para serem ouvidas e acompanhadas, e que sua dignidade seja defendida". Seu desejo é "voltar para 'casa'", na Igreja, e "ser ouvido e respeitado, sem medo de se sentir julgado", afirma a Assembleia, reafirmando que "os cristãos não podem deixar de respeitar a dignidade de qualquer pessoa" (16 h).
À luz das experiências relatadas na assembleia por alguns membros do Sínodo da África, o SECAM (Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar) é incentivado a promover "um discernimento teológico e pastoral" sobre a questão da poligamia e "o acompanhamento de pessoas em uniões poligâmicas que estão chegando à fé" (16 q)
Por fim, o Relatório de Síntese fala sobre o ambiente digital. O incentivo é para "alcançar a cultura atual em todos os espaços onde as pessoas buscam significado e amor, incluindo seus celulares e tablets" (17 c), tendo em mente que a Internet "também pode causar danos e lesões, por exemplo, por meio de bullying, desinformação, exploração sexual e dependência". É urgente, portanto, "refletir sobre como a comunidade cristã pode apoiar as famílias para garantir que o espaço on-line não seja apenas seguro, mas também espiritualmente vivificante" (17 f).
O Papa Francisco "ficou profundamente entristecido ao saber da terrível perda de vidas resultante do tiroteio em massa em Lewiston", nos Estados Unidos, afirmou o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, ao assinar um telegrama de pesar enviado neste sábado (28) ao bispo de Portland, dom Robert Deeley. Francisco expressou "proximidade espiritual a todos que sofrem com essa tragédia indescritível, especialmente as famílias que perderam seus entes queridos".
Pelos menos 18 pessoas foram assassinadas e 13 ficaram feridas na última quarta-feira (25) em Lewiston, no Maine, num tiroteio em massa a um restaurante e a um boliche da cidade. Elas foram vítimas de Robert Card, suspeito de 40 anos, que foi encontrado morto nesta sexta-feira (27), segundo afirmam as autoridades. As polícias locais e federais montaram uma força-tarefa para encontrá-lo, enquanto os moradores locais se sentiam ameaçados pelo fugitivo.
No telegrama de pesar, então, o Papa Francisco "confia as almas dos mortos à misericórdia amorosa de Deus Todo-Poderoso e reza pela cura dos feridos e da equipe médica que os atende. Ele também elogia os nobres esforços dos socorristas que se colocaram em perigo para proteger a comunidade". O Pontífice, citando a Carta de São Paulo aos Romanos, expressa sua "firme confiança de que, com a ajuda da graça de Deus", se possa "vencer o mal com o bem".
- Papa: a esperança do meio ambiente pode vir das crianças que ensinam adultos
É necessário acelerar a mudança de rumo "em favor de uma cultura do cuidado" com o meio ambiente que também veja as crianças sensibilizando os adultos, comenta o Papa Francisco em prefácio de livro infantil que aborda o tema da ecologia e a importância de cuidar do planeta e da criação. A obra em italiano "A Encíclica das Crianças. Reeducar o mundo dos adultos" (Ed. San Paolo), do Padre Enzo Fortunato e Aldo Cagnoli, será apresentado neste domingo (29) em Roma.
Francisco inicia o prefácio com uma espécie de linha do tempo que orienta as atuações da comunidade internacional diante do cuidado da casa comum, a começar pela primeira grande Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em 1972. Em 2015, veio a Encíclica Laudato si' do Papa Francisco, e depois a Conferência do Clima de Paris. Mas, "infelizmente, as coisas não saíram como eu esperava, e isso continua a me preocupar", escreveu o Pontífice, que voltou ao assunto em 2020 com a publicação de Querida Amazonia: "sempre achei que a crise ecológica fosse o outro lado da crise social, cultural e espiritual da modernidade".
O fenômeno da mudança climática "nos lembra insistentemente de nossas responsabilidades" diante dos mais afetados, disse o Papa, os "pobres e mais frágeis, aqueles que menos contribuíram para a sua evolução. É, em primeiro lugar, uma questão de justiça e, depois, de solidariedade". E o mundo, continuou Francisco, sendo hoje muito interdependente, "não pode se dar ao luxo de ser dividido em blocos de países que promovem seus próprios interesses de forma isolada ou insustentável.
“Ecologia e a fraternidade seguem o mesmo caminho: se quisermos resolver efetivamente o problema do cuidado do nosso planeta, devemos primeiro fazer uma conversão do coração.”
O desafio, acrescentou o Pontífice, é "grande, urgente e belo", "exige uma dinâmica coesa e proativa. Um desafio 'grande' e exigente, porque requer uma mudança de rota, uma mudança decisiva no modelo atual de consumo e produção, muitas vezes impregnado na cultura da indiferença e do descarte, do descarte do meio ambiente e do descarte das pessoas". É necessário acelerar essa mudança, afirmou ele, "em favor de uma cultura do cuidado" e com a ajuda das crianças, fazendo uma "passagem simbólica dos adultos para as crianças":
“Somente essa inversão de paradigma, com as crianças ensinando e sensibilizando os adultos, pode trazer esperança real de mudança. As crianças guardam um senso de beleza que ainda está intacto. Deixemos que elas falem conosco. [...] Queridas crianças, abraço vocês, e saibam que o seu Papa e 'vovô' fará de tudo para que vocês possam viver num mundo belo e bom.”
No livro, dedicado às crianças, a primeira parte fala aos adultos através de quatro palavras-chave - herdar, conectar, compartilhar e doar. O objetivo é sensibilizar os adultos, explicando a importância de educar as crianças para que cuidem e respeitem o planeta. A segunda parte, as palavras para os pequenos, se dirige diretamente a eles através de uma história ilustrada de conversão, dividida em quatro capítulos, que ensina como a natureza é um bem precioso para todos e que o amor e o perdão são mais fortes do que o ódio e a vingança.
Fonte: Vatican News